Uma pesquisa de Harvard de 2016 trouxe à tona um aspecto fascinante da psicologia humana: a preferência que temos por pessoas percebidas como “naturais”, em detrimento dos “esforçados”, ao avaliar o desempenho e sucesso. O estudo em questão não apenas desafia a noção tradicional de que o esforço é o caminho do sucesso, mas também destaca toda a importância da maneira como nos apresentamos aos outros.
Comecemos com os resultados da pesquisa em si: dois psicólogos sociais de Harvard apresentaram a 103 participantes a descrição de dois pianistas clássicos. Um, aparentemente, fora “hábil desde sempre”, e o outro “trabalhara duro a fim de se consolidar em um grande pianista”.
Os participantes escutaram, então, um áudio atribuído a cada um dos dois e tiveram que avaliar qual, em sua opinião, era mais talentoso. Na realidade, os áudios eram do mesmo pianista, tocando a mesma composição.
Embora, anteriormente, os participantes tenham dito que julgavam o esforço mais importante do que o talento, não foi o que os resultados mostraram. A ampla maioria demonstrou, ao escutar os áudios, preferência pelo pianista “prodígio” que “fora talentoso desde a mais tenra infância”.
Isso demonstrou que, embora a nossa cultura afirme o quanto o esforço e a garra são poderosos, e que conscientemente talvez acreditemos nisso, a nossa mente inconsciente na realidade atribui mais valor às pessoas percebidas como muito talentosas sem esforço aparente, e as classificamos acima dos “esforçados”, que claramente demonstram seu empenho.
Essas descobertas têm implicações significativas no mundo profissional e para as nossas vidas pessoais. A maneira como um indivíduo se apresenta em um determinado de trabalho pode influenciar a percepção dos demais a respeito de seu potencial.
A autoapresentação desempenha um papel crucial na formação da primeira impressão. Este estudo destaca como uma apresentação eficaz, que transmite habilidade natural, daquele tipo que vem sem esforços muito grandiosos, é capaz de impactar positivamente a percepção dos outros.
Existem várias estratégias que podem ser utilizadas para melhorar a autoapresentação. Isso inclui a comunicação não verbal, como linguagem corporal e expressões faciais, bem como a habilidade de contar a própria história de maneira convincente.
O estudo de Harvard aponta para o paradoxo do esforço: em muitos casos, quanto mais alguém parece se esforçar, menos capaz essa pessoa é percebida. Isso desafia a noção convencional de que o esforço é sempre positivamente correlacionado com o sucesso, a realização e o reconheciomento.
Este fenômeno pode ter implicações profundas em diferentes ambientes, como o local de trabalho ou aplicativos de relacionamentos, onde a maneira como uma pessoa se apresenta pode influenciar a visão dos demais a seu respeito. Além disso, o estudo abre espaço para um debate mais amplo sobre como as normas culturais e as expectativas sociais moldam nossa compreensão de competência e sucesso, e como isso pode afetar a autoestima e a motivação das pessoas.
Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.
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