Olá, senhores! Este é o terceiro capítulo de uma série de 6 artigos que André Massaro, um dos maiores educadores financeiros do Brasil, está produzindo para ajudar os leitores do El Hombre a conquistarem a tão sonhada independência financeira. Fique ligado para não perder nenhum capítulo desta série.
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Por ANDRÉ MASSARO
No mundo das finanças pessoais, as dívidas acabam sendo o “problema” mais desafiador e mais angustiante.
Porém, é hora de colocar as coisas “às claras” e dizer algo que poderá soar contraintuitivo: dívidas NÃO SÃO um problema.
As dívidas são a CONSEQUÊNCIA de algum outro problema. Se formos traçar uma analogia com saúde, podemos dizer que as dívidas não são a doença, e sim o SINTOMA.
Sei que isso pode parecer uma questão meramente conceitual e uma discussão vazia, na linha “sexo dos anjos”. Só que não…
O problema de não sabermos o que é “doença” e o que é “sintoma” é que corremos o risco de tomar atitudes para resolver o problema errado. Você está tomando um analgésico, para aliviar e “mascarar” a dor, enquanto uma doença potencialmente fatal está sendo cultivada dentro de você.
Então, ponha em sua cabeça, de uma vez por todas, que dívidas não são o verdadeiro problema. As dívidas são apenas a “ponta do iceberg” – são a parte visível de um problema maior.
Qual é a verdadeira causa das dívidas?
As dívidas são causadas por um fenômeno puramente matemático: a gente gasta mais do que ganha. Dívida é o resultado de um déficit financeiro.
As justificativas para esse déficit podem ser inúmeras. Pode ser que você tenha perdido seu emprego (sua fonte de renda) ou que você, simplesmente, viva de forma incompatível com seus meios.
Neste momento, isso é irrelevante. O fato é que você gasta mais do que ganha e, ao menos nesta dimensão em que vivemos, não dá para fazer com que quatro menos cinco resultem em algo diferente do que “menos um”.
A verdadeira causa do endividamento é o “desequilíbrio financeiro negativo”. ESTE é o problema a ser resolvido, caso você queira se livrar das dívidas.
A importância (questionável) do equilíbrio financeiro
É comum se ouvir especialistas em finanças pessoais e educadores financeiros falando sobre “equilíbrio financeiro”.
O equilíbrio financeiro é usado como uma figura de linguagem para designar um “estado ideal”. Porém, o equilíbrio financeiro não é um estado ideal… e nem seguro.
Quando temos uma situação de desequilíbrio financeiro negativo (sai mais dinheiro do que entra), temos um déficit que leva ao endividamento (não tem outra saída…).
No outro extremo, temos o desequilíbrio financeiro POSITIVO, que é aquele em que entra mais dinheiro do que sai. O resultado disso é uma SOBRA de dinheiro (aí fica bom!).
Já o equilíbrio financeiro é, simplesmente, uma situação em que a pessoa gasta exatamente aquilo que ganha – não sobra nem falta.
Parece uma situação confortável. Porém, sabemos que, no mundo real, essa situação não é nada confortável e representa um grande risco, pois basta um pequeno “escorregão” e você mergulha no buraco sem fundo do endividamento.
É melhor ter uma vida financeira equilibrada do que viver em déficit e dever dinheiro. Mas não é sensato nem seguro tentar viver, de forma permanente, em um estado de equilíbrio financeiro, pois é uma situação de fragilidade e de vulnerabilidade.
Por isso, o que se deve buscar é o desequilíbrio financeiro POSITIVO, que é a situação em que sobra dinheiro.
As causas do desequilíbrio financeiro
Bem, já sabemos que a causa do endividamento é o desequilíbrio financeiro negativo. É matemática pura… Não tem o que fazer!
Então, a pergunta agora é: o que causa o desequilíbrio?
Bem, aí podemos explorar outros fatores fora do mundo da matemática, como fatores econômicos, psicológicos, comportamentais e até morais!
