Obrigado, The Office

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Há menos de duas semanas, no último dia 16, a rede NBC apresentou pela última vez um episódio inédito de The Office. 

O seriado nunca teve uma vida fácil. O começo da adaptação americana de The Office – criado por Ricky Gervais e Steve Merchant, para a BBC – sofreu com a audiência e crítica na primeira temporada. Segundo alguns atores, a equipe encarava a gravação de cada episódio como se fosse o último, tamanho o medo de ser cancelado.

Só foi renovado para uma segunda graças ao número de acessos que teve na iTunes Store. Conforme foi ganhando seu espaço, conseguiu melhores índices e, o que era para ser uma temporada de 6 episódios acabou com 22 (parte do interesse do público se deve ao sucesso de O Virgem de 40 Anos, que estrelava Steve Carell, nosso querido Michael Scott).

Carell viria a ganhar o Globo de Ouro por sua atuação como Michael Scott, e depois disso, a série se consolidou como uma das maiores dos Estados Unidos.

The Office, no começo, era o contraponto de sit-coms americanos como Friends. Por mais que a adaptação americana tenha um tom mais otimista ao invés do depressivo que impera na versão inglesa, é impossível não perceber que The Office, mesmo engraçadíssimo, era uma série bastante melancólica.

Apresentava um chefe solitário e sedento por atenção, um grupo de pessoas que o odeia e não se dá bem – e só convivem entre si por pura obrigação -, uma personagem triste com seu noivado e insatisfeita com o andamento de sua carreira e um mocinho igualmente infeliz no seu trabalho e apaixonado por uma mulher que não pode ter, convivendo com pessoas ignorantes e malucas.

E é por conta desse grupo de personagens distinto e da exploração de seus estereótipos – o estrangeiro, o velho pilantra, a bêbada depravada, a religiosa, o gay no armário, o nerd – que The Office trazia o humor: um conjunto de pessoas que não tem nada a ver uma com a outra. Os roteiristas usavam um humor inteligente explorando a ignorância de alguns dos personagens, batendo em temas tabu como racismo e homossexualidade. De fato, era muito mais pesado do que um Friends, mas igualmente genial.

Tecnicamente, The Office também se diferenciava dos outros, com uma linguagem documental, câmera na mão, edição com cortes secos e a decisão de raramente usar trilha sonora e claque (música só era utilizada no seriado se estivesse presente no escritório, sendo ouvida pelos personagens) dava um realismo a parte (algo parecido com o que Arrested Development já havia feito, mas indo um pouco além). A linguagem do seriado já era uma piada pronta, usando a edição e o fato da câmera ser mais um personagem, com movimentos espontâneos e aparentemente não calculados, era uma outra forma de arrancar humor nos episódios.

Os produtores contam que, mesmo já tendo o que queriam em uma determinada cena, pediam para que os atores fizessem um take de improvisação – isso leva a muitos momentos icônicos do seriado, como a cena em que Michael dá um beijo na boca de Oscar. Steve Carell teve a ideia na hora e não contou para ninguém.

E esse realismo na linguagem do seriado acabava influenciando o roteiro. The Office tem muitos momentos bonitos sem precisar causar alvoroço ou criar um grande drama. Capturava o romance de Jim e Pam e a solidão de Michael, por exemplo, de formas muito humanas – e foi assim até o fim da série.

Com a saída de Greg Daniels (produtor executivo dos Simpsons e responsável pela criação da adaptação americana) como showrunner na 5a temporada, a série acabou ficando sem rumo. Muitos dos arcos narrativos criados por Daniels foram concluídos – principalmente Jim e Pam – e os roteiristas pareciam sempre criar alguma história nova para depois desistir. Os episódios mais pareciam uma junção de sketches do que uma história coesa. Apesar de bons momentos, a série não prendia mais como antes, e a audiência foi baixando.

Até a má notícia de que Steve Carell não renovaria para uma nova temporada pareceu ter um fim produtivo na sétima temporada, dando a ela um rumo, com uma resolução para a história de Michael Scott, despedidas emocionantes e participações especiais, como a de Will Ferrell e James Spader.

Mas a primeira temporada sem Michael Scott foi um verdadeiro desafio e encontrou muitos problemas – da minha parte, acho que a série consegue se acertar. A audiência continuou caindo e o elenco já se mostrava insatisfeito – muitos deles, inclusive, já estavam mais preocupados com sua carreira no cinema, principalmente no caso de John Krasinski e Ed Helms, que conseguiu sucesso com Se Beber, Não Case.

Mas mesmo assim, os produtores e atores se uniram para fazer uma última temporada, terminando a série da forma que merece – e a melhor notícia foi a volta de Greg Daniels como showrunner. Sua promessa foi fazer exatamente o que faltou nas temporadas em que não supervisionou: criar grandes arcos.

Assim, muitas histórias que não haviam sido aproveitadas anteriormente tiveram uma resolução na 9a temporada. A relação de Jim com Pam e os planos de carreira de Jim e Andy também recebem um foco importante. Até o documentário em si ganha uma explicação – por meio de vias tortas em alguns momentos, é verdade, arrumando soluções as vezes até ingênuas.

Mas o produto final foi louvável, uma justa homenagem aos momentos marcantes da série, com o final otimista e positivo que era esperado da versão americana – o episódio final é corajoso, avançando um ano no tempo para ver como a vida dos personagens ficou e, claro, mostrar que tudo está bem.

The Office acabou finalmente tendo uma temporada do mesmo nível de seu começo, fazendo justiça a uma série amada por muitos, que criou personagens marcantes como Dwight e Michael Scott, encantou audiências e ajudou a renovar o gênero – Modern Family, por exemplo, não existiria sem The Office.

Por essas e por outras: obrigado, The Office.

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Diego Marques

Diego Marques é formado em Rádio & TV pela FAAP; fez um curso de televisão na National Film and Television School, em Londres; e estudou cinema na New York Film Academy.

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