Desenvolvimento Pessoal

O que os guerreiros espartanos podem nos ensinar

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Você certamente já ouviu falar sobre Esparta e sobre os espartanos, não é mesmo?

Esparta, a cidade-Estado grega que dominou o sul do Peloponeso e que floresceu como rival da democrática Atenas, era essencialmente militarizada e pregava um estilo de vida austero e disciplinado.

Hoje, a nossa intenção aqui é compilar uma série de ensinamentos que alguns dos principais representantes desse povo notável, cujas atitudes em diversos episódios históricos – entre os quais a batalha de Termópilas, retratada no filme “300” – demonstram valores que todos nós nos beneficiaremos ao acrescentarmos às nossas vidas.

Comecemos com alguns deles.

1# BREVIDADE E CONCISÃO

Tanto na vida privada quando na vida pública, a brevidade e a concisão consistem em duas das mais importantes qualidades. E elas podem ser alcançadas quando nos atemos ao que há de essencial, tanto em nossas falas quanto em nossos discursos.

O notável orador romano Cícero dizia que, em um discurso, muitas vezes é melhor abandonar não apenas o que atrapalha, mas também o que em nada ajuda, mesmo que não chegue a atrapalhar.

George Plimpton, fundador e editor da revista literária americana “The Paris Review”, disse certa vez:

“É válido mencionar que o discurso inaugural mais curto da história dos Estados Unidos foi o de George Washington, que continha meras 135 palavras. O mais longo foi de William Henry Harrison, em 1851. Seu discurso durou duas horas, e mais de nove mil palavras foram pronunciadas por ele numa noite impiedosamente fria. No dia seguinte, foi acometido por um forte resfriado; e morreu de pneumonia dentro de um mês”.

Também os espartanos prezavam enormemente a concisão, e uma das melhores histórias que conhecemos sobre o assunto, narrada por Plutarco e posteriormente citada por Montaigne de maneira frequente, diz respeito a Cleômenes, meio-irmão do célebre Leônidas.

Certa vez, os embaixadores da ilha grega de Samos foram vê-lo, tendo preparado uma longa oração no intuito de incitá-lo à guerra contra Polícrates, o seu governante. Após ouvi-los discursar por horas, Cleômenes disse: “Quanto ao início de seu discurso, não me lembro mais dele, nem, por conseguinte, do meio; e, quanto à conclusão, esta simplesmente não me interessa”.

Ainda nessa linha, temos um episódio referente à Ágis, outro entre os reis espartanos. Em uma determinada ocasião, um embaixador chegou de Perinto a Esparta e lá fez um discurso longo e entediante. Ao terminá-lo, perguntou a Ágis qual o relato que deveria dar ao povo de Corinto.

“O que poderia dizer?”, perguntou este, “a não ser que o senhor não conseguiu fechar a sua boca, e que eu não consegui abrir a minha?”.

2# CORAGEM

A batalha de Termópilas, travada entre o Império Persa, liderado por Xerxes, o rei dos persas, e os Estados aliados gregos, liderados por Leônidas, o rei de Esparta, pertence à categoria de eventos que inspiraram a imaginação europeia por séculos, e que de história se transformaram quase que em lendas.

Todos conhecemos a história de Leônidas e de seus heróicos companheiros espartanos, que enfrentaram o Império Persa, ao alvorecer da era Clássica grega, em uma batalha na qual, nas palavras de Plutarco, “uma reduzida, para não dizer suicida, força espartana foi enviada para a morte”.

O contexto era a expansão do Império Persa pelo Mediterrâneo, e uma invasão iminente por parte destes, que contavam com cerca de duzentos mil homens posicionados em mais de mil barcos.

Do outro lado, tínhamos os gregos. Por diversos motivos, entre os quais os Jogos Olímpicos e um festival dedicado ao deus Apolo, as forças gregas encontravam-se impossibilitadas de se movimentar. Portanto, coube ao rei de Esparta agir, contando meramente com a companhia de 300 guerreiros espartanos e de um pequeno número de guerreiros aliados em sua empreitada contra os persas.

