Acho que todo cara devia fazer um teste com a mulher antes de iniciar qualquer coisa mais séria com ela: o teste do bom humor. Devia pedir a ela para dizer algo engraçado. Se ela for bem na prova, é o caso de seguir em frente. Se não, e lembrando uma das frases mais marcantes de Sêneca, convém parar: é mais fácil não iniciar do que terminar.
Não peço a patente de originalidade no teste de humor. Na verdade, li há algum tempo numa revista estrangeira que uma empresa considerada inovadora na gestão o praticava como rotina na hora de recrutar. Se o cara fazia rir o entrevistador, boas chances. Caso contrário, as alternativas eram se esforçar para ser mais bem humorado e tentar de novo mais adiante ou então bater em outra porta.
UM CASO DE AMOR SEM RISADAS ESTÁ MORTO
A lógica inatacável é que é mais fácil conviver com gente que sabe rir e fazer rir. Num ambiente de trabalho em que as pessoas riem, o rendimento tende a ser melhor. O trabalho com prazer e humor é mais produtivo. Tudo isso estava escrito na revista que mencionei. E tudo isso, com as devidas adaptações, se aplica a uma relação amorosa.
Um caso de amor sem risadas constantes está tecnicamente morto. Não há orgasmos múltiplos que salvem um casal que deixou de rir. O bom humor precede o sexo como termômetro de um relacionamento. Quando e se o sexo arrefece, pode acreditar: as risadas arrefeceram antes.
A RISADA EMBELEZA, A CARRANCA ENFEIA
Rir é uma demonstração sublime, superior de sabedoria amorosa. No amor, o humor tem uma virtude lateral mas relevante: o riso torna a pessoa mais bonita e mais atraente. A carranca enfeia.
Uma mulher sistematicamente feroz como um cossaco russo é uma mulher para ficar longe. Mesmo que seja linda e excepcionalmente dotada na arte do sexo. A beleza passa e o êxtase proporcionado por um grande momento sexual se mede em minutos, segundos até. Mas o mau humor de quem não sabe rir é duradouro.
E então me atiro a mais uma de minhas digressões. A humanidade está destinada a, basicamente, escolher entre Heráclito e Demócrito. Primeiro Sêneca e depois Montaigne usaram Heráclito e Demócrito na defesa do humor. (Todos esses nomes estranhos são de filósofos.)
Diante da condição humana, diante de tantos obstáculos que são postos diuturnamente perante nós, Heráclito chorava. Demócrito ria. Sêneca e Montaigne diziam que basicamente eram aquelas as opções que a humanidade tinha: rir como Demócrito ou chorar como Heráclito. E ficavam com o riso de Demócrito.
Naqueles repetidos momentos em que me sinto empurrado para a melancolia ou para o mau humor, tento me lembrar da escolha talvez única colocada à frente de nós. Rir ou chorar. Quando sou dobrado, vencido pelo mau humor, sei que não sou sábio. Rir é melhor. Rir é mais saudável, ainda que mais difícil tantas vezes. Por isso imito a empresa que fazia o teste do humor e recomendo a todo homem que peça à mulher que conte uma piada antes de começar o namoro.