Sic transit gloria mundi. Herói nacional até a semana passada, Oscar Pistorius está vendo seu passado ser exposto — especialmente a parte nebulosa. A imprensa sul-africana já lhe deu o apelido de Blade Gunner (em oposição a Blade Runner, como era carinhosamente chamado por causa das próteses).
Aos 26 anos, bonito, rico, socialmente polido e um exemplo de superação, Pistorius escondia um lado menos nobre. Era também um sujeito com um histórico de explosões, dono de um temperamento agressivo e arrogante. Isso, de alguma maneira, o teria levado adiante depois amputar as pernas abaixo do joelho aos 11 anos, por causa de uma malformação óssea. Um obstinado que se recusou a fazer o papel de vítima e seguiu adiante. Mas havia uma conta a pagar.
A polícia confirmou que incidentes já haviam acontecido em sua casa num dos bairros mais caros de Pretoria. Um chamado de emergência fora emitido duas horas antes de ele matar a namorada Reeva Steenkamp. Os tiros teriam sido disparados através da porta de um banheiro.
Em 2009, Pistorius passou uma noite na cadeia depois de bater numa garota de 19 anos que não queria sair de sua festa. Ela retirou a queixa mais tarde. No mesmo ano, ele detonou uma lancha de corrida num píer submerso num rio. Foram encontradas garrafas de álcool, mas ele não fez o teste do bafômetro. Pressionado contra a direção do barco, quebrou duas costelas, a mandíbula e o osso em torno de um dos olhos. Levou 172 pontos.
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Em 2012, ao saber que fora traído pela então namorada, Samantha Taylor, também modelo, ele supostamente ameaçou quebrar as pernas do rival. A mãe dela, Trish, deixou um post no Facebook: “Estou tão feliz que Sammy esteja sã e salva e longe das garras daquele homem – houve ocasiões em que as coisas podiam ter ficado feias com ela e com a arma dele”.
Pistorius chegou a criar dois tigres albinos em sua casa e os vendeu ao zoo do Canadá quando ficaram grandes demais (Mike Tyson também tinha o mesmo bicho de estimação). Colecionava carros e motos. Mas sua predileção era outra: era um aficionado por armas. Dizia que para sua segurança (a África do Sul é um dos países mais violentos do mundo). Segundo o jornalista Michael Sokolove, que escreveu um perfil do atleta para a revista de domingo do New York Times, Pistorius era divertido e “mais do que um pouco louco”: apreciava dar tiros num estande com uma pistola de 9 mm, o mesmo calibre da que foi usada no caso Reeva, quando não conseguia dormir. Orgulhava-se de sua mira precisa no Twitter.
Um repórter do Daily Mail, de Londres, conta que encontrou um pequeno arsenal quando esteve com ele: um bastão de críquete e outro de beisebol no quarto, um revólver ao lado da cama e uma metralhadora perto da janela.
Não teve uma infância ou uma juventude tranquilas. Seus pais se separaram quando ele contava 6 anos e a mãe morreu quando quando ele tinha 15. A data da morte dela está tatuada em seu braço. Tem um relação fria com o pai, mas é próximo do irmão Carl e da irmã Aimee.
Oscar Pistorius chorou copiosamente no júri quando lhe foi comunicado que seria acusado de homicídio premeditado. Colocou o rosto entre as mãos várias vezes. “Eu não sei de nada”, disse seu pai, Henke. “Seria extremamente absurdo e rude especular. Eu não conheço os fatos. Se alguém tiver de dar uma declaração, terá de ser Oscar”.
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