Eles chegam ao urologista de esfíncter contraído. Isso quando chegam. Quase metade dos homens no Brasil nunca foi ao médico examinar seus órgãos genitais, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). E não se trata apenas de se submeter ao famigerado exame de toque retal.
Odores estranhos e outros sintomas, como secreções e vermelhidão, podem indicar a presença de diversas DSTs. A maioria gera consequências mais graves para as mulheres – como é o caso da candidíase. Porém, homens também podem sentir seus efeitos, principalmente no longo prazo, se não houver tratamento.
Caso a parceira seja diagnosticada com Papiloma Vírus Humano (HPV), por exemplo, a indicação é se submeter a exames para verificar a necessidade de acompanhamento médico. Para se ter ideia de como a doença é comum, estudos indicam que cerca de 72% dos homens brasileiros de 18 a 70 anos têm o vírus HPV, transmissível mesmo com o uso de preservativo. A maioria nunca manifesta sintomas, porém o HPV pode causar verrugas genitais e até câncer de pênis, caso não tratado.
Vai arriscar?
Sem contar que câncer de próstata é o câncer que mais acomete os homens. E, considerando que as chances de cura são de 98% se diagnosticado em fase inicial, não há motivos para deixar de se prevenir.
Mesmo assim, segundo pesquisa do Datafolha, apenas 1/3 dos homens com mais de 40 anos (quando o toque passa a ser indicado) já fez o exame de próstata. O exame de sangue PSA é, em geral, mais aceito pelos homens – mas apenas indica o grau de predisposição à doença, portanto um não substitui o outro. A técnica mais eficiente de diagnóstico de câncer de próstata ainda é o toque. Mas o preconceito mata mais que o câncer.
Por que tanto medo? O mero toque na região do ânus não faz ninguém mudar de sexualidade – o que é meio óbvio. Há quem diga que é medo de gostar. Mas independente de qualquer preconceito, recusar-se a fazer o exame é um perigo, e as principais vítimas são os próprios homens.
De fato, o toque retal é uma técnica invasiva. Mas de que seria a medicina sem revirar nossos corpos, esmiuçar nossos fluidos e observar-nos por dentro? Faz parte do tratamento permitir-se ser investigado de cabo a rabo – nesse caso, literalmente.
A cada seis meses, as mulheres estão bem acostumadas a procedimentos ainda mais invasivos em seus exames de rotina no ginecologista – quando se deitam de pernas arregaçadas, para que sejam introduzidos nelas diversos artefatos diferentes, muitas vezes enquanto são filmadas por câmera de aumento.
Enquanto isso, homens continuam se arriscando, muitas vezes por razões tão tolas quanto não querer mostrar o pau para outro homem (o que na verdade não passa de um gesto tão simples e corriqueiro quanto o médico examinar um órgão).
44% do homens ainda precisam derrubar o tabu do urologista. E quem sabe, assim, tornar o sexo ainda mais seguro.