“O que diferencia as pessoas inovadoras do resto da humanidade?”
É justamente a esta pergunta que o acadêmico americano Adam Grant, docente da Universidade da Pensilvânia, procurou responder em seu livro Originais: Como os Inconformistas Mudam o Mundo, publicado em 2016.
Uma história de “fracasso” pessoal inspirou Grant a realizar as pesquisas que culminaram no livro em questão: quando recusou-se a investir em uma companhia que viria a se tornar a Warby Parker, plataforma on-line de venda de óculos sediada em Nova York, cujo valor atualmente ultrapassa 1 bilhão de dólares, porque seus fundadores — Neil Blumenthal, Jeff Raider e David Gilboa — não correspondiam ao estereótipo de “pessoas inovadoras”. O próprio projeto deles pareceu falho a Grant.
Isso o levou a decidir estudar a originalidade em um amplo leque de cenários, de empresas de tecnologia a colégios, de hospitais a órgãos governamentais, e a tentar responder a questão que colocamos no início desse texto.
Vejamos as conclusões às quais chegou.
Um slogan publicitário criado pela Apple em 1997, transformado posteriormente em um comercial, definiu as pessoas inovadoras da seguinte maneira:
Isso é para os loucos, para os desajustados, para os rebeldes, para os desordeiros, para as estacas redondas nos buracos quadrados… Aqueles que veem as coisas diferentemente — eles não gostam de regras… Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou vilipendiá-los, mas a única coisa que não pode fazer é ignorá-los, porque eles mudam as coisas. Eles empurram a raça humana para frente. E, enquanto alguns os veem como loucos, nós os vemos como gênios, porque as pessoas que são loucas o suficiente para acharem que podem mudar o mundo são aquelas que o fazem.
Algumas das principais personalidades presentes em tal comercial são Albert Einstein, Bob Dylan, Martin Luther King, John Lennon, Thomas Edison, Muhammad Ali, Mahatma Gandhi e Amelia Earhart, entre outros.
O que um inventor, um ativista político, uma aviadora, um lutador de boxe e um cantor, por exemplo, teriam em comum? Justamente o que distingue as pessoas inovadoras do restante: o fato de que trazem criatividade, progresso e mudanças para o mundo.
“O homem sensato se adapta ao mundo”, dizia o dramaturgo inglês George Bernard Shaw, “ao passo que o insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si. Portanto, todo progresso depende do insensato”.
Nesse contexto, os inovadores seriam os “insensatos”.
Mas, no caso, se trataria de algo egocêntrico? De tentar mudar o mundo em benefício próprio? De jeito nenhum. Seria uma tentativa de mudar o mundo, para melhor, de acordo com os seus próprios ideais.
A pessoa conformista seria aquela que se contenta em seguir a multidão, percorrendo os caminhos convencionais e mantendo o status quo. “Originalidade é seguir o caminho menos trilhado”, diz Grant, “defendendo um conjunto de ideias novas que contrariam o pensamento corrente mas que, no fim, resultam em algo melhor”.
Está aberta para debate a seguinte questão: qualquer um poderia se tornar uma pessoa inovadora contanto que colocasse esforço nisso?
Se estudarmos as pessoas inovadoras, descobriremos como nos tornar um pouquinho mais como elas. E, em muitos casos, isso é o suficiente.
Mas voltemos à pesquisa de Grant.
Há uma questão que sempre suscitou interesse nos pesquisadores: crianças prodígios raramente mudam o mundo.
Diversos estudos reuniram um grupo grande de crianças prodígios e acompanharam-nas ao longo da vida. E todos concluíram que elas não ofuscaram os seus colegas menos precoces nascidos em famílias de condição financeira semelhantes.
Por quê? Uma das hipóteses era a de que estas crianças careciam de habilidades sociais, emocionais e pragmáticas para enfrentar os desafios da vida em sociedade, e que acabavam por buscar o isolamento.
Esta hipótese provou estar parcialmente incorreta, pois descobriu-se que menos de 25% das crianças superdotadas sofre de problemas sociais e emocionais graves.
Para Grant, o que as impede de fazer o mundo avançar consiste na falta de originalidade:
Os superdotados aprendem a executar perfeitamente melodias de Mozart e de Beethoven, mas raramente compõem as próprias sinfonias. Adaptam-se às regras codificadas de jogos já estabelecidos em vez de inventar novas regras para seus próprios jogos.
“As pesquisas mostram que, na cultura americana, as pessoas acreditam firmemente na vantagem dos pioneiros“, diz Grant. “Queremos ser líderes, não seguidores”.
Surpresa: a vantagem de ser o pioneiro é, em grande parte, um mito.
