Se há uma palavra que tem estado na moda no esporte é “motivação”. Foi o que se comentou aos montes durante a Copa do Mundo. “Ah, como será que o Felipão está motivando os jogadores para enfrentar a pressão de uma Copa do Mundo em casa?”. “Vitória nos pênaltis dá motivação extra para o time seguir na competição”. “Agora sem o Neymar o time terá motivação extra para ganhar a Copa por ele”.
Essas foram frases e ideias que estiveram presentes em qualquer lugar onde o futebol era comentado. É algo que acabou sendo incorporado ao imaginário coletivo do brasileiro quando o assunto é esporte. “Fulano de tal precisa de motivação para jogar!”.
Por isso, ouvir um atleta dizer que não precisa de motivação de vestiário para entrar em quadra soa estranho aos nossos ouvidos. Mas é um ótimo sinal de que ainda existem atletas que vão ao jogo para resolver a partida sabendo que a maior motivação que podem ter é a de vestir as cores do Brasil em competições internacionais.
É o que ocorre com Tiago Splitter, pivô do San Antonio Spurs, e que na última temporada foi o primeiro brasileiro a conquistar o que todos os jogadores de basquete sonham: a NBA. Esse fato o coloca como o grande nome do Brasil que se prepara para a disputa do Mundial de Basquete que ocorre entre os dias 30 de agosto e 14 de setembro na Espanha.
O jogador conversou com a reportagem do El Hombre com exclusividade, num papo descontraído, e, claro, quisemos saber como ele se sente sendo o primeiro jogador brasileiro a conquistar a NBA e se o assédio dos fãs aumentou muito depois do título.
“É sempre bom ser campeão, ainda mais da NBA, porque sabemos da grande dificuldade que é ganhar esse título. Mas chego com confiança de estar bem e ajudar a seleção brasileira a ter um bom resultado. E é isso. No mais, o que acontece fora da quadra, não reflete muito o que vai trazer mesmo de resultado para a seleção brasileira”, diz o pivô.
Por outro lado, Tiago sabe que agora seu nome está em destaque na história do basquete nacional. Esse feito de ser campeão da NBA nunca antes ocorreu com outro jogador brasileiro. Fato que, aliado à sua juventude e a possibilidade de continuar conquistando grandes títulos (na NBA e na seleção), pode o projetar para a condição de maior ídolo do basquete nacional ao lado de Oscar Schmidt.
Como ele lida com essa possibilidade? Pensando no bem maior, que é o de ajudar na evolução do basquete brasileiro.
“Esse é o meu objetivo! Estamos indo para o Mundial e vamos brigar para ter um bom resultado na Espanha e seria ótimo conquistar uma medalha e dar um passo a mais na minha carreira, na evolução da seleção brasileira e no basquete brasileiro”.
A vitória coroou um trabalho que a equipe de San Antonio vem fazendo há muito tempo. Tanto que o título bateu no aro na temporada anterior. E a derrota fez com que a preparação de Tiago Splitter e da equipe tenha sido muito focada em reverter a situação.
E mesmo com feras como Tim Duncan, Manu Ginobili e Tony Parker, Splitter conta que participou de 59 jogos da temporada como titular. Até há uma disputa entre Splitter e Duncan que acabam jogando de maneiras parecidas. Mas essa disputa é bastante sadia a ponto de Splitter dizer que espera que o colega da camisa 21 não se aposente tão cedo e que continue bem fisicamente.
O jogador também carrega na bagagem a experiência de ter sido um dos destaques do Tau Ceramica – time da Liga Espanhola. E essa experiência em duas ligas tão diferentes tem tudo para continuar dando bons frutos com os jogos dele no Brasil.
Na NBA o jogo é mais acelerado e pegado fisicamente, e conta com jogadores maiores. Já na Espanha o jogo é mais cadenciado. E em um esporte tão dinâmico como o basquete, há que se fazer essa variação de jogadas muitas vezes durante uma partida.
O título do pivô na NBA pode também ser muito benéfico para o ambiente da seleção brasileira: “Posso trazer a mentalidade de jogar mais em coletivo que é o que já fazemos. Temos também jogadores que jogam em times de ponta. Então não tem jogador que vai parar a bola para resolver o jogo sozinho. E o (Rubén) Magnano não iria aceitar isso também”, comenta.
Inclusive, o trabalho de Rubén Magnano deve ser sempre destacado, porque foi graças ao técnico que o time do Brasil voltou a ser respeitado e a ter um padrão de jogo que deixou de lado a antiga dependência de jogadas individuais de alguns craques.
Quanto a isso Tiago diz: “Ele (Rubén Magnano) cobra muito dentro da quadra, mas conversa bastante com a gente, comenta as jogadas, dá toques. Se comunica muito bem com os jogadores. Nos passa muito da parte tática. Mas na preleção não tem essa dele ter que nos motivar, porque no nosso time todo mundo entra em quadra com sangue no olho!”.
Sobre jogar na liga nacional, a NBB, diz que no momento está focado na NBA, mas não descarta voltar ao Brasil que, segundo ele, está cada vez mais forte. E para Tiago, o que falta para o país ter mais projeção no basquete é a formação de mais atletas.
“É da quantidade que sai a qualidade. Precisamos ter mais basquete nas escolas e escolinhas. A estrutura existe, mas precisamos ter jogadores saindo da base. Os Estados Unidos não jogam melhor porque tem ginásio com ar condicionado e bom trabalho de musculação, por exemplo. É porque tem milhões de jogadores”.
O pivô ainda acredita que a sua vitória na NBA não necessariamente venha a representar mais motivação para que crianças e jovens queiram jogar basquete. “A motivação já existe, o que falta é ter local para elas treinarem e técnicos que ensinem do jeito certo. Estamos caminhando até, mas bem devagar”, diz Splitter.
Inevitavelmente, a Copa do Mundo também entrou na conversa. Por isso, quisemos saber se o jogador acha que essa situação, mostrando a vulnerabilidade do futebol, antes tido como esporte imbatível, promoverá mais atenção para que todo o esporte do país se estruture melhor com a intenção de obter melhores resultados não só na Copa, mas em Olimpíadas e em outros Mundiais.
“Com certeza! Espero que seja assim porque se o futebol está ruim imagina o resto. Se conseguirmos estruturar todo o esporte igualmente seria espetacular!”, diz Splitter.
Perguntado sobre a possível pressão e a expectativa que a torcida terá em ver bons resultados na Olimpíada em 2016, Tiago desconversa um pouco dizendo que o time está focado neste momento só no Mundial da Espanha.
Mas ele diz que os jogadores estão acostumados a isso e não podem se deixar levar pelo que acontece fora da quadra: “Será um time diferente, com mais experiência do que aquele da Olimpíada de 2012. Esperamos sim conquistar boas posições, ainda mais jogando em casa”.
Ao final da entrevista, Tiago Splitter deixa a impressão de ser merecidamente o grande nome do basquete brasileiro do momento. Vencedor, discreto, confiante, que joga pelo grupo, com potencial de ser o maior nome do esporte no país e que não precisa de motivação extra para jogar pela seleção. O ídolo que o esporte nacional precisa.
Agradecemos a atenção de Tiago Splitter, que nos atendeu quando saia da fisioterapia numa fria noite de sábado, e ao assessor de imprensa da CBB Juarez Araujo por nos colocar em contato com o atleta.
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