As incríveis aventuras marítimas da família Schurmann

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Lá se foram 30 anos, muitas histórias e quilômetros percorridos pelo mundo. A família Schurmann celebrou em abril o aniversário de três décadas de dedicação ao esporte, muita coragem e realizações de sonhos.

Foi exatamente no dia 14 de abril de 1984 que Vilfredo e Heloísa Schurmann partiram de Florianópolis, em Santa Catarina, com os filhos Wilhelm, David e Pierre – na época, aos 7, 10 e 15 anos, respectivamente – com o objetivo de realizar um sonho: dar a volta ao mundo a bordo de um veleiro.

Deixaram para trás, casa, carro, trabalho, escola e o conforto da vida em terra firme. A viagem que inicialmente duraria dois anos se estendeu para dez! Foi duro, árduo, mas muito gratificante. Os Schurmann entraram para a história como a primeira família brasileira a completar a volta ao mundo a bordo de um veleiro.

Os Schurmann já cruzaram os 3 oceanos e 7 continentes do planeta em suas aventuras pelos mares que começaram em 1984. Tomaram tanto gosto pela água salgada e pela vida ao redor do mundo que nem pensam em parar. Eles já estão arquitetando sua terceira volta ao mundo num veleiro. A partida está marcada para 21 de setembro, a bordo do veleiro Kat, em homenagem à filha adotiva de sorriso eterno que não resistiu ao vírus HIV.

São tantas e tantas histórias, todas com um toque especial, com paisagens diferentes, lindas, estranhas. Vilfredo, o mentor da turma, conversou com o El Hombre e contou um pouquinho desta gigantesca epopeia.

Trinta anos de história pelos mares. Já deu para contar quantos quilômetros foram percorridos por este mundo?

Conhecemos mais de 40 países. Velejamos cerca de 100 mil milhas nas duas voltas ao mundo.

Quais os países e locais mais bonitos que passaram?

Polinésia Francesa, pela beleza das paisagens e pelo povo hospitaleiro e lindos mares azuis para navegar.

Qual a viagem mais perigosa e difícil nestes 30 anos?

Partimos de Opua, na Nova Zelândia, com ventos favoráveis, apesar da previsão de ventos fortes para mais adiante na nossa rota. No final do segundo dia de viagem, o vento virou tempestade. Havíamos recebido a previsão via rádio amador e nos preparamos para ela. Mas nada que já não tivéssemos experimentado antes. O pior era o frio cortante de -5º C. Outro aviso nos comunicou que a tormenta iria piorar e que na Ilha Sul, os carneiros estavam congelando nos pastos.

Dureza, hein?

Pois é. Na madrugada do terceiro dia no mar, a situação tornou-se ainda mais complicada. O vento soprava a 111 km/h e as ondas chegavam a 10 metros de altura. Não dava nem para ficar de pé dentro do barco

E então, como as coisas se desenrolaram?

No leme, eu lutava contra a tempestade e contra o frio. Às 5h da manhã, liguei o radar, ajustei o piloto automático e desci para descansar. De repente, um barulho seco. Ficamos imóveis, tentando identificar o que poderia ter se soltado do convés. A seguir, ouvimos um estrondo horrível, como uma explosão e o barco parou como tivesse freado. Peguei a lanterna e saí, mas o facho de luz não encontrou nada para iluminar: o barco estava sem os mastros e sem as velas!

Desesperador…

Esse é o maior pesadelo de qualquer velejador. Sem os mastros nem as velas, um veleiro fica sem defesa alguma no oceano, como uma casquinha de noz, incapacitada e sem equilíbrio para evitar um capotamento. Horrorizado, vi que os mastros ainda estavam pendurados para fora do barco e, a cada onda, batiam com toda a força contra o casco.

Como foi criar filhos e família nestas viagens?

Depois de uma extensa pesquisa, encontramos o método de educação por correspondência em uma escola americana com mais de 100 anos de experiência. Como professora, Heloisa aliou a didática à disciplina e criou uma rotina para as aulas e, com dedicação, obtivemos excelentes resultados. Um dos desafios era desenvolver temas para que eles escrevessem cerca de 20 redações por mês e motivá-los a realizar dezenas de trabalhos de pesquisas em todas as matérias.

O resultado deste sistema foi bom?

Para Heloísa, foi uma experiência incrível dar aula para poucos alunos. Na primeira viagem, três meninos e, na segunda, a nossa filha Kat. O aproveitamento e o aprendizado se tornaram personalizados e os resultados foram excelentes. No estudo à distância, a maior lição foi a disciplina e o respeito mútuo.

Qual foi o fato mais inusitado que encontraram nas viagens ao redor do mundo?

Dinheiro de pedra no arquipélago de Yap. Os nativos usam um curioso e tradicional sistema financeiro próprio, por meio de enormes moedas feitas de pedras, de diferentes tamanhos, como moeda para transações comerciais entre si.

Qual o próximo desafio da família e quais pontos visitarão?

No dia 21 de setembro deste ano, embarcaremos em nosso novo veleiro e zarparemos para a nossa terceira grande aventura por mares e oceanos do planeta: a Expedição Oriente. Dessa vez, seguiremos a rota dos chineses que, de acordo com polêmicas teorias, foram os primeiros a contornar o globo. Nosso novo projeto envolve inovação, tecnologia e sustentabilidade.

Como seus filhos estão se preparando para a viagem?

Pierre e David (líder da tripulação de terra) estarão em alguns trechos da aventura e Wilhelm será o imediato do capitão e estará a bordo por toda a Expedição. A nossa caçula Kat estará simbolicamente presente ao inspirar o nome do novo veleiro e, pela primeira vez, nossa tripulação ganha um representante da terceira geração Schurmann: Emmanuel (filho de Pierre e neto de Heloisa e Vilfredo).

Quanto tempo levou o planejamento?

Depois de cinco anos de planejamento, estruturando o plano e buscando investidores para um projeto ousado, conquistamos o apoio fundamental dos patrocinadores Estácio, HDI Seguros e Solví. Agora, estamos dedicados às últimas etapas da construção do veleiro Kat, que desbravará águas nacionais e internacionais durante dois anos ininterruptos.

Kat Schurmann, a inspiração da família
Diego Marques

Diego Marques é formado em Rádio & TV pela FAAP; fez um curso de televisão na National Film and Television School, em Londres; e estudou cinema na New York Film Academy.

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