Somente dois destes 300 homens sobreviveram – mas, referindo-se aos demais, o historiador grego Simonides disse: “Ainda que mortos, eles jamais morrerão”.

Desde a mais tenra infância, a coragem, a audácia e a resiliência eram qualidades fortemente incutidas nos espartanos. Dizia-se que os espartanos jamais perguntavam.

E, em diversos episódios, tais como aquele no qual aconselhou seus guerreiros a desfrutar de seu desjejum como se estivessem destinados a jantar no inferno, Leônidas demonstrou uma dose excepcional de bravura. E tudo isso obedecendo a um dos principais preceitos seguidos pelos reis espartanos: é imprescindível que aqueles que sobre muitos reinam com muitos batalhem.

“Os espartanos jamais perguntam quantos são os inimigos”, dizia o rei Ágis, um dos soberanos espartanos, “mas onde estes se encontram”.

3# CARÁTER

A simples frase pronunciada por Leônidas (ou por um de seus soldados, pois a procedência da mesma não é totalmente certa) no momento em que lhe disseram que as flechas dos arqueiros persas tornaria impossível enxergar o sol, isto é, “melhor assim, combateremos à sombra”, é um dos mais perfeitos exemplos históricos de honra e de força de caráter.

Mas o que, exatamente, é caráter?

Caráter não é algo fácil de se definir, mas, segundo os antigos samurais, este consistiria em uma conduta de vida moralmente correta até mesmo durante os tempos mais difíceis. Como muitos diriam, é fácil ser uma boa pessoa quando estamos sob circunstâncias favoráveis, mas o que fazemos ao nos confrontarmos com situações de risco ou aflitivas?

O caráter é mais um hábito do que uma virtude estática, e os espartanos o exibiam com uma frequência aterradora.

Um dos episódios que melhor ilustram isso consiste naquele no qual o rei Agesilau, ao cruzar o Helesponto com seu exército, não fez qualquer exigência aos monarcas dos locais nos quais passava, mas enviou uma comitiva a cada um deles com a tarefa de perguntar se ele e seus homens se deparariam com amigabilidade ou com hostilidade. Quando estavam prestes a passar pela Macedônia, o rei enviou a comitiva à nação em questão; e, quando o governante da Macedônia lhe disse que pensaria a respeito, respondeu: “Deixe que pense o quanto quiser, então, mas nós continuaremos a marchar”.

Agesilau – que dizia com frequência que escolhia cuidadosamente as lutas nas quais tomava parte porque, para um guerreiro, é melhor preservar a própria liberdade do que privar os demais da liberdade deles – é, inclusive, um dos maiores exemplos de honradez a serem encontrados na história antiga.

Conta-se que, quando a morte o encontrou, no caminho de volta para Esparta depois de uma expedição ao Egito, disse àqueles que acompanhavam-no que não deveriam ser pintadas nem esculpidas quaisquer representações imitativas de sua pessoa.

“Se eu tiver realizado atos de justiça”, disse ele, “estes serão o meu memorial; e, se tiver sido um mau governante, então nem todas as estátuas do mundo me seriam úteis”.

O próprio Leônidas, sobre quem falamos anteriormente, também deu um extraordinário exemplo de força de caráter quando recusou a oferta de Xerxes, que lhe dera a oportunidade de exercer domínio sobre toda a Grécia caso passasse para o seu lado.

“Se você conhecesse as coisas nobres desse mundo, compreenderia que, para mim, morrer pela Grécia é uma perspectiva melhor do que a de dominar a minha própria raça”, replicou Leônidas. E, quando Xerxes ordenou-lhe então que rendesse as suas armas, ele completou: “Venha você buscá-las”.

4# IGUALDADE

Os espartanos defendiam a igualdade entre as pessoas, tanto em termos sócio-econômicos quanto em termos sexuais.

