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Ninguém aguenta mais os pontos corridos

Chega ao fim mais um campeonato em que os torcedores são privados do que existe de mais eletrizante no futebol: o mata-mata.

A supressão dos jogos em que você ganha ou morre foi um ato de macaquice em relação aos campeonatos nacionais europeus, cada vez menos importantes em relação às copas continentais, nas quais os mata-matas são presença destacada e aguardada por representarem o melhor da festa.

O salto rumo ao passado no Campeonato Brasileiro se  deu em nome de uma constância que ignora várias coisas, do interesse do torcedor à possibilidade de ver os jogadores diante de uma situação extrema em que adultos se distinguem de meninos.

O desempenho em jogos decisivos permite a um treinador de seleção ver como os jogadores se comportam quando mentalmente exigidos mais que o habitual. Até nisso os mata-matas trazem vantagens consideráveis. Lamentavelmente, a CBF se dobrou à pressão da “mídia justa”, liderada intrepidamente por Juca Kfouri.

Foi uma besteira.

Não existe campeonato mais eletrizante que a NBA. A maior razão está nos playoffs, embora a temporada normal seja amplamente valorizada, até porque é ela que vai determinar a vantagem dos times finalistas.

A NBA encontrou uma maneira inteligente de conciliar o melhor de dois mundos. Recompensa a regularidade da primeira fase, e depois, para evitar que uma má jornada sacrifique todo um ano, estipula melhor de 7 na fase eliminatória. O jogo decisivo, caso haja, é na casa de quem fez melhor campanha.

O time mais regular tem todas as oportunidades de provar que merece ser campeão. Se não for, é porque não merecia. O Chicago de Michael Jordan uma vez virou uma série diante do Knicks de Patrick Ewing em que começou perdendo de 0 a 2 e na qual a vantagem era do adversário.

Já imaginou como seria interessante isso no Brasil?

Suponha Corinthians e Flamengo numa final. Ganha o primeiro que vencer quatro vezes. Ou três, se houver interesse em encurtar a decisão para uma melhor de 5. Seria incrível para o futebol, para o torcedor, para os times. Talvez só não fosse bom para a “mídia justa”, mas não raro o que é bom para ela é ruim para o mundo do futebol – a começar pelos torcedores.

Já que o Bom Senso FC iniciou uma cruzada para melhorar o futebol nacional, eles deveriam acrescentar esta bandeira à sua luta: o retorno do mata-mata para devolver emoção ao Brasileirão.

Paulo Nogueira
Paulo Nogueira
Paulo Nogueira (1956-2017) é o pai de Pedro Nogueira, editor-chefe do El Hombre. "Ele foi meu herói", diz Pedro. "E continua sendo." Ao longo da carreira, dirigiu várias revistas da Abril e da Globo. Também escreveu artigos para o El Hombre que, frequentemente, reeditamos e republicamos no site.