Não sou muito versado no estudo da natureza humana, como dizem, e ignoro de que maneira o medo atua em nós. Certo é que se trata de um sentimento estranho. Nenhum outro nos deixa tão intensamente fora do bom-senso. Vi muita gente ser chacoalhada pelo medo. Mesmo entre os mais serenos ele provoca terríveis alucinações.
Ponho de lado o homem vulgar ao qual o medo faz que ora veja seus antepassados saírem do túmulo, envolvidos em seus sudários, ora lobisomens, gnomos, quimeras.
Mesmo entre os soldados, sobre os quais o medo deveria ter menor influência, quantas vezes não ele transformou um rebanho num exército terrível? E nossos amigos em inimigos?
Certa vez verificou-se um caso extraordinário: o medo surpreendeu, agarrou e a tal ponto paralisou um fidalgo que este caiu morto repentinamente, e sem o menor ferimento, do lugar em que se achava. Coisa semelhante acontece às vezes com multidões.
Ora o medo põe asas em nossos pés, ora nos prega ao solo e nos imobiliza como aconteceu com o Imperador Teófilo. Batido em uma batalha, ficou tão estupefato que não podia decidir-se a fugir.
E assim permaneceu até que um de seus principais chefes o sacudiu como para acordá-lo de um sono e lhe disse: “Se não me seguir mato você, pois é melhor que você perca a vida do que virar prisioneiro e perder o império”.
Na primeira batalha séria que os romanos tiveram – e perderam – contra Aníbal, um exército de cerca de dez mil infantes tomado de pavor debandou e, na sua covardia, não descobrindo por onde passar, jogou-se contra o grosso do inimigo. A ação pusilânime matou grande número de cartagineses e rompeu suas fileiras. Uma fuga vergonhosa demandou os mesmos esforços que os romanos deveriam fazer para alcançar uma vitória gloriosa.
O medo é a coisa de que mais medo tenho no mundo. Ele ultrapassa, pelos incidentes agudos que provoca, qualquer outra espécie de acidente. Como escreveu Ênio, o pavor acaba com qualquer resquício de sabedoria num homem.