Dívidas como resultado de circunstâncias econômicas ou imprevistos
Se você perde seu emprego (ou sua fonte de renda), isso não é, necessariamente, sua culpa. Você pode ter sido vítima de uma circunstância econômica ou setorial (como uma recessão ou uma crise) e foi pego “no contrapé”.
Você não tem responsabilidade sobre esse tipo de evento – eles acontecem totalmente fora da sua esfera de influência. Mas, seja como for, a “bucha” estoura no seu colo e você arca com as consequências.
Se você perder seu emprego e não tiver reservas financeiras (ou suas reservas forem consumidas antes de achar outra fonte de renda), você já sabe qual será o fim dessa história, não é mesmo?
Outra possibilidade é a ocorrência de um evento imprevisto de consequências negativas, como um acidente, um grande reparo emergencial em sua casa ou uma doença que atrapalhe sua atividade profissional. Nada disso é “sua culpa”, mas você sofrerá o impacto nas suas finanças.
Dívidas como resultado de estilo de vida
Porém, existe aquela situação em que nós temos SIM total responsabilidade pelo desequilíbrio. São aquelas situações onde a gente tem renda, mas, ainda assim, gastamos mais do que ganhamos e insistimos em ter um padrão de vida acima de nossas possibilidades.
Ou, então, quando a pessoa não faz qualquer tipo de planejamento financeiro e vive numa situação caótica, onde simplesmente não sabe o quanto ganha e o quanto gasta.
Inclusive, nos artigos anteriores desta série “maestria financeira”, falamos sobre fontes de renda (primeiro artigo) e sobre consumo (segundo artigo). Este terceiro artigo é sobre o que acontece quando o tema do segundo artigo entra em conflito com o primeiro…
O endividamento causado por circunstâncias econômicas (como a perda de emprego) é comum, mas tende a ser uma coisa passageira e reversível.
Já o endividamento causado por um estilo de vida insustentável (onde se gasta, sistematicamente, mais do que se ganha), tende a virar uma situação permanente, que “escraviza” a pessoa.
Enfim, a verdadeira causa do seu endividamento está em uma dessas possibilidades: uma circunstância externa (crises econômicas ou imprevistos) ou uma circunstância interna (seu comportamento e seu estilo de vida).
Como resolver as causas do endividamento
Se seu endividamento é causado por circunstâncias externas, como a perda de sua fonte de renda, a única coisa a fazer é buscar novas fontes de renda, pois a renda é a “energia vital” das finanças.
Se você não tiver renda, pode fazer todo esforço do mundo para economizar dinheiro que não vai adiantar nada. Você apenas vai “quebrar” mais lentamente… Mas, se não houver renda, a falência é inevitável.
Agora, se seu endividamento é causado por seu comportamento ou seu estilo de vida… Bem, acho que não preciso dizer nada, né? Vá em frente ao espelho e você vai enxergar, claramente, qual é a causa…
Se você chegar à conclusão de que seu estilo de vida é o responsável pelo seu endividamento, mude-o. Baixe a bola… Seja um pouco humilde, coloque o orgulho de lado e VIVA CONFORME SEUS MEIOS.
Não tem nada demais querer um padrão de vida mais elevado, mas essa elevação do padrão de vida precisa ser SUSTENTÁVEL. Ou seja, ela deve ser decorrente do aumento de sua renda, e não do endividamento.
Então, faça um planejamento financeiro “bem feito” e ajuste seus gastos às suas rendas, de tal forma que você passe de um desequilíbrio financeiro negativo para um POSITIVO (em que sobre dinheiro – e você vai precisar desse dinheiro sobrando para equacionar suas dívidas…).
Como se preparar para se livrar das dívidas
Duas coisas devem ser feitas em paralelo. A primeira é solucionar a causa: seja arrumando fontes de renda ou adequando o estilo de vida às suas reais possibilidades.
