Importante, famoso, antigo e sempre polêmico. O Oscar talvez não seja o prêmio mais justo do mundo, mas se os estúdios gastam milhões em campanhas de marketing para conseguirem ao menos uma indicação, não há como negar sua importância. Gostando ou não, é o prêmio máximo da indústria cinematográfica. E, também, é sempre divertido.
É sempre divertido ver as surpresas que ele faz. As lembranças inesperadas, as esnobadas inexplicáveis, os recordes sendo batidos. Muita coisa ainda mudará até o dia 2 de março. Alguns favoritos podem deixar de sê-los, enquanto outros devem se reafirmar. Mas já dá para analisar algumas coisas, pela lista de indicados.
Os maiores perdedores foram Tom Hanks, Inside Llewyn Davis, Rush e Saving Mr. Banks (me recuso a chamá-lo de Walt nos Bastidores de Mary Poppins). Enquanto Saving Mr. Banks teve apenas uma indicação e o filme dos irmãos Coen teve duas, Rush foi totalmente ignorado pelos votantes. Já o astro de Náufrago (Cast Away) tinha uma dupla chance de voltar à premiação 13 anos após ficar sozinho numa ilha. Como ator principal, era um dos favoritos, por Capitão Phillips (Captain Phillips).
Se Tom Hanks não voltou, quem voltou foi Julia Roberts, também 13 anos após sua última indicação. Já Meryl Streep não voltou simplesmente porque nunca saiu, e agora acumula 18 indicações. Ambas por Álbum de Família (August: Osage County). Cate Blanchett também retorna à premiação. Se entre 2005 e 2008 ela conseguiu 4 indicações em 4 anos, agora tem grandes chances de conseguir seu primeiro Oscar como atriz principal.
Continuando entre as atrizes, temos talvez as duas maiores queridinhas da Academia dos últimos anos. Jennifer Lawrence é a atriz mais jovem da história a conseguir 3 indicações. Amy Adams vai tentar o prêmio pela quinta vez em 9 anos. Ambas vão para a terceira indicação em 4 temporadas. E ambas estão em Trapaça (American Hustle), dirigido por David O. Russell.
O diretor nova-iorquino conseguiu mais que sua terceira chance desde 2011 de ganhar a estatueta como melhor diretor. Pelo segundo ano consecutivo, seu filme emplaca uma indicação em cada categoria de atuação. Seus últimos três filmes juntos levaram 11 atores ao Oscar. Ou 7, já que alguns foram atores repetidos. Christian Bale e Bradley Cooper, inclusive, só foram indicados antes em outros filmes de Russell. Os dois têm poucas chances de ganharem, mas uma derrota não deve deixá-los tão tristes quanto deixará outros nomes já bem conhecidos da Academia.
Roger Deakins tentará, pela décima primeira vez, ganhar a estatueta, pela Fotografia do filme Os Suspeitos (Prisoners). Na mesma categoria, temos também Emmanuel Lubezki, por Gravidade (Gravity), podendo acumular sua sexta derrota, sem nenhum prêmio.
Já Woody Allen não pode reclamar se não ganhar prêmio por seu roteiro de Blue Jasmine. Esta é sua décima sexta indicação em Roteiro Original, já tendo ganhado 3 vezes. Além de que ele nunca comparece à premiação, exceção feita ao Oscar de 2002, após 11 de setembro, quando foi lá “apenas” para falar sobre Nova York.
Mas entre tantos veteranos como Martin Scorsese e Judi Dench, entre tantos novatos como Steve McQueen e Barkhad Abdi, quem são os favoritos?
Frozen tem o prêmio de Canção Original praticamente garantido, assim como o de Animação, embora possa ser tentador votar em Vidas ao Vento (Kaze Tachinu), provável último filme de Miyazaki. A Caça (Jagten) e A Grande Beleza (La Grande Bellezza) devem decidir quem ganha Filme Estrangeiro.
Jared Leto, por Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club), só tem um concorrente a Ator Coadjuvante. Barkhad Abdi, em seu primeiro trabalho como ator, por Capitão Phillips. Cate Blanchett vem forte como Melhor Atriz, por Blue Jasmine.
Na maioria das categorias técnicas, em maior ou menor grau, Gravidade é um dos favoritos. Em Efeitos Visuais, o prêmio mais definido do ano. E pode seguir os passos de Avatar e As Aventuras de Pi (Life of Pi), que recentemente não só surpreenderam com o realismo de seus efeitos como também ganharam o prêmio de Fotografia.
O filme de Alfonso Cuarón é também um dos favoritos ao reconhecimento máximo da Academia, apesar de não ter conseguido indicação por roteiro, o que é quase que um pré-requisito para ganhar o Oscar principal. Trapaça também está no páreo, mas, por enquanto, o favorito é 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave), de Steve McQueen. E eu não ficaria surpreso se o filme de McQueen ganhasse Melhor Filme, mas Cuarón ficasse com o prêmio por Direção.
De qualquer jeito, como eu disse, muita coisa ainda pode mudar até lá. E, mesmo que não mude, a Academia sempre dará um jeito de surpreender. Afinal, se ninguém vê o Oscar como sinônimo de justiça, a diversão da imprevisibilidade tem que estar presente.