Comecemos com o primeiro. Tendo sempre advogado pela simplicidade e pela modéstia, os espartanos – que desprezavam violentamente qualquer forma de ostentação – acreditavam que, ainda que tenhamos muitos bens, é necessário que vivamos modestamente.

Alcamenes, um dos reis de Esparta, costumava dizer: “Vivo com simplicidade a despeito de me encontrar no topo da hierarquia porque é necessário que aqueles que muito possuem vivam de acordo com a razão, e não de acordo com os seus desejos”.

Os mesmos princípios estavam presentes na vida de Agesilau, sobre quem falamos numerosas vezes. Segundo ele, a um comandante cabe ser superior a seus comandados não em questão de opulência, mas de resistência e coragem.

Falemos agora sobre as questões ligadas à gênero.

Os espartanos destinavam aos homens e às mulheres uma educação semelhante, voltada à resistência física, à inteligência táctica e às noções de honra e de coragem.

Esta igualdade foram instituída pelo legislador Licurgo – e, quando lhe perguntavam o motivo pelo qual determinara que também as mulheres recebessem severo treinamento militar, dizia: “Para que, se necessário, tenham a chance e a capacidade de lutar para proteger a si mesmas, aos seus filhos e à sua pátria”.

“Coloco ênfase no treinamento militar feminino”, dizia Licurgo, “para que as mulheres, seguindo as mesmas práticas dos homens, não sejam inferiores a estes nem em força física, nem em saúde, e nem em qualidades e aspirações mentais”.

5# SAGACIDADE E SENSO DE HUMOR

Além de todas as qualidades acima mencionadas, os espartanos eram famosos no restante da Grécia pela sua astúcia e pelo seu invejável senso de humor.

Falemos primeiramente da astúcia. Para os espartanos, a força não era tudo. Eles estavam cientes do fato de que nem todas as coisas podem ser conquistadas através dela, e que as coisas que somos incapazes de conquistar utilizando o espírito do leão podem por vezes ser alcançadas a partir do uso do espírito da raposa.

Um exemplo disso é uma das ações do rei Agesilau.

Em certa campanha, o monarca espartano notou que seus homens estavam desestimulados, posto que o exército inimigo era mais numeroso do que o seu.

Naquele tempo, era costume que sacrifícios fossem oferecidos aos deuses antes de uma batalha, e o rei recebia das mãos de um sacerdote o fígado de um animal. E Agesilau, que conhecia os costumes, fez o seguinte: escreveu em sua própria mão a palavra VITÓRIA ao contrário. Ao receber o fígado, segurou-o fortemente com a mão na qual estivera escrevendo. Deixou-o lá por um bom tempo, até que a marca das letras ficou impressa no fígado. E então exibiu-o aos soldados, declarando que os deuses haviam lhes prometido o sucesso. Todos ficaram extasiados, e a guerra foi ganha.

No que se refere ao senso de humor, podemos usar como exemplo dois grandes almirantes espartanos, Calicrátidas e Lisandro.

Conta-se que, certa vez, enquanto Lisandro consultava um oráculo, o sacerdote perguntou-lhe quais foram os atos mais ímpios que cometera em sua vida.

“Devo revelá-los a pedido dos deuses ou a seu pedido?”, perguntou-lhe Lisandro.

E, quando o sacerdote declarou que deveria fazê-lo a pedido dos deuses, Lisandro sorriu-lhe e replicou: “Então saia da minha frente, meu caro, e eu responderei aos deuses caso os mesmos me questionem”.

Quanto a Calicrátidas, houve uma ocasião na qual lhe ofereceram uma larga quantia de dinheiro para que fizesse vista grossa a um assassinato. Ele recusou a oferta.

Um dos membros do Conselho, Cleandro, censurou-o: “Eu teria aceitado esta oportunidade, se fosse você”

“Também eu a teria aceitado, se fosse você”, respondeu.

Clap. Clap. Clap.

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Camila Nogueira Nardelli

Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.

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