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“Quando um filme dá certo é realmente um milagre”

TORONTO – Keira Knightley é, sem dúvida, uma das estrelas de cinema mais educadas, agradáveis ​​e bem-comportadas que você pode encontrar. Ela está casada desde maio com o tecladista James Righton da banda Klaxons, parece estar mais feliz do que nunca e quer evitar papéis sombrios no momento.

“Nos últimos cinco anos eu fiz filmes em que algo de ruim acontece para os meus personagens”, diz Kinightley no auge dos seus 28 anos. “Eu queria desesperadamente fazer algo positivo com um final feliz desta vez.”

Knightley será vista no thriller de espionagem Operação Sombra – Jack Ryan, que estreia hoje, dia 7 de fevereiro, no Brasil. O longa é dirigido por Kenneth Branagh e estrelado por Chris Pine como Ryan, um papel que já foi interpretado por Harrison Ford e Ben Affleck. No filme Keira faz o papel da esposa de Ryan, Cathy. A produção é baseada nos livros de espionagem de Tom Clancy. Sem mais delongas, vamos à entrevista.

Keira, você está feliz por ter mudado de tipo de personagens que interpreta?

Eu precisava de uma mudança de ritmo. Cheguei ao final de Anna Karenina e percebi que os trabalhos que fazia muitas vezes minhas personagens ficavam atormentadas ou morriam no final. Eu queria que este ano fosse o ano de positividade e do puro entretenimento. Então eu fiz um filme chamado Uma Canção Pode Salvar Sua Vida?, que é sobre amizade e o processo de fazer um álbum de música. Jack Ryan é realmente um filme old school de Hollywood e é o tipo de filme que é puro entretenimento. Há muitas armas e explosões. Nós filmamos (Jack Ryan) em Londres, que era muito mais fácil para mim. (NE – Keira nasceu na Inglaterra.)

Você gosta de filmes de ação e suspense?

Eu gosto. Eu não tenho feito muitos desses filmes, com excepção de Domino e Piratas do Caribe, que na verdade são filmes fantasiosos. Eu gosto da fantasia como uma ferramenta dramática, porque exige que você saia de seu caminho normal de olhar o mundo. Você precisa usar a sua imaginação para colocar-se na cabeça de alguém que vive em uma época anterior e eu amo ser capaz de fazer isso. É por isso que eu adoro filmes de época. Eu me identifico com os personagens. Adoro explorar o passado.

Kenneth Branagh dirigiu o filme Jack Ryan. Como foi trabalhar com ele?

Ken foi a principal razão para eu ter ficado atraída pelo projeto. Eu estava ansiosa para trabalhar com ele. Ele também interpreta o vilão no filme, então foi interessante ver alguém que ao mesmo tempo atua e dirigi. Foi incrivelmente fascinante vê-lo mudar de um “emprego” para o outro e fazer isso sem dificuldade. Não é uma coisa fácil, ser capaz entrar em seu personagem quando você também tem que estar preocupado com ângulos de câmera. Ele foi incrível.

Em maio você fará um ano de casada. Isso mudou alguma coisa em relação ao seu trabalho?

Primeiro você se torna bem sucedida e aí você quer aproveitar todas as oportunidades possíveis. E, de repente, você percebe que perdeu o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho – é muito trabalho e pouca vida pessoal. Então houve um ponto em que pensei: “Eu quero corrigir isso. Eu quero passar mais tempo com as pessoas que eu amo”. Agora eu estou tentando reajustar a minha vida, tentando encontrar o equilíbrio entre essas duas partes de minha vida e isso definitivamente significa que você não pode pisar fundo no acelerador. Mas eu realmente amo filmes e eu realmente quero fazer excelentes longas.

Você vai diminuir sua carga de trabalho em comparação com os anos anteriores?

Eu já comecei a fazer isso. Eu tinha o hábito de trabalhar praticamente sem parar por um período de cinco ou seis anos e isso começou a me desgastar. Eu não quero viver mais assim. Agora eu prefiro fazer dois filmes por ano, embora isso dependa das oportunidades que aparecem. Eu tenho a tendência de ficar inquieta se eu não tenho trabalho suficiente para me manter ocupada. É claro que eu amo atuar. Então eu não quero ter muito tempo entre os filmes.

Você gostaria de fazer mais teatro também no futuro?

Eu espero que sim, em algum momento no futuro. Gosto de teatro e do fato de que você tem mais controle sobre o seu desempenho e pode consertar as coisas no palco. Cinema depende muito de um bom diretor. Você dá o seu desempenho e, em seguida, o filme fica fora de suas mãos durante a edição. Você pode fazer o máximo, pensar que ficou boa a cena, mas você terá feito pelo menos sete ou oito takes com diferentes interpretações e mais de quatro ou cinco em diferentes ângulos. Uma vez que o filme vai parar na sala de edição, você perde o controle. Se você está alinhado com o diretor, o resultado é algo que esperava, mas pode sair de uma maneira que não te agrade tanto. Na verdade, quando um filme dá certo é realmente um milagre da porra. Os filmes são um jogo de adivinhação – a audiência sempre lá. Então você só imagina se vai funcionar e espera que tudo dê certo.

Tendo em conta que você cresceu em uma família teatral, atuar era seu destino?

Acho que sim. Eu atuo desde que tenho 6 anos e sabia, desde essa idade, que era isso o que eu queria fazer na vida. Fui criada nesse mundo – o meu pai era um ator e minha mãe era atriz e escritora. Você não pode fugir desse ambiente criativo. Me lembro quando eu fazia o meu dever de casa nos bastidores enquanto meu pai estava ensaiava para uma peça no teatro. Eu me sentia maravilhada por estar lá e poder presenciar aquilo tudo.

Já aconteceu de você se apegar tanto a um personagem a ponto de não conseguir deixar que ele não faça mais parte da sua vida depois do termino de um dia de filmagem?

Sim. O pior foi quando eu estava interpretando Anna Karenina. Havia muitos dias em que me sentia com raiva e irritada por causa dos meus sentimentos em relação à ela. Eu sempre “levava” ela para casa comigo e isso foi desgastante. Muitas vezes eu me vi de muito mau-humor. Alguns dias eu provavelmente não era uma pessoa muito bacana, enquanto estava filmando esse filme. Esse foi um daqueles papéis que eu fiquei super feliz de ter feito, mas só depois que acabou.

Tem sido difícil para você ao longo dos anos para lidar com sua fama e sucesso?

Eu nunca dei muita atenção à fama porque é algo além de seu controle. Eu vivo uma vida muito simples e eu não faço qualquer coisa para atrair atenção para a minha vida privada. Eu tenho muita sorte que os meus pais me deram uma boa base e apoio ao longo dos anos. Eles sempre me deixaram fazer minhas próprias decisões, assim eu entendi a responsabilidade que vem com isso. Eu nunca acho que alguma coisa é garantida no meu trabalho.

É fácil ser Keira Knightley, apesar da atenção da mídia?

Eu não tenho muita escolha, não é? (risos) Eu tenho uma vida muito boa e eu tenho sido extraordinariamente sortuda de ser capaz de fazer um trabalho interessante que me proporciona viagens e explorar diferentes lugares e culturas no mundo.

Harold Von Kursk
Harold Von Kursk
Alemão, naturalizado canadense, Harold tem 55 anos e é, além de jornalista, diretor de cinema. Em mais de 20 anos, entrevistou atores e cineastas para a mídia americana e europeia.