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Os franceses e o Coliseu

Jacob Abott é um americano que viveu no século 19.

Tinha vários talentos, mas em nenhuma área se deu tão bem como nos livros populares de história que escreveu. A maior parte deles foi destinada a jovens leitores que, numa época em que conhecer o mundo era dificílimo, viajaram com Abott para destinos que provavelmente só conheceram pelas páginas dos livros.

Li vários deles, que encontrei – de graça – no iBooks. Estão em minha biblioteca virtual, e são queridos. Os mais divertidos são os da série Rollo. Rollo é um garoto americano que faz viagens ao lado de seu tio George. Acabo de ler Rollo em Roma, por razões óbvias.

Foi como uma segunda viagem a Roma além da que fiz. Abott fala, por exemplo, do Coliseu. As maiores filas de Roma são sempre no Coliseu. Desanimei sempre que fui lá, e me contentei em andar nas cercanias, acossado por gladiadores que tiram quanto dinheiro podem de você.

O Coliseu foi construído no primeiro século da Era Cristã. A inauguração foi tão animada que durou 100 dias, ao longo dos quais 5000 animais selvagens morreram aos olhos de uma platéia sedenta de sangue. Eram leopardos, leões, tigres, e foram mortos ou em lutas entre eles mesmos ou por gladiadores.

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Durante 400 anos o Coliseu abrigou combates de gladiadores. Quando Roma foi sitiada por bárbaros, serviu de fortaleza. A queda de Roma foi a queda do Coliseu. Reis, papas, patrícios em geral – a aristocracia romana – fizeram um trabalho de pilhagem. Muitos palazzos romanos foram construídos com mármores, pedras e colunas roubadas do Coliseu.

Ninguém ligava para ruínas. Não, pelo menos, as autoridades romanas.

Quem devolveu a grandeza histórica ao Coliseu, como conta Abott, não foram os romanos. Foram os franceses, na era napoleônica. Os franceses – as tropas estavam sempre acompanhadas de cientistas, historiadores, intelectuais de variadas espécies — colocaram fim à pilhagem do Coliseu, e o fizeram ser o que você vê hoje.

Quando você for ao Coliseu, e sentir um arrepio, lembre-se, por um momento, dos franceses, dos maravilhosos, indômitos franceses que na ponta das baionetas e aos gritos de liberdade, fraternidade e igualdade empurraram o mundo para o futuro.

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Paulo Nogueira
Paulo Nogueira
Paulo Nogueira (1956-2017) é o pai de Pedro Nogueira, editor-chefe do El Hombre. "Ele foi meu herói", diz Pedro. "E continua sendo." Ao longo da carreira, dirigiu várias revistas da Abril e da Globo. Também escreveu artigos para o El Hombre que, frequentemente, reeditamos e republicamos no site.