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Nos bastidores da Seleção Taitiana

A Copa das Confederações nem acabou ainda, mas uma certeza nós já temos mesmo antes da grande decisão entre Brasil e Espanha, no domingo: a Seleção do Taiti foi a sensação do campeonato e será lembrada tanto quanto o vencedor. A simpatia, ingenuidade e irreverência dos atletas foram marcas ímpares da peculiar seleção que contou com 22 jogadores amadores, dos 23 convocados para o torneio.

Os simpáticos “pernas de pau” da maior ilha da Polinésia Francesa foram acompanhados de perto pela repórter da TV Band Natalie Gedra, que viajou para Belo Horizonte e Rio de Janeiro atrás da pior seleção da história do torneio da Fifa. O Taiti sofreu nada menos que 10 gols da Espanha, oito do Uruguai e seis da Nigéria – marcou apenas um tento contra os africanos.

Conversamos com a Natalie Gedra para saber as curiosidades, bastidores e o que podemos tirar de lição da participação do Taiti na Copa das Confederações de 2013, no Brasil. Acompanhe, cowboys, aqui no El Hombre:

Qual foi a experiência e o que tirou de lição na cobertura da pior seleção da história da Copa das Confederações, a do Taiti?

Cobrir o Taiti na Copa das Confederações me fez expandir os horizontes. As pessoas reduzem o futebol a grandes times, cifras milionárias, astros mundiais… A essência do futebol não é essa. É ter paixão pelo que faz, é o bom espírito de competir, é torcer pelo que um time representa, e não pelo que ele joga. É mobilizar o torcedor, de uma forma ou de outra. Foi muito legal resgatar isso.

Qual peculiaridade te comoveu em cobrir o Taiti?

Eu confesso que estava um pouco receosa com a reação deles depois das goleadas que tomariam. Existe uma ingenuidade neles que me fazia questionar se eles realmente tinham assimilado que estariam em um grande torneio, com grandes seleções, e que tomariam uma surra. Fiquei com medo deles se sentirem expostos, humilhados, e só se darem conta disso aqui no Brasil, depois de cada goleada que sofressem. Mas a cada pós jogo, eles saíam verdadeiramente felizes. Continuavam sorrindo em campo, mesmo depois de tomar seis gols. Eles realmente se contentavam com o simples fato de estar aqui. Isso realmente me comoveu.

Ah, e o momento do gol foi incrível. Uma das coisas mais bacanas que eu pude presenciar nesses poucos anos de jornalismo. O Denílson estava do meu lado, comentando o jogo, e no momento do gol nós abrimos um sorriso gigante. Cara, foi uma vibração absurda. Já vi o Mineirão lotado em final de Libertadores, em outros grandes jogos, e nada se comparou a sensação de 20 mil pessoas comemorando um gol de honra numa goleada. Já esperava a simpatia dos brasileiros com o Taiti, mas não esperava que eles fossem abraçar a seleção deles desta forma.

Você foi fazer uma matéria especial no Taiti para a apresentação do futebol local. O futebol tem chances de crescer e estar presente agora em uma Copa do Mundo? E a beleza do local é realmente deslumbrante?

Eu acho que o futebol lá tem chances de crescer, claro. Mas dentro da proporção deles. Acho muito difícil que eles se tornem uma seleção competitiva tão cedo. Os próprios envolvidos com o futebol de lá – jogadores, dirigentes, treinador – admitem que a profissionalização do futebol lá é algo bem distante de acontecer. Deve demorar alguns anos para vermos o Taiti mais uma vez em um grande evento. Eles avançaram muito nos últimos três anos, especialmente em termos de mentalidade e estrutura.
Sobre o local, as praias são lindas sim. De uma beleza intocada. Os tons do mar são lindos, os bangalôs no meio da água… Mas passando uma semana lá fazendo matérias, tivemos a oportunidade de conhecer todo o Taiti – inclusive o que o turista não conhece. É um lugar muito pobre. Me chamou muita atenção as condições de moradia deles: casas realmente precárias, velhas, em péssimas condições. A mentalidade do taitiano também me surpreendeu: muitas vezes, eles estão mais preocupados em andar num carro 4×4 do que em morar numa casa bacana. Eles são muito despreocupados: se acaba o dinheiro, eles pescam um peixe, pegam um coco e vendem. É um estilo de vida bem provinciano.

Eles conquistaram o povo brasileiro pelas suas ações simpáticas, mas no dia a dia eles também eram calorosos? Qual atitude, nos bastidores, mais te chamou a atenção?

