A única coisa mais surpreendente do que os 19 bilhões de dólares pagos pelo Facebook para adquirir o WhatssApp é a trajetória de um de seus fundadores, o ucraniano Jan Koum.
Aos 37 anos, Koum fez questão de assinar o acordo que o deixou bilionário (6,8 bilhões de dólares correspondem à parte que lhe cabe) num edifício abandonado, ao lado de uma ferrovia, onde, num passado não muito remoto, coletava seus “food stamps”, uma espécie de bolsa-comida dos EUA para famílias pobres.
O empreendedor do mundo digital não gosta de ser chamado de empreendedor — há dois anos, avisou que a próxima pessoa que o chamasse assim tomaria um murro na cara. “Sério”, acrescentou.
Teve a ideia de criar o aplicativo em 2009, depois que sua academia proibiu o uso de celulares. Ficou irritado com as ligações perdidas e resolveu inventar uma solução. Seu sócio era o amigo Brian Acton. Ambos, ironicamente, não haviam passado numa entrevista de emprego no Facebook. Os dois acordaram que o futuro era o iPhone, como “uma extensão do que você é”.
Também decidiram que sua invenção não teria publicidade, algo que Koum odeia. “Quando você recebe uma mensagem de alguém que ama, de sua família ou de seu melhor amigo, você quer ser capaz de responder imediatamente, sem ser incomodado com propaganda”.
O WhatssApp e seus criadores sempre foram considerados uma exceção no Vale do Silício e num mundo de showmen corporativos. O aplicativo, de certa maneira, reflete isso. É simples, funcional e eficiente. Em 2013, uma média de 10 bilhões de mensagens foram trocadas por dia. O número de usuários é de 400 milhões.
Não têm o status de celebridade de, por exemplo, Mark Zuckerberg. Mas a vida de Koum daria, provavelmente, um filme melhor.
Ele nasceu num vilarejo perto de Kiev, filho único de uma dona de casa e um mestre de obras. Sua casa não tinha água quente e seus pais evitavam se comunicar pelo telefone por medo de grampos do governo, segundo um ótimo perfil na revista Forbes.
Aos 12 anos, ele e a mãe imigraram para Moutain View, na Califórnia, por causa do ambiente cada vez mais antissemita. Com ajuda do governo americano, foram viver num apartamento de dois quartos. Ela virou babysitter e Koum faxineiro de uma mercearia.
A mãe morreu de câncer em 2000. O pai já havia falecido. Em 1997, conheceu Acton no Yahoo, onde ficou uma década. Nos primeiros anos com Acton no WhatssApp, não ganharam um centavo. Koum pensou em desistir e arrumar um emprego. “Você seria um idiota de largar tudo agora”, disse o sócio. “Dê mais alguns meses”. Batata.
Um jornalista do El País visitou a companhia em 2012. Koum estava descalço e Acton calçava sandálias de tiras. Pouco se sabe da vida privada deles. São assumidamente tímidos e dão raras entrevistas.
A fachada da WhatssApp não tem logomarca — e, no que depender de Jan Koum, continuará assim. “Não vejo motivo para ter uma placa. Serve apenas para alimentar o ego”, disse ele à Forbes. “Nós todos sabemos onde trabalhamos.”
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