Você já se perguntou de onde saem os filmes B que praticamente plagiam os grandes blockbusters de Hollywood? Pois é, existe um estúdio que se especializou neste tipo de produção: o The Asylum, em Burbank, Califórnia. É de autoria deles, por exemplo, o grande hit do momento, Sharknado, que após a sua estreia quinta-feira passada no canal americano Syfy, tornou-se uma obra cult instantaneamente na internet.
Tendo produzido mais de 70 filmes em sua curta história — entre eles títulos como Titanic II, Snakes on a Train, Transmorphers e 30 Mil Léguas Submarinas — o grupo é responsável pela criação de um gênero: os mockbusters, filmes que parecem blockbusters de mau gosto e que têm orçamentos pequenos.
Criada em 1997 pelos executivos David Rimawi, Sherri Strain e o diretor David Michael Latt, a Asylum nasceu com o objetivo de produzir filmes de horror baratos (os famosos gory movies). Mas tudo mudou quando um dos produtores se apaixonou pelo livro Guerra dos Mundos, de H. G. Wells. E, mesmo descobrindo que Steven Spielberg estava fazendo uma adaptação estrelada por Tom Cruise, os executivos decidiram produzir uma versão de baixo custo.
O que parecia ser um fiasco acabou dando certo: o estúdio vendeu 100 mil cópias para a rede de locadoras Blockbuster, uma quantidade altíssima para filmes B. Desde então, os produtores acreditam que encontraram um nicho, conseguindo espaço no mercado europeu e asiático, além de ter alguns de seus filmes no catálogo do Netflix. Em 2012, a Asylum teve lucro de 5 milhões de dólares – nada mal para quem costuma gastar, no máximo, US$ 500 mil num filme.
Mas, apesar de terem adotado o termo mockbuster, os produtores não acreditam que isso seja o que realmente fazem. No entendimento dos chefes da produtora, o mockbuster seria algo como o que a franquia Todo Mundo em Pânico faz – pegando filmes que já foram lançados e satirizando-os. A Asylum apenas pega as premissas de um filme e as desenvolve por completo, podendo levar a caminhos absolutamente diferentes. O estúdio costuma lançar seus mockbusters em datas próximas ao lançamento do blockbuster original, chamando assim mais atenção da mídia.
Apenas neste ano, o grupo lançará 26 filmes, sendo 5 deles baseados em blockbusters hollywoodianos. O mais evidente é Atlantic Rim, o derivado de Pacific Rim (Círculo de Fogo, de Guillermo del Toro).
Diferentemente das grandes produções, os filmes da Asylum contam com equipes reduzidas. Enquanto blockbusters têm com times de até 400 pessoas na área de efeitos especiais, as da Asylum possuem 15, por exemplo. Os longas são filmados em pouco tempo e a maioria das locações é de graça. Os orçamentos dificilmente ultrapassam os US$ 500 mil, e a maior parte deles é usada para conseguir grandes estrelas – Sharknado, por exemplo, conta com a ex-American Pie Tara Reid.
Por mais que trabalhar no estúdio não seja a melhor opção artisticamente falando, muitos o consideram um grande aprendizado prático, visto o número de produções feitas com uma equipe reduzida por ano. Um dos diretores de fotografia mais antigos da produtora já participou de 25 filmes, mais do que a maioria dos diretores de fotografia conseguiria em toda sua vida. Para eles, é como jogar num time pequeno antes de conseguir destaque para ser contratado por um grande.
Prova do sucesso da Asylum é o fato de grandes estúdios estarem se incomodando com seus mockbusters. A Universal chegou a processar a produtora por sua versão de Battleship; a Asylum foi obrigada a mudar o nome de seu American Battleship para American Warships. O mesmo aconteceu recentemente com O Hobbit, da Warner.
Os produtores têm medo que isso se torne uma tendência, uma prova da visibilidade que a Asylum tem conseguido. E por mais que seus filmes nunca cheguem ao mesmo tamanho dos grandes blockbusters, o estúdio encontrou seu público e deve ter uma vida longa.
Com o orçamento baixo que tem, há algo artístico no que a Asylum faz, produzindo filmes de baixo custo que parecem blockbusters, ainda que mal feitos. E, convenhamos, com a qualidade dos blockbusters caindo, é possível que daqui um tempo não consigamos perceber a diferença entre um e outro.