Os 15 álbuns que fizeram de 1994 o último grande ano da música

Compartilhe

Oasis, Raimundos, Green Day, Chico Science, Prodigy… Sim, o tempo passa, o tempo voa, e lá se vão vinte anos desde que esses caras sacudiram o mundo.

Em 1994, os irmãos Gallagher lançavam o seu primeiro disco, assim como o Weezer e o Portishead. Chico misturava maracatu com psicodelia no Recife, e os Raimundos apimentavam o rock com forró em Brasília.

Na Inglaterra, o Prodigy apresentava a música eletrônica para as massas, enquanto que da Califórnia Green Day e Offspring mostravam que o punk podia sim frequentar o pop.

Se a bomba havia sido armada pelo Nirvana três anos antes, foi em 1994 que ela de fato detonou.

Há exatos 20 anos, o grunge atingia o seu pico de popularidade, indies ganhavam o mainstream, o punk rock tomava o FM e o Brasil se permitia misturar. Em outras palavras, foi o último grande ano na música. “Foi o momento em que tudo o que estava acontecendo na música se catalisou”, disse, certa vez, Carlos Eduardo Miranda, produtor responsável pelo selo Banguela Records e, por meio dele, por lançar os Raimundos e Mundo Livre S/A.

Ao contrário de outros momentos que fomentaram um ou outro estilo sonoro (como o próprio nascimento do grunge em 91), 1994 foi estupidamente democrático. Abriu as portas para muitas vozes, muitas bandeiras e sonoridades. Do remelexo do cenário musical tupiniquim à popularização do trip-hop, 94 foi o ano que assimilou a lição deixada por Kurt Cobain: era possível ser autêntico e rentável, alternativo e ao mesmo tempo ter sucesso comercial.

Primeira geração nascida fora das grandes gravadoras, a de 94 instituiu uma democracia musical nunca antes vista. E em uma era imediatamente pré-internet.

Não fosse pelos Gallagher, Billie Joe, Chico e outros tantos, não fosse por tudo o que foi criado e lançado naquele ano, nada do que conhecemos hoje seria o mesmo.

Relembre os 15 discos de 1994 que mudaram os rumos da música.

Raimundos – Raimundos

Harcore com forró. Loucura? Foi o que fez o Raimundos em 94, quando lançou o seu auto-intitulado álbum de estreia.

Com bom humor, ironia, letras de duplo sentido e guitarras massacrando os alto falantes,  o grupo de Brasília mostrou que o rock podia ser divertido, sim.

Nunca antes na história deste país alguém tinha ouvido palavras como “puteiro” e “anus” soando alto no FM.

Green Day – Dookie

Os mais puristas rejeitaram, mas o fato é que Dookie foi o álbum que fez o punk rock finalmente ter o seu lugar ao sol.

A bolacha vendeu 10 milhões de cópias, rendeu ao Green Day um Grammy e abriu caminho para bandas mais true como NOFX e Bad Religion também engordarem suas contas bancárias (o NOFX lançou naquele mesmo ano Punk in Drublic, até hoje o álbum mais vendido do grupo, enquanto o Bad Religion chegou ao topo das paradas com Stranger Than Fiction).

É como se 1994 fosse o novo 1977 para o punk rock – só que com uma roupagem “MTV-friendly” para embalar as massas.

Offspring – Smash

“Come Out and Play”, “Self Esteem”, “Gotta Get Away”… Quem não bateu cabeça ao som de Offspring levanta a mão. Junto com o Green Day, a banda de Dexter Holland ajudou a revitalizar o grito punk em um nível planetário.

Ainda hoje, Smash é o álbum mais vendido de todos os tempos a ser lançado por uma gravadora independente – a Epitaph Records, fundada (veja só) pelo guitarrista do Bad Religion, Brett Gurewitz.

Portishead – Dummy

Era outubro de 1994 e o Portishead lançava Dummy. Estava ali, em uma coleção de 10 canções, a pedra fundamental do trip-hop.

Estilo que mescla música eletrônica e hip hop, com toques de soul, funk, jazz e aberto a experimentações, o trip-hop ganhou fama quando o álbum de estreia do Portishead venceu o Mercury Prize daquele ano (batendo concorrentes fortes, como Oasis e o seu Definitely Maybe).

O Portishead levou o gênero ao FM com o hit “Glory Box”, e ajudou a dar a ele o apelido de “Bristol sound” – afinal, tanto o grupo liderado por Beth Gibbons quanto o Massive Attack (outro grande expoente do trip-hop) vieram da metrópole inglesa.

Beck – Mellow Gold

“Soy un perdedor / I’m a loser, baby / So why don’t you kill me?”

Se a geração 90 era a geração perdida, Beck criou o seu hino.

Mellow Gold é o terceiro álbum da carreira do cantor. Com atitude anti-comercial e recheado de ironia, foi um sucesso comercial inesperado: chegou ao topo da Billboard, vendeu mais de 1 milhão de cópias e tornou Beck um ícone da música independente.

Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama Ao Caos

“As ideias eram frescas, a música também e a hora era propícia”, já disse o guitarrista Lucio Maia, da Nação Zumbi.

