“Cara, em 1963, quando os Beatles apareceram e eu ouvi as primeiras vezes, era como hoje a pessoa ouvir Justin Bieber. Não era mais do que isso”, diz Caetano Veloso. “Achei bonitinhas as canções, um negócio meio simplório assim, porque, veja bem, eu gostava do Thelonious Monk.”
Há 50 anos, os Beatles lançavam seu primeiro álbum, Please Please Me. Foi gravado em escassas 12 horas, a toque de caixa, com basicamente o repertório do show. Custou módicas 400 libras. Depois de liquidarem a música que dá nome ao disco, o produtor George Martin felicitou o quarteto: “Parabéns, senhores. Vocês acabam de fazer seu primeiro número 1 das paradas”.
Caetano fez um julgamento apressado e depois virou fã dos caras – a ponto de copiar o conceito de Seargent Pepper’s em sua fase tropicalista. A culpa não é totalmente dele. Thelonious Monk, afinal, é Thelonious Monk. Mas, definitivamente, ele não ouviu direito.
Please Please Me tem 14 canções que ainda soam urgentes e frescas. Há algumas bobagens, como Do You Want to Know a Secret. Mas o resto é uma pequena amostra do que estava por vir. A primeira faixa, I Saw Her Standing There, tem a famosa contagem (one, two, three, FOUR), antes de entrar a banda com a força punk das noites insanas em Hamburgo e no Cavern Club.
Tem Ask Me Why, com as harmonias matadoras. Tem John tentando imitar Roy Orbison em Please Please Me, com a letra de duplo sentido, o riff de guitarra e a gaita que ele abandonaria depois. E tem, afinal, ele mesmo se esgoelando em Twist and Shout, sem camisa no estúdio de Abbey Road, registrada num único take. Eles tentaram fazer outro, mas a voz de Lennon já tinha ido para o espaço, apesar dos litros de leite da cantina para mitigar a dor na garganta. A capa virou um clássico instantâneo.
A BBC convidou alguns artistas para regravar as músicas. Stereophonics, Mick Hucknall, Joss Stone e outros fizeram suas versões no mesmo estúdio. Please Please Me permaneceu no topo das paradas por 30 semanas até ser desbancado pelo trabalho seguinte, With The Beatles. Ali estava presente um novo som, combinando a energia do rock com as vozes de John, Paul e George. Basta escutar com atenção. Não tem nada a ver com Thelonious Monk. E no dia em que Justin Bieber soar daquele jeito estaremos próximos do Juízo Final.
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