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Mick Jagger está redefinindo a velhice

“Eu sou uma múmia, com todos os achaques das múmias”, dizia Nelson Rodrigues. No tempo de Nelson, e não faz tanto tempo assim, velhos eram velhos. Andavam de bengala, levavam o dinheiro em capangas e tinham cobertores nas pernas.

Mick Jagger acabou de fazer 70 anos. Corre o palco inteiro nos shows — e canta enquanto isso. Fez três shows de duas horas em uma semana em Londres.

Ele já declarou algumas vezes que não se imaginava tocando Satisfaction aos 45. “Que droga é envelhecer”, diz a letra de Mother’s Little Helper. Pertence a uma geração que via pessoas com mais de 30 com desconfiança e animosidade. Em My Generation, Roger Daltrey, do Who, cravou que preferia morrer antes de ficar velho. Há duas semanas, assisti ao Who com meu irmão Paulo, meu filho Davi e minha sobrinha Camila — e Daltrey, aos 69 anos, alcançou cada um dos agudos do disco Quadrophenia. Cada um. Girando o microfone, como de hábito.

Chico Buarque e Caetano Veloso continuam produzindo. Chico caminha no Rio de Janeiro, escreve seus livros e joga bola. Caetano tem uma coluna no Globo e fala. Ninguém menciona aposentadoria. Estão fortes e ativos. Aparentemente, aprenderam com os que tombaram em combate (e não foram poucos). Abusaram de um estilo de vida hedonista. Hoje se cuidam.

Jagger não fez plástica. Sua face tem a aparência do clássico maracujá de gaveta. Faz balé, ioga e meditação. Come de maneira espartana. Parou de fumar. Bebe vinho, mas pouco. Tem uma namorada algumas décadas mais nova. Deve  ter alguns apliques na cabeleira (Keith Richards esconde bem a careca no alto da cabeça).

Existe ali uma negação da velhice. Se você quiser ser maldoso, ele é um eterno adolescente. Mas por que isso seria ruim? Não é coerente com o que sua geração pregava nos anos 60? Ou eles deveriam se mudar para a Flórida e usar a grana em viagens de cruzeiro?

De antiexemplo, de adepto de um estilo de vida desregrado e autodestrutivo, Mick Jagger tornou-se o tiozinho sarado que você quer ser quando crescer. Sim, ele é favorecido pela genética e nem todo mundo chegará assim aos 60, 70 ou 80. Alguns não chegarão de jeito nenhum. Talvez parte do segredo seja, simplesmente, fazer o que se gosta. E tomar chá.

Jagger é a prova de que os 70 são os novos 17. Com um bom convênio médico, mas são.

Kiko Nogueira
Kiko Nogueira
Kiko Nogueira é editor do Diário do Centro do Mundo. Ele foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.