E aí, senhores, Pedro Nog na área! Hoje vou falar sobre Grécia Antiga. Se eu tivesse que escolher meus Top 3 canais preferidos do YouTube atualmente, um deles com certeza seria o Invicta, que faz mini-documentários sobre história. Tanto o conteúdo, quanto as animações, são de altíssima qualidade. E eles falam muito sobre Antiguidade Clássica, um assunto que me fascina. Ontem eles publicaram um episódio sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, que foi uma das unidades de elite mais poderosas do mundo antigo.
Esse batalhão durou apenas uns 40 anos, durante o ápice de Tebas, no século IV AC. Mas foi o suficiente para deixar a sua marca na história, porque eles fizeram algo parecia impossível na época: acabar com a hegemonia militar de Esparta.
CONTEXTO HISTÓRICO: ESPARTA NO AUGE
Para dar um pouco de contexto, na época em que o Batalhão Sagrado de Tebas foi criado, Esparta era a potência dominante da Grécia. Os espartanos tinham derrotado Atenas pouco tempo antes, na Guerra do Peloponeso, e agora eram eles que davam as cartas lá na Grécia. Esparta tinha uma reputação incomparável em termos de poderio militar. E essa reputação era merecida, porque eles ficaram muitas décadas sem perder uma única batalha em terra.
Mas paz era algo que nunca durava na Grécia, tampouco os tratados. Basta dizer que Tebas tinha sido aliada de Esparta na Guerra do Peloponeso, mas agora eles estavam incomodados com o poder espartano. Moral da história? Se rebelaram, mas não sem antes criar um batalhão de elite, para enfrentar de igual para igual os temidos espartanos.
BATALHÃO SAGRADO DE TEBAS: COMO ERA?
O Batalhão Sagrado de Tebas era uma força profissional composta por 300 soldados veteranos de Tebas, que treinavam em tempo integral. (Segundo o historiador Plutarco, eram 150 pares de amantes.) Eles utilizavam a estratégia clássica grega de batalha em falange: vários soldados hoplitas lado a lado, formando uma parede de escudos e lanças. A espada era uma arma secundária para eles.
Apesar da fama que os espartanos têm hoje, eles não eram considerados guerreiros superiores aos outros gregos do ponto de vista individual, mas do coletivo. Isso porque tinham muito disciplina e táticas sofisticadas.
É aí que entra o outro ponto diferencial do Batalhão Sagrado de Tebas: o grupo era liderados por Pelopidas, um dos generais mais brilhantes da Grécia antiga, enquanto o igualmente genial Epaminondas comandava o exército de Tebas como um todo. O Batalhão Sagrado de Tebas não era treinado para tirar um simples braço-de-ferro com o inimigo, para ver quem era mais forte. O diferencial era a estratégia. O foco deles eram abrir uma brecha nas linhas inimigas, para matar os comandantes e, com isso, deixar o exército adversário sem liderança e desorganizado.
TEGIRA E LEUCTRA: AS BATALHAS MEMORÁVEIS
A primeira vez que eles fizeram isso foi na Batalha de Tegira, quando os 300 membros do Batalhão Sagrado de Tebas, com o auxílio de 200 soldados a cavalo, derrotaram uma força 2 a 3 vezes maior de espartanos, em 375 AC. Foi um choque para o mundo grego — o primeiro registro histórico de Esparta perdendo uma batalha com superioridade numérica.
Ainda assim, foi uma batalha relativamente pequena, que não chegou abalar o poder espartano em si, apenas a sua reputação de invencibilidade. O divisor de águas para Tebas foi alguns anos depois, em 371 AC, quando o exército tebano com cerca de 7 mil soldados enfrentou em torno de 11 mil espartanos, na Batalha de Leuctra, e saiu vitorioso. Como? Eles concentraram as suas forças no flanco onde ficava o rei espartano Cleombrotus e seus principais comandantes. Eles aplicaram pressão lá, mataram os líderes inimigos e o resto do exército entrou em colapso.
Esparta nunca mais se recuperou do golpe. Além de Esparta perder seus principais líderes militares, Tebas aproveitou a oportunidade para fazer uma campanha na península do Peloponeso, onde ficava Esparta, para libertar a região da Messênia do domínio espartano. O resultado foi catastrófico para Esparta. Eles só podiam se dar ao luxo de serem guerreiros em tempo integral porque haviam escravizado os gregos da Messênia, que faziam o trabalho duro enquanto eles treinavam. Ao perder a Messênia, a economia de Esparta desabou, assim como o seu poderia militar.
O FIM DO BATALHÃO SAGRADO DE TEBAS
Se o Batalhão Sagrado de Tebas era assim tão poderoso, por que ele sumiu? Simples: um exército é tão eficaz quanto seus líderes. Após a morte de Pelopidas e de Epaminondas, não houve substitutos à altura. Depois de algumas décadas em atividade, o batalhão foi dizimado pelo exército da Macedônia na Batalha de Queroneia, em 338 AC, que era liderado pelo grande general Filipe II, pai de Alexandre, o Grande.
O respeito que os gregos tinham pelo Batalhão Sagrado de Tebas era tão grande que, depois da luta, quando Filipe II viu os corpos do batalhão empilhados no campo, desatou a chorar pela morte deles.
LIÇÃO PARA A VIDA: INOVAÇÃO & LIDERANÇA
A história do Batalhão Sagrado de Tebas traz uma grande lição de vida: você nunca pode parar de inovar. Tebas conseguiu derrotar Esparta, um adversário considerado invencível até então, adotando uma tática de batalha inédita. Mérito do brilhantismo de Pelopidas e Epaminondas. Mas sem os dois para liderar o exército tebano, aí quem trouxe inovação para o campo de guerra foi Filipe II, com as falanges macedônias, que adotaram uma lança 2 a 3 vezes maior do que as gregas clássicas. Sem uma liderança forte, Tebas caiu para a Macedônia, assim como Esparta havia caído para eles.
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Se você curtiu esse texto, recomendo assistir ao mini-documentário que o canal Invicta fez sobre o Batalhão Sagrado de Tebas. É excelente: