Há alguns anos, Sylvester Stallone reencarnou seus dois personagens mais famosos do cinema, também dirigindo as produções. Em 2006, Rocky Balboa, personagem iniciado em 1976, voltou às telonas após um hiato de 16 anos. Já em 2008, foi a vez de John Rambo, personagem originado em 1982, voltar após 20 anos de ausência.
Pois o musculoso sessentão tomou gosto por essa brincadeira de voltar às origens e, ainda no mesmo ano, começou a busca pelo elenco de seu novo projeto com alma de anos 80.
A cada nome cogitado ou confirmado no elenco de Os Mercenários (The Expendables), os fãs dos filmes de ação vibravam. Foi se formado um exército de astros do gênero, composto principalmente por alguns que se consolidaram 30 anos atrás. Era uma verdadeira nostalgia cheia de testosterona.
O grupo de anti-heróis foi formado por Stallone, o musculoso Terry Crews, o recente ícone de ação Jason Statham e atores famosos por suas habilidades em lutas, como Jet Li, o ainda pouco experiente no cinema Randy Couture, o respeitado Mickey Rourke e Dolph Lundgren, outro astro do gênero nos anos 80, imortalizado como o Ivan Draco de Rocky IV (1985).
Além de uma cena contando também com Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger junto com o protagonista, reunindo, assim, talvez os três maiores nomes do gênero na década de referência. Contabilizando todos, um time que já havia matado mais duas mil pessoas em diversos filmes.
Com uma ação praticamente descerebrada, o objetivo da produção era atrair o público por meio do farto elenco explodindo coisas, jogando facas e atirando num exército latino. E atraiu, arrecadando mais de 270 milhões de dólares nas bilheterias do mundo.
Em 2012 Os Mercenários 2 (The Expendables 2) pegou a maior parte do grupo original, juntou-os a ninguém menos que Chuck Norris e trouxe Jean-Claude Van Damme como o vilão chamado Villain. Aumentou as doses de humor, principalmente com bordões clássicos e piadas autorreferenciais às imagens dos astros, como a inteligência de Lundgren e toda a mítica por trás de Norris. E, assim, fizeram da continuação uma experiência mais divertida e mais lucrativa.
Agora, em Os Mercenários 3 (The Expendables 3), o time dos “mocinhos” tem a inclusão de Wesley Snipes, Antonio Banderas e Harrison Ford. Já o vilão Stonebanks é encarnado por Mel Gibson. Além também de uma nova geração de mercenários tentando provar seu valor no time.
O filme traz as principais qualidades e os principais defeitos da franquia. O elenco de uma tonelada de músculos está lá, assim como as piadas internas, que só os verdadeiros fãs daqueles nomes irão entender.
Mas também não faltaram a confusão espacial nas cenas de ação, a falta de lógica e a aparente imortalidade dos heróis. Confesso que, durante o clímax, eu pedi, “parem de chegar mais soldados, por favor, vocês não são um desafio de verdade, é só mais dinheiro jogado fora e mais tempo esperando isso acabar!” O próprio Stonebanks tira sarro da incompetência de seus comandados.
Aliás, o vilão vivido por Mel Gibson é, provavelmente, o personagem mais interessante da série. Um antagonista questionador, provocador e minimamente inteligente.
Por falar nas qualidades, o terceiro filme, ajudado por Stonebanks, mostra-se como o mais inteligente da franquia, apontando levemente as incoerências do protagonista e até apostando em uma sequência que usa muito mais a estratégia dos que explosões e tiros para se chegar em seu objetivo. Também pode-se dizer que é o filme da franquia com mais coração, ao colocar em cheque a permanência da experiente equipe.
Claro que essas qualidades não sobrevivem ao clímax interminável, ilógico, com uma geografia incompreensível e com mais personagens do que o recomendável. E claro que ser o capítulo mais inteligente e profundo da série não era lá muito difícil. Ainda assim, o filme cumpre o que promete.
A produção não vem repetindo o sucesso comercial dos outros dois, mas dificilmente isso significará o fim da franquia. Vários nomes já são cogitados para um quarto filme, como Pierce Brosnan, Robert de Niro, Steven Seagal, Jackie Chan, Dwayne Johnson e Hulk Hogan. Além da versão feminina da série, ExpendaBelles, que pode contar com mulheres como Sigourney Weaver, Gina Carano, Meryl Streep, Cameron Diaz ou Milla Jovovich.
Honestamente, qualquer filme da série, se fosse estrelado por um elenco menos notável, provavelmente não faria muito sucesso, mesmo sabendo que a apreciada ação sem conteúdo e cheia de clichês está lá. Os filmes não são de todo ruim, mas o maior atrativo parece mesmo ser ficar esperando pelas confirmações de elenco e depois conferir como eles interagem um com o outro e tiram sarro de si próprios.
É difícil prever até quando essa nova brincadeira de Sly durará. Assim como a trilogia Doze Homens (Ocean’s Twelve) de Steven Soderbergh, o projeto parece ser uma grande reunião de amigos famosos se divertindo e que aproveitam para fazer um filme e divertir o público também.
Mas qual é o mal disso? E quem pode dizer que a brincadeira não deu certo? Afinal, há diversas opções no cinema para se ver tiros e explosões – mas um elenco desses não é para qualquer um.
Particularmente, só espero realmente poder conferir Jackie Chan e Steven Seagal dividindo a tela com Statham e companhia, antes da série morrer. Ou morrer talvez não seja a palavra certa. Afinal, daqui a duas décadas, Stallone pode resolver reencarnar o líder dos mercenários, já velhinho, ajudando os septuagenários Tom Cruise e Keanu Reeves a matar dezenas de soldados.
Pois é, eu com certeza veria esse filme.
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