Talvez haja apenas uma grande certeza acerca dos relacionamentos de longa data: em algum momento a questão sexual se tornará um desafio.
Por mais que o amor fale mais alto, que a paixão ainda exista e que o desejo seja frequentemente abastecido, em algum momento a gente se deixa vencer pelo cansaço: dormir de conchinha se torna cada vez mais atraente e o sexo fica, quase sempre, em segundo plano.
Ou acontece de maneira cada vez menos satisfatória e com roteiro cada vez mais previsível. Deixa de se tornar surpreendente e excitante pra se tornar mais um capítulo da vida a dois – aquele pedacinho do qual não se pode abrir mão, afinal, todo mundo sabe que casais saudáveis têm que transar.
E é a partir desta máxima – tão taxativa quanto questionável – que o sexo de longa data passa a se tornar uma obrigação. A ideia de que um casal “normal” precisa necessariamente transar – e de que precisa ser bom – transforma a leveza do bom e velho sexo com intimidade na obrigação de agradar ao outro, a si mesmo e às projeções alheias sobre o nosso próprio relacionamento.
Na tentativa de se adequar aos padrões sexuais – porque sim, amigo, até o sexo obedece a padrões – muitos casais se perdem nos malabarismos para tornar uma relação morna de longa data numa paixão mais ardente que a de Scarlet O’hara.
Inventa-se mil lingeries, casas de swing, mènages amadores, fantasias sexuais e mais um milhão de fantasias que acabam – felizmente não sempre – por retirar a única coisa que pode tornar o sexo de fato prazeroso: a espontaneidade.
Procura-se grandes fantasias e orgasmos múltiplos e ganha-se, em vez disso, o peso da obrigação de se construir uma vida sexual tesônica.
Não é condenável – muito pelo contrário! – que se busque novas experiências em par. O que exige cuidado é a obrigação perigosa de sentir prazer – porque prazer não tem absolutamente nada a ver com obrigação. É leveza, é acaso, é vontade. Melhor do que buscar o prazer é flertar com ele e deixar que ele nos encontre.