Um estudo que analisou mais de 50 categorias de produtos, comparando os pioneiros, que criaram o mercado, com os aprimoradores, que introduziram algo diferente e melhor, demonstrou que os primeiros tiveram uma taxa de fracasso de 47%, compara com apenas 8% dos aprimoradores.
Quer um exemplo prático? Grant os oferece em sua conferência no TED.
Vejam o Facebook, esperando para criar uma rede social depois do MySpace e do Friendster. Olhem para o Google, esperando anos depois do Altavista e do Yahoo. É mais fácil aprimorar a ideia de alguém do que criar algo novo do zero. Para ser original você não precisa ser o primeiro. Você só precisa ser diferente e melhor.
Os empreendedores mais inteligentes costumam ser avessos ao risco, conforme falaremos mais adiante. Portanto, eles tendem a observar do lado de fora do campo, esperando a oportunidade certa.
“Enquanto os pioneiros tendem a ficar presos às suas ofertas iniciais”, completa Grant, “os inovadores podem observar as mudanças de mercado e as oscilações no gosto dos clientes a fim de se ajustar a elas”.
Em seu livro, Grant procura derrubar também o mito de que a originalidade exige assumir riscos extremos:
Quando nos maravilhamos com os indivíduos originais que alimentam a criatividade e conduzem transformações no mundo, costumamos imaginar que eles são feitos de uma matéria diferente da nossa. Acreditamos que os grandes criadores trazem de berço uma imunidade biológica ao risco. São feitos de forma a dar boas-vindas à incerteza e a ignorar a aprovação social. Simplesmente não se importam com o custo do inconformismo, como o resto de nós.
E isso não é verdade.
Um dos motivos pelos quais Grant recusou-se em investir na Warby Parker foi porque seus fundadores pareciam demasiadamente avessos ao risco, possuindo planos B em relação a projetos profissionais. Todos eles tinham empregos garantidos, em caso de fracasso.
E estavam errados?
Não, não estavam, porque pesquisas atuais demonstraram que os empreendedores que mantiveram seus empregos apresentaram probabilidade 33% menor de fracassar do que aqueles que se demitiram.
“Se você é avesso ao risco, é provável que seu negócio seja construído de forma a se tornar duradouro“, diz Grant. “Se é um apostador demasiadamente audacioso, sua start-up será muito mais frágil”.
Na superfície, as pessoas inovadoras parecem extremamente confiantes.
Pense em Martin Luther King discursando em Washington, em John Lennon se apresentando diante de multidões, e em muitos outros.
Mas, no fundo, elas sentem medos e dúvidas como qualquer um de nós. O segredo é que elas sabem administrar isso de forma diferente.
Quando encaramos a dúvida como uma oportunidade tenebrosa de tirar conclusões desalentadoras sobre nós mesmos, acreditando que fomos fadados ou fracasso ou às decepções, então realmente condenaremos a nossa própria pessoa a isso.
A maneira saudável de encarar essa questão é dizendo a si mesmo: “Os primeiros rascunhos são sempre medíocres. Eu só não cheguei lá ainda“. Porque os originais também têm ideias ruins. Toneladas delas.
Até mesmo os três ícones da música clássica, Bach, Beethoven e Mozart, tiveram que criar centenas de composições para chegar a um número reduzido de obras-primas.
Beethoven, por exemplo, não começou sua carreira compondo a Sonata ao Luar. Por que nós começaríamos a nossa com um golpe de gênio?
Procrastinadores moderados são aqueles que enrolam um pouquinho. Procrastinadores crônicos são aqueles que enrolam sempre. E precrastinadores são aqueles que, ansiosos, estão sempre antecipando tudo.
As pessoas inovadoras costumam se encaixar no primeiro dos casos.
Grant descobriu que, embora os procrastinadores crônicos tendam a fracassar, os moderados são mais criativos do que os precrastinadores. Isso porque “procrastinar lhes dá tempo para considerar ideias divergentes, pensar de forma não linear e chegar a conclusões inesperadas”, ao passo que os procrastinadores crônicos não fazem absolutamente nada e os precrastinadores estão tão ocupados se remoendo em ansiedade que não conseguem ter ideias originais.
Martin Luther King, por exemplo, esperou até o último minuto para finalizar seu discurso histórico no Lincoln Memorial, em Washington. Este é provavelmente o motivo pelo qual tal discurso causou um efeito mais poderoso do que qualquer outro.
“Procrastinar pode ser um vício no que se refere à produtividade, mas uma virtude para a criatividade“, resume Grant.
Nem sempre, porém, a procrastinação alimenta a criatividade.
Quando não existe entusiasmo e motivação, adiar alguma coisa só nos deixa para trás. Assim, esse tipo de procrastinação serve mais para aqueles apaixonados pela geração de novas ideias. É para estes que deixar a tarefa para depois pode conduzir a encontrar soluções mais criativas.
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