TEM que fazer sobrar dinheiro. Se não tiver dinheiro sobrando, não adianta nem pensar em pagar dívidas.
A segunda é fazer um “inventário” detalhado das suas dívidas, listando todas elas por valor, prazo, credor e custos.
E um detalhe importante: dívidas são dívidas.
Algumas pessoas, convenientemente, consideram que dívidas são apenas aquelas que estão vencidas (e se está inadimplente). Mas toda dívida é uma dívida…
Se você comprou um smartphone a prestações, e ainda está pagando as parcelas (mesmo que em dia), isso é uma dívida… Como qualquer outra!
Então, faça um inventário de suas dívidas e priorize aquelas que devem ser pagas primeiro. Tipicamente, priorizamos para pagamento as dívidas com custos mais altos (juros) ou aquelas que podem resultar em cortes de serviços essenciais.
O que der para pagar, pagamos… O que não der, tentamos renegociar.
Renegociação de dívidas: como e quando fazer
Renegociação de dívidas é aquele processo em que o devedor conversa com o credor (nem sempre é uma “conversa amigável”) e se tenta arrumar soluções alternativas para resolver as dívidas.
Esse processo de renegociação ocorre, quase sempre, em desvantagem para o credor, que precisa ceder em valores e/ou em prazos, para poder receber alguma coisa sem “quebrar” o devedor.
Inclusive, eu tenho um artigo bastante detalhado sobre renegociação de dívidas: como renegociar dívidas (em 11 passos).
Mas, enfim… Muitas pessoas, quando endividadas, se apressam em querer renegociar as dívidas, obtendo, por exemplo, mais prazo para o pagamento.
Só que a renegociação das dívidas deve ser a ÚLTIMA etapa no processo de eliminar as dívidas.
Isso porque, quando se renegocia uma dívida, a gente está, na verdade, fazendo uma dívida nova… É como se seu credor “anulasse” a dívida original e fizesse outra.
Ou, então, uma outra possibilidade é você fazer uma dívida em outro lugar (em condições mais favoráveis) para pagar uma dívida já existente. É o caso, por exemplo, quando você pega um empréstimo pessoal (ou consignado), com juros mais baixos, para pagar outra dívida de juros mais altos.
Seja como for, você acaba fazendo uma nova dívida. E a PIOR coisa que pode acontecer, tanto para o credor quanto para você (e sua autoestima) é você “pisar na bola” de novo e ficar, mais uma vez, inadimplente… E aí vai ter que, novamente, “pedir penico” para o seu credor.
Por isso, você deve partir para a renegociação APENAS quando souber, com clareza e segurança, o quanto pode pagar. O seu planejamento financeiro vai te dizer qual valor você poderá dispor para pagar suas dívidas.
Você não deve, em nenhuma hipótese, se comprometer a pagar um valor acima de suas possibilidades pois, se fizer isso, o resultado vai ser mais dívidas e mais renegociações desgastantes.
Saindo (de vez) das dívidas
Sair das dívidas não costuma ser um processo fácil nem agradável. Por isso, é importante “fazer direito, para fazer uma vez só”.
Partir para a renegociação, sem “arrumar a casa” antes, é querer curar o sintoma, e não a doença.
Identifique as causas reais do endividamento e resolva-as. Aí sim você poderá resolver as dívidas em si, pagando aquelas que conseguir imediatamente e renegociando as demais.
É um processo doloroso (e as vezes um pouco demorado), mas se fizer direito, será uma única vez e você será uma pessoa livre.
Endividamento é escravidão. Liberte-se!
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André Massaro é autor, consultor, professor e palestrante especializado em Finanças, Investimentos, Economia e Tomada de Decisões. É um dos mais conhecidos e experientes educadores financeiros do Brasil e, mais que isso, é alguém que acredita que o dinheiro não é tudo, mas a liberdade financeira é o caminho para a liberdade pessoal. Site: www.andremassaro.com.br