Você já ouviu falar sobre o estoicismo? E sobre Marco Aurélio? Nos primórdios da Era Cristã, foi este o imperador romano que conduziu Roma a um de seus períodos mais gloriosos. E, além de ter sido um grande estadista e governante, foi também um dos mais renomados filósofos da Antiguidade greco-romana.
Embora não tenha publicado nenhuma de suas obras em vida, Marco Aurélio deixou para a posteridade uma série de reflexões escritas para si próprio que, compiladas por um de seus discípulos, são atualmente conhecidas como as suas Meditações.
Antes de falar mais sobre Marco Aurélio, falemos sobre a corrente filosófica por ele seguida: o Estoicismo, uma das principais filosofias criadas na era helenística.
O mais interessante do Estoicismo é que, embora tenha nascido na cidade de Atenas cerca de três séculos antes de Cristo, ele continuou a ser estudado e praticado durante muitos períodos distintos, uma vez que as ideias que o acompanham possuem utilidade prática até os dias de hoje.
Para os estoicos, a receita para uma boa vida concentra-se em três temas principais:
Uma boa vida, para eles, não depende de circunstâncias externas, mas da sabedoria e da paz interior que advém desta. Isso faz com que sejam indiferentes aos altos e baixos da fortuna — pobreza, sucesso, rivalidade –, considerando tais coisas menos importantes do que a força de caráter. Para os estoicos, mais dinheiro, mais amigos, uma melhor reputação e coisas desse tipo não nos tornam mais felizes.
Originalmente, o estoicismo teve três grandes líderes: Epicteto, Marco Aurélio e Sêneca. No entanto, muitas pessoas ao longo da história procuraram colocar os ensinamentos destes em prática, incluindo empreendedores, atletas, artistas, presidentes e monarcas.
Continue conosco e se deixe mergulhar nos ensinamentos desses três homens notáveis.
Se você estiver pronto para aprender a melhor maneira de renunciar às coisas que se encontram fora de seu controle e de encontrar sua felicidade dentro de si mesmo, sugerimos que tente colocar as ideias do imperador filósofo em sua vida cotidiana.
Os estoicos jamais foram favoráveis à pobreza voluntária. Eles estavam conscientes de que os bens materiais podem nos oferecer determinados benefícios, ou a oportunidade de exercer um maior controle sobre o nosso ambiente, e que podemos usá-los para o bem e para o mal.
Para sermos felizes, nós não precisamos nos privar de nossos bens materiais. Nós só não podemos depender deles. Nas Meditações, Marco Aurélio cita o exemplo de seu pai adotivo, o imperador romano Antonino Pio, que o antecedeu, elogiando amplamente a capacidade que este demonstrava de “utilizar os bens para a comodidade da vida, e que a sorte lhe proporcionara copiosamente, sem vaidade e ao mesmo tempo sem pretextos, de modo que, quando os tinha, os fruía sem requintes e, quando carecia, passava sem eles”.
Siga esse exemplo. Enquanto puder dispor, de forma sábia, de seus bens materiais, aproveite-os; e, se for privado deles, não os lamente em excesso.
Para os estoicos, as emoções não são boas nem más: elas são naturais.
Assim sendo, devemos aceitar nossos pensamentos e sentimentos automáticos, uma vez que eles estão fora de nosso controle direto, e acolhê-los em vez de negá-los ou de suprimi-los.
O que importa é o que acontece depois, isto é, a maneira como reagimos frente às nossas reações emocionais iniciais — como as perpetuamos, amplificamos ou questionamos. O ideal é que respondamos a elas de maneira racional e inteligente.
Você não precisa, e nem deve, ser insensível. Basta substituir as emoções pouco saudáveis, tais como a cólera e a ganância, por emoções mais saudáveis.
Adapte a sua fala às necessidades de seus ouvintes. Se coloque no lugar deles, seja empático, seja compassivo. Mas, ao mesmo tempo, seja sincero. Não use uma retórica floreada feita na medida certa para despertar a emoção das pessoas e persuadi-las a fazer o que você deseja.
Para Marco Aurélio, a fala perfeita é aquela na qual nós nos concentramos exclusivamente nos fatos. Diz ter aprendido com Rústico, um de seus tutores, “a abstenção da retórica e do preciosismo”.
A fala perfeita breve, clara é verossímil; é aquela na qual nos concentramos nos fatos.