A maioria deles, na verdade, é muito tímida! Uns ou outros são mais desembaraçados, conseguem dar entrevista de forma mais natural. Mas o taitiano, de uma forma geral, demonstra ter um coração enorme. Acho que o torcedor brasileiro conseguiu captar isso bem… Eles são muito atenciosos, mas se assustavam às vezes com o assédio que eles nunca tiveram na vida! Até que aqui no Brasil eles estavam mais desenvoltos, mas quando estivemos lá, era só ligar a câmera para eles começarem a rir de vergonha, sabe?

No meio de toda essa timidez, o que mais me chamou atenção foi a forma como eles trataram 15 crianças da favela da Maré escolhidas para ganhar ingressos de Taiti x Espanha. Eles tomaram café com os jogadores e tocaram para eles na praia (eram de uma orquestra chamada “Maré do Amanhã”). Pareciam que os astros eram as crianças, e não eles: pediam o violino para tirar foto, puxavam papo com a garotada, com a ajuda do tradutor… Foi de uma simplicidade incrível. Muito bacana mesmo.

Você acompanhou os treinos dos jogadores do Taiti. Por ter visto outros treinos de times grandes e de seleções renomadas, os jogadores haitianos são de fato muito ruins e “pernas de pau”?

Eles não têm noções básicas de fundamento. Eles correm de forma errada, pecam no posicionamento, são limitados fisicamente, muitas vezes não conseguem sequer dominar uma bola.

Agora, como foi cobrir a Copa das Confederações? O que mais te marcou tanto positivamente como negativamente?

A cobertura foi incrível. Participei da transmissão de três jogos in loco e realmente é algo diferente. Você passou sua juventude ouvindo o nome do Buffon, e de repente ele está na sua frente. É muito bacana. E o evento em si foi fantástico: seleções de altíssimo nível participando, muitos dos melhores jogadores do mundo na sua frente. Uma oportunidade sensacional.

Qual fato mais inusitado e engraçado você presenciou na cobertura?

Engraçado é viajar com o Denilson, o cara é uma figura, risadas garantidas! Mas de inusitado, adorei a atitude do Taiti em distribuir colares antes dos jogos. No último dia de trabalho, o presidente da Federação Taitiana de Futebol me deu dois. Fiquei feliz pra caramba, estava louca para ter um daqueles!

Qual o jogador mais “mala” e o mais simpático?

Nosso contato com os jogadores eram realmente muito limitado: coletiva, zona mista, e olhe lá! O mais “mala” foi o Balotelli: passou direto na zona mista dando risada de todo mundo que gritava o nome dele pedindo uma entrevista. Um “mala” do bem, acho. É o jeito Balotelli, e gostamos dele por isso. O mais simpático com certeza foi o Buffon. Sempre muito solícito e sorridente com a imprensa, mesmo depois de tantos anos de carreira. Também destaco o Vicente del Bosque, uma figura naturalmente simpática.

O que sentiu da energia dos torcedores em cada cidade que passou? O clima já era de Copa do Mundo e dá para prever como será em 2014?

O que mais me surpreendeu nesse aspecto foi o sentimento de patriotismo do torcedor, inflamado pelo momento político que acabamos atravessando durante esta Copa das Confederações. Em todos os jogos que eu fiz — e olha que eu não estive em nenhum jogo da Seleção Brasileira — sempre, em algum momento, ouvíamos os gritos de “Brasil” na arquibancada. No Espanha x Taiti, a torcida até puxou o hino no meio do jogo. Foi bem bacana.

Ainda a um ano da Copa, a infraestrutura das cidades está de acordo para receber os visitantes e as delegações em 2014? O que destaca de bom e ruim?

Eu estive no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, duas cidades estruturadas, acostumadas a receber bastante gente. Realmente tivemos poucos problemas de infraestrutura. O trânsito, claro, pode melhorar, assim como a logística dos aeroportos. Acho que são os dois pontos mais críticos.

Os leitores do El Hombre devem se inspirar em qual jogador da Copa das Confederações para ser o olhado e querido por todas as mulheres? E por quê?

A educação e elegância dos europeus, o carisma dos taitianos e o astral sorridente dos mexicanos.

E, por fim, quem vencerá esta edição da Copa das Confederações?

Sinceramente, o Brasil está demonstrando muito mais vontade de vencer essa Copa das Confederações do que qualquer outra seleção. Antes do início do torneio, não acreditava muito… Mas hoje, realmente acho que vai dar Brasil.

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Natalie: “O taitiano, de uma forma geral, demonstra ter um coração enorme”
Felipe Piccoli
Felipe Piccoli
Felipe Piccoli é especializado em jornalismo esportivo desde 2008. Com passagens pela Rádio Bandeirantes e pelo jornal Marca Brasil, hoje ele é coordenador de reportagem da Band.