Pois foi com essa combinação que, ao lado de Chico Science, a banda lançou o disco que fincou a bandeira do manguebeat, tornando o movimento de contracultura do Recife soar nos quatro cantos do país.

Mistura de rock, funk e ritmos regionais, Da Lama Ao Caos é considerado um dos maiores álbuns da música nacional.

Oasis – Definitely Maybe

Em 30 de agosto de 94, os irmãos Gallagher se apresentam ao planeta com Definitely Maybe.

O disco não só bateu o recorde de estreia com venda mais rápida na Inglaterra, mas escancarou as portas para bandas como Pulp e Supergrass e instalou um duelo declarado de gigantes: Oasis vs Blur.

Pronto: estava inaugurado o britpop.

Blur – Parklife

Damon Albarn e cia já haviam estreado um ano antes (com o pequeno fracasso Modern Life Is Rubbish), mas foi com Parklife e hits como “Girls & Boys” que a banda cravou o seu nome na história da música.

Ao lado do Oasis, o Blur ajudou a consolidar a identidade do pop britânico que já vinha sendo plantada desde os anos 1960.

Racionais MC’s – Racionais MC’s

“Fim de Semana no Parque”, “Homem na Estrada”, “Mano Na Porta do Bar”… Esta não foi a estreia dos Racionais, mas foi o álbum que os transformou na maior banda de rap do país – e, de quebra, fez brancos e negros, ricos e pobres cantarem sobre as desventuras de viver na periferia de um país tão desigual quanto o nosso Brasil.

O rap nacional chegava às massas.

Beastie Boys – Ill Communication

Quem não lembra de “Sabotage”, rap meio rock que ganhou vídeo bombástico dirigido por Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich, Adaptação, Her)?

Pois foi puxado pelo hit arrasa quarteirão que os Beasties posicionaram o “rap branco” no cenário musical.

Ill Communication acabou vendendo mais de 3 milhões de cópias, foi eleito por conceituadas publicações como Rolling Stone, NME e Q um dos mais importantes álbuns dos anos 90, e ajudou o Beastie Boys a se tornar o grupo de rap que mais vendeu discos desde 1991.

Prodigy – Music For a Jilted Generation

Se o sucesso mundial para e arrebatador veio mesmo em 96, com o lançamento de The Fat of The Land, o pontapé inicial da conquista do Prodigy veio dois anos antes. Com Music For a Jilted Generation, seu segundo álbum, a banda começou a levar a música eletrônica para as massas.

Com batidas de pista e pegada quase punk, o Prodigy transformou a cultura rave em cultura mainstream.

Skank – Calango

Antes dele, uma banda independente que se apresentava pelos bares de Belo Horizonte. Com ele, mais de um milhão de discos vendidos e os maiores palcos do Brasil.

Com pitadas de reggae, rock e raggamufin, o Skank confirmou: a música brasileira estava mesmo a fim de jogar referências sonoras no liquidificador.

“Nossa geração buscava criar uma nova identidade para a música brasileira, e se diferenciar da geração dos anos 80”, já comentou Samuel Rosa, líder do grupo.

O Rappa – O Rappa

Eclético, engajado, político. Se o sucesso veio mesmo dois anos depois com Rappa Mundi, o autointitulado álbum de estreia do Rappa balançou o cenário pop brasileiro. Mostrou que a mistura de ritmos e ideias ditava a nossa música, e que tínhamos, sim, muito a dizer.

Weezer – Blue Album

Impulsionado pelo Nirvana anos antes, outros grupos independentes começaram a botar o seu bloco na rua. Havia outros nomes, claro (Jeff Buckley, Pavement, etc), mas ninguém chegou as massas como o Weezer.

Com os hits radiofônicos “Say It Ain’t So” e “Buddy Holly”, o álbum de estreia do Weezer apresentou ao mundo o termo “indie”. E olha que a banda havia sido formada menos de dois anos antes…

Soundgarden – Superunknown

Sim, Kurt Cobain já abandonara o barco. Mas, em 1994, o grunge ganhou o seu último – e, quem sabe, o seu melhor – respiro. Em grande parte, graças a Superunknown.

O quarto álbum do Soundgarden trazia “Black Hole Sun”, até hoje o rock que mais tempo permaneceu no topo da Billboard.

A banda ganhou fama mundial, e o grunge uma sobrevida – também naquela temporada, Stone Temple Pilots, Pearl Jam, Alice in Chains e Hole lançaram discos que ultrapassaram os milhões de vendas.

Sem contar Unplugged in New York, gravado pelo Nirvana em novembro de 1993 mas lançado um ano depois, que fechou 94 com a assinatura de o último grande ano na música.

Tomás Bello

Jornalista de cultura pop, comanda o estúdio de branded content Oui Oui e escreve sobre música para o El Hombre. Foi editor da revista Noize e apresentador nas rádios Oi FM, Ipanema FM e 95bFM. Já entrevistou uma porrada de gente grande da música pop, entre eles The Black Keys, Justice, Queens of the Stone Age e The xx. Acredita que a música é a cura para todo mal.

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.

Saiba Mais