Estamos a um jogo de viver a maior zebra da história do futebol. Não é exagero cravar isso. Se o Leicester (pronuncia-se “léster”, ou “lestâ” na Inglaterra) bater o Manchester United esse domingo, em seu estádio, levantará a taça do Campeonato Inglês.
E quem pode ficar indiferente diante disso?
Se você respondeu “eu”, permita-me listar algumas realidades para dimensionar o tamanho desse iminente acontecimento.
No começo da atual temporada do futebol inglês, as casas de apostas estavam pagando 5000:1 para quem investisse no título do Leicester. Era simplesmente ridículo considerar essa possibilidade. Quer um termo de comparação? Em 2013 diziam que as chancecs de Bono Vox se tornar Papa era de 1000:1.
Na casa de apostas Ladbrokes, 47 pessoas apostaram na Raposa (certamente torcedores fanáticos). Dessas, 23 já retiraram a quantia que tinham direito e os outros 24 aguardam a confirmação do título para multiplicar seus investimentos por 5 mil.
Essa falta de crédito se justifica: o pequeno clube escapou milagrosamente de um rebaixamento no ano passado, conseguindo, sabe-se lá como, 7 vitórias nos últimos 9 jogos do campeonato. E não é que o time se reformulou inteiro para a temporada 2015/16 — foram apenas algumas contratações suspeitas, a começar pelo técnico.
O clube sempre foi insignificante para o futebol inglês.
O Leicester gastou pouco mais de £ 24 milhões para contratar os 11 jogadores que compõem o time titular. Muito dinheiro? Que nada! Para o futebol, ainda mais quando falamos de Premier League, esse valor é irrelevante.
Jamie Vardy e Riyad Mahrez, os dois maiores nomes do clube hoje, foram adquiridos por menos de £ 1 milhão cada — somados os dois não custaram mais de R$ 8 milhões.
Quer ter ideia do que isso significa no mundo da bola? O Manchester City desembolsou cerca de R$ 520 milhões nas contratações de Sterling e De Bruyne, nomes que talvez você nem conheça e que não conseguiram fazer seu time superar o da dupla Vardy/Mahrez.
Apesar disso, o Leicester foi comprado em 2010 pelo bilionário tailandês Vichai Srivaddhanaprabha, que, segundo a Forbes, é a 714ª pessoa mais rica do mundo.
Após o acesso do time à primeira divisão há dois anos, ele prometeu que investiria £ 180 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) no clube para que ele pudesse estar entre os cinco melhores da Inglaterra em 3 anos.
“Estou pedindo três anos, e nós estaremos lá. Não desafiaremos os cinco melhores times imediatamente. Nós temos uma chance de batê-los? Sim, temos, mas acredito que precisamos estabilizar a nossa presença na liga primeiro para depois pensarmos no próximo passo”
Isso foi o que ele disse em maio de 2014. Dá para acreditar? Só que, detalhe, esse dinheiro todo ainda não foi investido no futebol: as conquistas do Leicester estão acontecendo na raça.
Outra curiosidade é que Srivaddhanaprabha (não me pergunte como se pronuncia isso) ofereceu £ 100 mil (cerca de R$ 587 mil) para Claudio Ranieri, técnico do time, por cada posição que o Leicester terminar acima da zona de rebaixamento esse ano.
Preguiça de fazer conta? Vou quebrar essa então: se for campeão, com a promessa cumprida Ranieri faturará quase R$ 10 milhões extras.
Para muitos especialistas e apaixonados por futebol, a Premiere League é a maior liga nacional do mundo. Isso por vários fatores, a começar pelo prestígio midiático que ela tem. Para a próxima temporada, a Sky Sports e BT Sport pagarão pelos direitos de transmissão dos jogos mais de £ 5 bilhões. É dinheiro de se perder de vista.
Além disso, enquanto outras ligas são geralmente dominadas por um ou dois clubes, a inglesa é a mais disputada da Europa, contando com pelo menos 4 times de expressão. Há 20 anos que o título da Premiere League fica nas mãos de Man. United, Man. City, Chelsea e Arsenal.
Mas quem está no topo da tabela hoje? A Raposa, com 7 pontos de distância do segundo colocado, que também não é um dos 4 grandes, mas o pouco expressivo Tottenham. O clube de nome mais próximo do Leicester é o City, atualmente a 12 pontos abaixo na tabela.
Uma lavada!
Zebra é o que não falta no futebol. Podemos passar o dia inteiro citando casos. Cienciano campeão da Sulamericana; Santo André da Copa do Brasil; Grécia da Eurocopa; Once Caldas da Libertadores e por aí vai. Só que, repare, tudo competições de mata-mata, onde a zebra acontece com mais frequência.
Em um campeonato de pontos corridos é muito mais difícil acontecer essas situações porque o time precisa ter um futebol consistente para chegar no final da temporada com mais pontos, não pode depender de atuações pontuais.
Ainda assim, podemos mencionar zebras nesse tipo de competição também. O Redação SporTV fez uma boa lista recente: Deportivo La Coruña (2000, na Espanha); Boavista (2001, em Portugal); Bursaspor (2010, na Turquia); Sampdoria (1991, na Itália); Montpellier (2012, na França); Wolfsburg (2009, na Alemanha).
Mas, pelos fatores já listados acima, essas conquistas não se comparam à do Leicester — até pela folga com o que o time lidera o campeonato. É um passeio!
Portanto, senhores, não percam o jogo de domingo, que acontecerá às 9h30 no horário de Brasília. Estamos prestes a ver uma história que certamente ficará eternizada no futebol.
Com seu jogo rápido e raçudo, o Leicester está surpreendendo o mundo todo e, a não ser que algo mais assustador do que o fato do time liderar a Premiere League aconteça, conquistará o campeonato inglês.
Essa é para você nunca mais duvidar do futebol.
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