Irado é aquele que explode, que enfurece, que transborda. É cólera, raiva, irritação. Algo que nos toma, inunda, nos embriaga.
Ira é tudo aquilo que desperta o mais primitivo em cada um de nós. O animal. O monstro.
A ira é também paixão. Paixão que incita toda a nossa agressividade contra alguém ou algo. É indignação furiosa. Desejo veemente por vingança. Sentimentos tão opostos quanto complementares.
Entre eles há o ciúme. Willian Shakespeare o descreve como “o monstro de olhos verdes”. Aquele que cega, que ataca, que mata.
Um sujeito enciumado é também irado. Mas ciúme, muitas vezes, é tido como prova de que há o amor.
Curioso pensar como virtudes e pecados se mesclam em nós.
Mas e quando a ira do ciúme transborda a normalidade e traz grande raiva e desejo de controlar o outro?
Ao ciúme está ligado o medo de perder algo que se tem apreço. É a ameaça de que outro alguém ganhe destaque na vida de quem amamos, como um terceiro elemento que invade uma relação dual.
Uma posição de destaque profissional que sua mulher ocupa, ou as amigas que você faz na academia podem representar quadros ameaçadores.
Homens e mulheres não estão livres desse sentimento.
LIMITES DO CIÚME SAUDÁVEL
O ciúme tido “normal” é controlável e está intimamente ligado a fatos reais. Não limita a vida de quem o sente ou de quem é alvo, e costuma desaparecer após uma DR – tão odiada pelos homens.
Porém, o ciúme extrapola quando se torna uma preocupação exagerada e constante na vida do casal, como um desejo incontrolável de invadir a privacidade do parceiro. As desconfianças são, nestes casos, infundadas e externadas por quem as sentem por meio de comportamentos extravagantes e inaceitáveis.
São comuns e até naturais demonstrações de ciúmes quando o chefe de sua namorada a presenteia com regularidade, ou aquele amigo não para de elogiá-la. Mas, em sua maioria, estes sentimentos “têm certa razão” e desaparecem após uma discussão em que aquilo que o incomodou é apresentado e aceito pela parceira.
Já no ciúme excessivo, o medo de perder a pessoa amada vem acompanhado de emoções específicas, como ira, raiva, medo, tristeza, ansiedade, e pensamentos irracionais, representando prejuízos para quem o sente e também para quem é alvo.
Estes pensamentos irracionais comuns aos ciumentos excessivos não raro traduzem-se em comportamentos compulsivos, como verificar agendas, registro de ligações no celular, seguir o parceiro, conseguir senha de acesso ao e-mail, checar faturas de cartão de crédito e fazer visitas-surpresa para confirmar suspeitas.
Sustentados pela ilusão de que é possível controlar o que a pessoa faz ou sente, estas preocupações são acompanhadas por sintomas físicos como suor excessivo, aceleração cardíaca, alterações no apetite e insônia.
No ciúme patológico dúvidas se transformam em ideias supervalorizadas. A ameaça de um rival transforma o ciumento em alguém inseguro e controlador. Ele quer saber quem enviou mensagens, que e-mails o companheiro recebeu e por qual motivo, com quem falou e sobre o que, onde está e a que horas voltará, quem são os amigos e porque os têm.
O ciumento acha que se a pessoa se arruma é “para o amante”, se há algum atraso é motivo para brigas e questionamentos intermináveis, e, por mais que tente aliviar seus sentimentos, nunca estará satisfeito, permanecendo o mal-estar da dúvida.
A vida a dois transforma-se num verdadeiro inferno.
AUTOESTIMA NOS CIUMENTOS
Em uma pesquisa divulgada pelo Laboratório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), uma das características mais comuns da pessoa excessivamente ciumenta é a baixa autoestima.
Este sentimento é responsável por aquele que o sente não considerar-se merecedor daquilo que tem, se desvalorizando e entendendo que não merece respeito. A princípio é alguém “traível” e abandonável, uma vez que não vê sentido no porquê de seu parceiro estar com ele, acreditando que a honestidade e a reciprocidade nas relações não valem à pena.
UMA VIA DE DUAS MÃOS
O ciúme excessivo é uma patologia que atinge dois e não um em um relacionamento. O “destinatário” sofre com as cobranças e invasões, e vive em uma verdadeira prisão ao lado de alguém possessivo e controlador.
Já o “remetente” é este que vive em constante tensão e desconfiança, perdendo por completo sua tranquilidade perante a vida em função de algo que o consome. É comum que o relacionamento se deteriore, e por isso ambos precisam ser ouvidos e cuidados.
COMO TRATAR O CIÚMES EXCESSIVO
O tratamento para o ciumento excessivo combina atendimentos psicológicos, em grupo ou individual, e psiquiátricos. É comum que este sintoma venha também relacionado a outros distúrbios como depressão e ansiedade, e, por isso, quando diagnosticados são tratados com medicamentos.
Já o atendimento psicoterápico trabalha a melhora da autoestima do paciente e a segurança com o próprio relacionamento em que ele está inserido.. Dessa forma, há diminuição de comportamentos como investigar o que o parceiro faz na rede, seguir, ou vasculhar seus pertences.
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