Talento ou determinação: o que é mais importante para ter uma carreira — e uma vida — de sucesso? Essa é uma discussão antiga, mas que nunca perde a sua relevância. E, hoje, daremos a nossa opinião sobre o assunto. Antes de mais nada, porém, vamos definir com mais clareza o significado das duas expressões:
➤ TALENTO: Pode ser definido como uma aptidão ou habilidade natural, que realça a capacidade da pessoa atingir com facilidade a expertise em determinada área.
➤ DETERMINAÇÃO: Está mais ligada à firmeza de propósito e resolução. É ela que nos auxilia a permanecer motivados e ter empenho para conquistar um objetivo.
Peguemos um exemplo famoso: o romano Cícero e o grego Demóstenes, dois dos mais célebres oradores da Antiguidade. Enquanto o primeiro nasceu com o dom, o segundo é uma prova do impressionante poder do esforço.
Demóstenes, que não possuía um talento nato, tomou todas as providências necessárias para desenvolver sua capacidade de falar em público. Ele montou uma sala subterrânea em casa, na qual se trancafiava para treinar horas a fio; e chegou a raspar apenas um dos lados da cabeça, para não poder sair de casa em períodos de treino intenso.
Um exemplo mais recente? Messi e Cristiano Ronaldo. Como nós sabemos, Messi tem uma habilidade fora de série. Mas Cristiano Ronaldo conseguiu, mesmo não sendo tão talentoso quanto ele, construir uma carreira igualmente bem-sucedida. Como? Com um esforço colossal. Ele chegou a ponto de contratar um medalhista olímpico para treinar a sua explosão no meio das suas férias pelo Real Madrid.
Olhando para os exemplos de Messi e Cristiano Ronaldo, poderíamos deduzir então que talento e determinação são equivalentes, correto? A resposta é “não”. Se engana quem pensa que Messi não treinou duro ao longo da carreira. Esses dias mesmo saiu um vídeo do argentino treinando, com uma intensidade assombrosa, numa quadra de areia. O talento ajuda? Com certeza. Mas sem a devida dose de esforço, de nada adianta.
Já falamos aqui no El Hombre sobre a “Teoria das 10 mil Horas“, que possui como base uma pesquisa desenvolvida por Anders Ericsson, professor da Universidade do Colorado. Ericsson acompanhou vários estudantes de violino, desde a infância até o final da adolescência, para descobrir o que diferenciava os músicos extraordinários dos medianos.
O estudo constatou que os violinistas mais talentosos eram aqueles que haviam praticado uma média de 10 mil horas, o que levou o pesquisador a concluir que “muitas das características que outrora acreditávamos refletir um talento inato são, na realidade, resultado de uma prática que se estende por um mínimo de dez anos”.
Anos mais tarde, tendo como base o trabalho de Ericsson, o jornalista britânico Malcolm Gladwell criou a Teoria das 10 mil Horas, segundo a qual seríamos capazes de virar experts em qualquer atividade contanto que dediquemos – surpresa! – 10 mil horas a ela.
Esta teoria causou muita polêmica no mundo acadêmico. Afinal, não dá para dizer que é necessário exatamente o mesmo número de horas para ser um grande violinista, jogador de futebol, ator, etc. Cada atividade tem suas particularidades, impossível generalizar. Além disso, fatores como a disposição genética e o talento natural podem alterar para cima (ou para baixo) esse número.
Mas um fato que está ficou acima da discussão? O esforço pode compensar — ou até mesmo superar — o talento.
A acadêmica Angela Duckworth, professora da Universidade da Pensilvânia, decidiu investigar mais a fundo esse debate entre talento vs esforço.
Numa TED Talk que protagonizou em 2013, e também em seu livro Garra: O Poder da Paixão e da Perseverança, Duckworth afirma ter se interessado por esse assunto depois de notar que o QI não era a principal diferença entre seus melhores e piores estudantes.
Ela realizou, então, uma pesquisa com crianças e adultos em diversos cenários desafiadores, mediante a seguinte questão: “Quem aqui é bem-sucedido e por quê?”
E ela descobriu que o principal fator do sucesso é a garra. Muitos indivíduos talentosos não conseguem atingir o seu potencial, Duckworth descobriu, especialmente quando possuem uma tendência à procrastinação, ao vitimismo e ao desânimo.
Aqueles que prosperam mantêm o foco em seus objetivos futuros e trabalham com determinação para fazer com que eles se tornem realidade. Nas palavras de Duckworth, “garra é ver a vida como uma maratona, não como uma simples corrida“.
Uma das obras mais influentes na área de desenvolvimento pessoal, Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, foi escrita por Carol Dweck, professora de psicologia da Universidade de Stanford.
De acordo com Dweck, a crença de que nascemos com características imutáveis limita o nosso progresso, causando a estagnação. E como evitar isso? A resposta é (relativamente) simples: desenvolvendo o que Dweck chama de “mindset de desenvolvimento”.
Ao passo que um mindset estagnado parte do pressuposto de que nosso caráter, inteligência e criatividade são fixos — e não podem ser alterados de maneira significativa — um mindset de desenvolvimento repousa sobre o princípio de que podemos nos aperfeiçoar e progredir independentemente de nossas habilidades naturais, que podem sempre ser aprimoradas. Nas palavras de Dweck:
A base [do mindset de desenvolvimento] é a convicção de que qualidades humanas como a inteligência e a criatividade, e até mesmo capacidades relacionais como o amor e a amizade, podem ser cultivadas através do esforço e da prática.
Quando adotamos esse mindset, somos capazes de encarar os desafios de frente e considerar o fracasso não como um indício de falta de inteligência, mas como uma oportunidade de elevar nossas habilidades.
Seguindo essa lógica, o passado deve ser visto apenas como um treinamento. Ele não nos define. A visão que adotamos a nosso próprio respeito, descobriu Dweck, afeta profundamente o modo como vivemos a nossa vida. Ela é um dos principais determinantes no que se refere ao nosso futuro.
E mais: ao priorizar o amor pelo aprendizado em detrimento da necessidade de validação e aprovação, o mindset de desenvolvimento nos torna pessoas mais confiantes, sábias e estáveis emocionalmente.
As pessoas mais bem-sucedidas são aquelas que, frente a uma adversidade ou a uma derrota, não agem como se o mundo tivesse acabado. E nem tiram conclusões desalentadoras sobre si mesmas ou sobre os outros. Elas simplesmente entendem que o fracasso não é uma condição permanente.
Voltando ao trabalho de Angela Duckworth, sobre as raízes do sucesso, vala a pena agora pararmos por um instante e fazer a seguinte pergunta: seria a determinação o aspecto mais importante do caráter de uma pessoa?
Para ela, não. “A garra não é tudo”, afirma na conclusão de seu livro. “Uma pessoa precisa de muitas outras qualidades para se desenvolver. O caráter é plural”. Quais outras características, portanto, precisaríamos aprimorar para ter sucesso na vida?
Para Duckworth, a pluralidade do caráter faz com que “nenhuma virtude seja muito mais importante do que as outras”. É um sábio recado que deveríamos nos lembrar sempre.
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