Uma Libertadores, um Rio-SP, um Campeonato Brasileiro Serie B e um Paulista, em 12 anos de Palmeiras, foi o que Marcos conquistou jogando como titular. Mesmo que a Libertadores seja considerada por muitos como o título mais importante do alviverde paulista (e foi onde Marcos surgiu para o futebol substituindo Velloso no meio da competição) quatro canecos nesse período é muito pouco para fazer de uma pessoa o que o povo brasileiro fez de Marcos. Ou São Marcos.
Sim, é claro que eu sei, ainda tem a Copa do Mundo de 2002. Mas, e daí? Ronaldo Fenômeno, autor dos dois gols da final do mundial contra a Alemanha e ídolo no Cruzeiro e no Corinthians, não teve uma festa de despedida aos pés da de Marcos.
“Ah, mas ele jogou muito tempo fora do país e ficou distante da torcida brasileira”.
Ok, é verdade. Mas e Rogério Ceni? Embora longe da titularidade, o goleiro são paulino também esteve no Japão e na Coréia em 2002, fez toda a sua carreira no tricolor paulista e liderou o clube no que foi talvez a década mais gloriosa de sua história.
“Ah, mas ele é um fanfarrão”, diz a torcida rival.
Marcos não se tornou um gigante pela sua qualidade técnica (embora seja reconhecido como um grande goleiro), pela sua consistência e regularidade em campo, ou pelos seus títulos conquistados. Também não o é por uma pureza de sentimentos digna de um santo – e isso o jogador deixou bem claro com suas declarações polêmicas famosas.
Marcos é o que é pela integridade que demonstra em suas atitudes.
(MAIS: Reflexões de um palmeirense desiludido)
(MAIS: Por que Ronaldo não emagreceu na hora certa?)
Quando uma pessoa se mostra com transparência e sem medo de errar (mas também de pedir desculpas); quando se mostra sem intenção de agradar quem quer que seja em detrimento de suas próprias ideias (mas com respeito a todos seus semelhantes); quando se faz guerreira ao lutar contra as mais duras adversidades (que no seu caso se apresentou como lesões recorrentes); quando arca com suas responsabilidades (e muitas vezes com a dos outros); quando não tem receio de demonstrar seus sentimentos; quando coloca a cara a tapa; quando dá uma furada grotesca; ou quando ajoelha no gramado com os dedos apontados para o céu; essa pessoa inspira respeito e admiração das demais.
Esse é o caso de Marcão, o cara que deixa o coração falar, um fenômeno do futebol não pelo futebol apresentado. Eu não conheço uma pessoa – uma única pessoa – que não simpatize com a figura carismática do jogador.
Eu, como torcedor do Palmeiras, digo tudo isso com bastante liberdade. No aspecto técnico, eu tenho mais como ídolo o Alex, por exemplo, do que Marcos. Mas como comparar o amor que o gigante dos três postes registrou ao Palestra com o de Alex, que optou pelo Coritiba na volta ao Brasil (ah, isso doeu)? Qualquer atleta medíocre que se encaixe na categoria jogador/torcedor será mais idolatrado do que o profissional perfeitamente técnico mas burocrático. Futebol não é lugar de burocracia, é lugar de paixão – e por isso que São Marcos é o maior.
Frases como essas, “O sofrimento da torcida comigo só vai até o fim do ano” e “Nunca se esqueçam de mim [para a torcida], porque eu jamaisvou me esquecer de vocês”, são exemplos claros da autenticidade apaixonada de Marcos, que, como todos nós, é uma metamorfose ambulante.
A única diferença do santo é que ele, corajosamente, mostra isso.
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