Siga para isso o exemplo do orador romano Cícero, grande entusiasta do estoicismo: “É preferível deixar de lado não apenas o que atrapalha, mas também aquilo que em nada ajuda, mesmo que não atrapalhe”.
Para os estoicos, os nossos desejos podem se tornar excessivos, racionais e doentios.
Deveríamos, portanto, cortar todos os nossos prazeres? É evidente que não. O prazer, a sabedoria, a razão e a felicidade são perfeitamente conciliáveis, contanto que dominemos o primeiro.
Ou, como colocou Sêneca em seu tratado sobre a virtude e a felicidade, “as ocasionais alegrias do corpo devem ter para nós o mesmo valor que as tropas auxiliares: servir, e não comandar“.
A resposta a esse dilema é o autoconhecimento, que nos auxilia a detectar nossos desejos em seus estados iniciais, para podermos abandoná-los se forem doentios ou destrutivos.
“Avalie o prazer antes de aceitá-lo”, dizia Sêneca. “Não o acolha para simples deleite. Ao contrário, fique feliz em poder fazer uso dele com moderação“.
Isso é fácil? Não. Mas nossos desejos, embora poderosos, não passam de hábitos. E sempre podemos treinar para ter hábitos melhores.
Para o grande estoico Epicteto, “apenas depois de aceitarmos esta regra fundamental e termos a capacidade de distinguir entre aquilo que podemos e aquilo que não podemos controlar é que a serenidade interior e a eficácia exterior tornam-se possíveis”.
As coisas externas a nós — como, por exemplo, os sentimentos de uma determinada pessoa, o nosso tipo físico e a família na qual nascemos, entre outras coisas — não dependem de nós. Se tentarmos controlar ou mudar o que não podemos, sentiremos aflição e angústia.
Você não tem como evitar coisas inevitáveis, como a morte, certas doenças e os infortúnios. Use a grande máxima dos estoicos: “Se os seus problemas têm solução, por que te queixas? Se os seus problemas não têm solução, para que te queixas?”
As coisas não ocorrem para atender às nossas expectativas. Elas ocorrem do jeito que devem ocorrer. E as pessoas não são como desejamos que sejam, nem o que parecem ser. Elas são aquilo que são.
Você não pode escolher as circunstâncias externas de sua vida, mas pode escolher a maneira como reage a elas. Seja inteligente em sua escolha.
A ansiedade e a preocupação estão associadas a pensamentos catastróficos, e nos fazem exagerar no que se refere às consequências das coisas. Frente a elas, subestimamos inclusive a nossa capacidade de lidar com os problemas.
O estoicismo nos ensina a adiar as nossas preocupações — a dar um passo para trás, e esperar até que possamos pensar com mais clareza. Quando começar a se preocupar, prometa a si mesmo que pensará sobre isso mais tarde, quando estiver mais calmo e puder raciocinar melhor.
Quando projetamos esperanças e temores no futuro, estamos sendo insensatos e desperdiçando o nosso tempo. A melhor preparação para o futuro consiste em formar bons hábitos pessoais.
De resto, entregue-se a este momento. Como diria Epicteto, “mostre-se sensível a esta pessoa, a este desafio, a esta tarefa”.
O estoicismo não nos aconselha a adotar uma mentalidade fatalista nem passiva. Os estoicos se comprometiam a agir à serviço de seus princípios e valores fundamentais, como Marco Aurélio, que protegeu as fronteiras romanas dos germanos e dos partas.
No que se refere à atitude, o imperador romano nos deixou uma lição fundamental: faça o seu melhor, mas não se apegue aos resultados.
Isso nos estimula a reconciliar os nossos compromissos relacionados à uma determinada ação com a aceitação emocional, a fim de que não sintamos demasiada frustração caso encontremos obstáculos ou falhemos.
“Mantenha o rumo com bom ou mau tempo”, escreveu Epicteto. “Seja o que for que aconteça ao seu redor, faça o melhor que estiver ao seu alcance e aceite o resto como vier”.
Quando falhamos, devemos superar o fracasso através da indiferença. Mas, até aí, temos que dar o nosso melhor. Valorize os seus esforços, mas certifique-se de que o valor que atribui a atingir o alvo não seja grande o suficiente para devastá-lo caso não consiga fazê-lo.
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