O texto em homenagem ao meia Gareth Bale – ex-jogador do Tottenham e recém-contratado do Real Madrid depois de uma longa novela pelo maior valor da história do futebol – não visa discutir as cifras exorbitantes envolvidas na negociação.
Sim, elas foram exageradas e fica difícil discutir se esse valor é justo. Mas digo isso não por se tratar de Bale – esse valor é um absurdo sob qualquer circunstância, uma vez que se analisa, por exemplo, a situação econômica de países como a própria Espanha do Real Madrid. Qualquer jogador que custasse esse preço seria um exagero.
Comparar o valor de Bale ao que custou Maradona, quando foi ao Barcelona, por exemplo, não leva a nada. Eram tempos diferentes, o futebol envolvia menos dinheiro, os clubes ainda tinham receitas menores que hoje… enfim. Todos os valores eram diferentes, do preço do ingresso ao salário dos jogadores.
A tendência, como mostra a história recente das transferências no mundo do futebol, é que os preços aumentem cada vez mais. Veja o caso do Real Madrid, por exemplo: assinou com Luis Figo, em 2000, como o jogador mais caro da época; no ano seguinte, fechou com Zinedine Zidane por valores maiores; e, anos depois, em 2009, fechou com Kaká por um valor maior do que o que foi pago a Zidane e no mesmo ano trouxe Cristiano Ronaldo pelo maior valor da história, que só foi ultrapassado agora com a mais nova aquisição do clube.
Discutir títulos é irrelevante. Títulos são vencidos por equipes. O valor de jogadores são definidos por suas qualidades individuais – fosse o contrário, já seria o suficiente para discutirmos o valor de Cristiano Ronaldo, que valeu mais e ganhou menos do que Zidane, por exemplo.
Subestimar Bale, na minha opinião, só pode ser por desconhecimento em relação ao futebol do meio-campista, ou dor de cotovelo por ter saído mais caro do que Neymar, resultado da famosa arrogância brasileira quando se trata de futebol – Neymar ainda não tinha conquistado espaço na Europa como Bale conquistou no Tottenham, e por isso movimentou menos dinheiro.
Se o caso for desconhecimento, vamos rapidamente falar sobre Gareth Bale.
O galês de 24 anos começou a jogar futebol em sua cidade natal, Cardiff. Seu talento era tão grande, que o treinador da escola criou regras que valiam só para ele: em campo, devia se resumir a dois toques na bola cada vez que a recebesse e apenas com seu pé mais fraco, o direito. Talvez isso tenha ajudado a criar o monstro que Bale é.
Depois de se destacar pelo Southampton, Bale foi vendido ao Tottenham Hotspurs. Logo em sua primeira temporada (quando ainda jogava como lateral-esquerdo), em 2007, o jovem Bale fez sucesso ao conseguir, em 4 partidas que começou como titular, marcar 3 gols (um deles no derby do norte de Londres, contra o Arsenal). Duas contusões seguidas por boas apresentações do lateral Assou Ekotto fizeram com que Bale ficasse no banco até a temporada 2009-2010.
Nela, que marcou a volta do Tottenham entre os grandes clubes da Premier League, Bale anotou o gol na vitória do jogo em que ocorria a disputa direta entre o Manchester City e seu clube rumo à classificação da Champions League, além de marcar gols importantes contra os rivais Arsenal e o então campeão Chelsea. As boas atuações fizeram com que o clube renovasse seu contrato por mais quatro anos, aumentando sua multa recisória.
A temporada seguinte foi sensacional, tanto para os fãs do Tottenham quanto para Bale. Ao pegar a Inter de Milão, então campeã da Champions League, nas oitavas de final do torneio, Bale conseguiu um hat-trick no San Siro e infernizou o lado direito da defesa interista no jogo de volta, sendo escolhido como o homem do jogo ao dar duas assistências na vitória e classificação da equipe londrina. Os torcedores dos Spurs chegaram a fazer piada, cantando para que Maicon pegasse um Taxi tentando alcançar Bale. No fim do ano, Bale foi escolhido pelos jogadores da Premier League como o melhor do torneio. Em 2012, fez parte da seleção do time daquela edição da Uefa Champions Legue. As atuações de destaque fizeram com que a diretoria do Tottenham renovasse seu contrato por mais quatro anos, e Bale já era visto internacionalmente como um dos melhores jogadores da Europa, junto com Messi, Cristiano Ronaldo, Rooney e Ibrahimovich, entre outros.
As especulações de transferências para times como Manchester United e Barcelona começaram a ser fortes, mas o Real Madrid parecia ser seu destino. Ainda assim, Bale jogou mais uma temporada pelo time do norte de Londres, e não foi qualquer uma: Bale nunca marcou tantos gols – 21 em 33 partidas, só na Premier League. A dependência do time em relação ao meia era gigantesca, marcando diversas vezes o gol da vitória em partidas importantes.
Mais uma vez escolhido como o melhor jogador da Premier League, era vez de Bale alçar vôos maiores. Agora, o meio-campista é o jogador mais caro da história, o mais novo galáctico do Real Madrid e o primeiro galês da história do clube espanhol.
É só uma pena que o jogador não irá exibir seu talento em campos brasileiros em 2014, já que sua seleção tem chances mínimas de classificação para a Copa. Mesmo sabendo das poucas ambições da seleção galesa, Bale não parece se importar – convidado a defender a Inglaterra, preferiu continuar com o País de Gales, lugar onde cresceu e teve as oportunidades de iniciar a carreira no futebol.
Essa homenagem poderia ter vindo durante a temporada 2010/11, quando o jogador estorou. Mas o site nem existia nessa altura. A transferência para o clube madrilenho era o gancho que precisávamos. Portanto, independentemente do valor exagerado ou não, um prêmio a Bale por ser fiel a suas origens e por seu talento inquestionável com a bola. O Hombre da Semana.
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