A Saks é uma enorme, centenária e luxuosa loja de departamentos na Quinta Avenida, em Nova York, destino popular para quem está disposto a investir uma quantia generosa renovando o armário. A família real da Arábia Saudita, por exemplo, aproveita suas passagens pela cidade para fazer umas comprinhas por lá.
Foi neste ambiente, frequentado pela nobreza do Oriente Médio, atores blockbusters e altos executivos — além de milhares de turistas de todo o mundo, é claro — que João Freire, 24 anos, deslanchou no mundo da moda.
João é um dos consultores de imagem e cool hunters mais quentes da nova geração fashion brasileira. Seu trabalho, para resumir em poucas palavras, é estar sempre por dentro das tendências da moda e ajudar seus clientes a se vestirem melhor.
“Tudo aconteceu quando eu estava em Nova York”, João me disse, enquanto tomávamos um capuccino na Cristallo da Oscar Freire. “O boom da Saks, o boom do blog, o boom dos clientes.”
Formado em Relações Internacionais pela FAAP e especializado em moda pelo Fashion Institute of Technology de Nova York, João teve uma passagem na Saks como personal shopper que foi um divisor de águas em sua vida. Você quer dar um up no estilo, mas não sabe por onde começar? O personal shopper é um cara que te ajuda a desenvolver um guarda-roupas de acordo com sua necessidade, budget e perfil.
Foi uma tarefa que João desempenhou com muito sucesso na Saks e, rapidamente, os frutos vieram. Cada vez mais procurado pelos clientes, João decidiu lançar um blog de menswear para ampliar o alcance de suas dicas — e a recepção foi ótima. Ao mesmo tempo, seus looks no Instagram viralizaram como uma referência de bom gosto. Hoje tem mais de 28 mil seguidores.
Agora João está de volta ao Brasil. “Minha prioridade é desenvolver meu trabalho aqui, mas ainda divido o tempo entre São Paulo e Nova York”, diz ele, que no começo de setembro voltará aos EUA com vários alunos para um workshop intensivo durante a NYFW.
Quando encontrei com João, ele tinha acabado de sair da academia e usava uma regata H&M, jaqueta esportiva, boné e tênis. Tudo preto. “Já faz um tempo que o sportwear chegou às ruas. É prático e super trend. Jogger pants. Tênis da Nike. Da Adidas. Moletom. Eu uso bastante. Inclusive, olha só, acabei de passar na loja da Nike”, diz, mostrando uma sacola. “Sou bem consumista!”, me conta rindo. “Mas meu trabalho me leva a isso. As pessoas sempre esperam que você tenha novidades.”
João define seu próprio estilo como “contemporâneo, elegante e neutro”. Estampas não fazem parte de sua rotina. Em vez disso usa muito preto, branco, cinza e marinho. “Sou bem discreto e minimalista”, diz. “Realmente acredito que menos é mais, apesar de parecer clichê. Mas como trabalho com moda, também precisa inovar para gerar conteúdo. Aí invisto no sapato. Boto um colorido, estampado, que mistura materiais.”
Quando não é o sapato — seus modelos preferidos são o espadrille, o loafer e os sneakers — ele aposta numa jaqueta ou bolsa para ousar, sempre misturando fast fashion (especialmente H&M) e grifes de luxo. Suas preferidas? Club Monaco, Yves Saint Laurent e Gucci. Das nacionais gosta de Osklen, Ellus e Ricardo Almeida. “Na maioria dos eventos sociais uso alfaiataria Ricardo Almeida”, diz. “Veste muito bem.” Seu perfume é o Prada Infusion. No inverno, às vezes vai de Tom Ford Oud Wood.
No braço João tem quatro pulseiras que diz não tirar nunca. “A quinta, de olho grego, estourou.” Outro acessório indispensável para ele? O escapulário que ganhou da avó. “Me sinto desprotegido sem”, diz, depois de explicar que sua família, que mora em Santos, é bem religiosa.
Quando o assunto é grooming, João não gosta de exageros. Mas sempre que tira foto (“duas vezes por semana”) ou vai a algum evento (“tenho quase todo dia”) não dispensa corretivo e pó. “Teve uma época em Nova York que usei muito blush bronzeador também”, diz. “Fiquei 7 meses sem tomar sol no inverno. Eu passava o dia inteiro dentro da Saks, nem sol de neve pegava. Aí fiquei pálido. E não dava para tirar foto assim, né?”
Sua rotina? João diz que é imprevisível. Mas basicamente ele passa as manhãs no computador (“curadoria de conteúdo, postagem no blog, mídia social, follow up de clientes, preparação de material para cursos”) e as tardes na rua (“almoços, entrevistas, workshops, ensaios, styling”). Carro? João não dirige. Faz as coisas a pé em Higienópolis, onde mora, ou quando precisa ir a algum lugar mais distante usa o Uber. “É um hábito que peguei em Nova York”, conta.
João diz que sempre saiu bastante, mas com a correria dos últimos tempos, só consegue hoje ir para a balada uma vez por semana — de preferência BC, Lions ou Bar Número. Também gosta de sair para jantar, especialmente quando o destino é o Myk, o Aragon ou o Chez Oscar.
“No final, todo mundo quer estar na moda”, ele finaliza. “Mesmo quem tem um estilo mais desencanado, inconscientemente quer se identificar com pessoas assim.” Em sua essência, este é o trabalho de João Freire: não necessariamente ditar a seus clientes o que eles devem vestir, mas, sim, ajudá-los a encontrar o seu próprio estilo e a desenvolver todo o seu potencial.
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