Este é o segundo texto de uma série sobre os grandes escritores brasileiros e internacionais da história. Se você tiver sugestões de autores, deixa na sessão de comentários.
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Francis Scott Fitzgerald retratou a frivolidade dos ricos americanos dos anos 20 e 30 com a mesma graça e talento com que Balzac mostrou o mundo da plutocracia francesa na primeira metade do século 19.
Fitzgerald foi tão grande como escritor que, mesmo sendo alpinista social, jamais conseguiu fingir em seus romances que o círculo ao qual ansiava por pertencer era decente, honesto, límpido. Também nisso se igualou a Balzac.
O Grande Gatsby, de 1925, é a obra magna de Fitzgerald. Gatsby é um misto de vigarista e sonhador que vai atrás da paixão de sua juventude, Daisy.
Daisy não se casou com ele porque ele era pobre. Gatsby faz fortuna vendendo bebida na época da Lei Seca – como o patriarca da família Kennedy, aliás – apenas para conquistar Daisy.
Daisy – egoísta, dissimulada, interesseira, vazia – é, no romance, o símbolo supremo da riqueza e dos ricos. Gatsby acaba sozinho e destruído ao entrar num mundo que não era o seu. O único que permanece ao seu lado é Nick, o narrador, um alterego do próprio Fitzgerald.
É um romance cultuado. O escritor Hunter Thompson datilografou-o integralmente apenas para ter a sensação de escrever um livro notável. Fitzgerald morreu cedo, aos 44 anos, em 1940. Seu coração não aguentou uma vida absolutamente desregrada, repleta de bebida e de cigarro.
Também contribuiu para sua exaustão física e mental o casamento tumultuado com Zelda, desequilibrada mentalmente.
A história com Zelda é a base de outro grande romance seu, Suave é a Noite, que recomendo fortamente também. Zelda acabaria num manicômio. Fitzgerald, em seus últimos anos, viveu com uma colunista social.
Fitzgerald foi o maior escritor americano do século passado, ao lado de Hemingway. Conviveram muito. Numa das passagens mais divertidas da amizade entre os dois, foram ao Louvre por sugestão de Hemingway.
Fitzgerald estava em dúvida sobre a qualidade do tamanho de seu pênis, e Hemingway sugeriu que ele o comparasse com os pênis das estátuas do Louvre.
Gatsby, com todos os seus anos de existência, tem vigor juvenil: sua história continua a fascinar, a comover. Faz rir, faz sonhar e faz chorar.
Assisti, há pouco tempo, uma montagem de Suave é a Noite no Wilton’s Music Hall – um teatro alternativo e interessantíssimo de Londres, perto das Docas e longe do tradicional West End, onde passam os musicais – que arrebatou os londrinos.
A plateia é convidada a se vestir como nos anos 1920, no auge do charleston. Muitos aceitam o convite. No intervalo, dois atores se fazem de repórter e fotógrafo ao estilo de um século atrás e entrevistam a audiência como se fossem jornalistas atrás de celebridades nas míticas festas dadas por Gatsby em sua mansão no seu esforço de reconquistar Daisy.
Fui com minha mulher. Ela tirou uma foto da dupla com seu iPhone. Eles perguntaram: “O que é isso?” Ela respondeu: “Uma câmera”.
O fotógrafo – um ator gordo, jovem, alto, camisa fora da calça como é tão comum nas redações – riu. Gargalhou. “Hahaha. Câmera é isso!” E mostrou a sua, uma relíquia da era de Gatsby.
Em seu túmulo, está escrita a frase épica que dá fim a O Grande Gatsby: “E assim vamos todos, braços remando contra a correnteza, empurrados incessantemente rumo ao passado.” Se não fossem todas as outras virtudes, apenas por este final todo mundo deveria ler O Grande Gatsby.
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