Abençoados somos nós, fãs de tênis, pela oportunidade de ver Federer, Nadal e Djokovic juntos em quadra, pois o mundo vive hoje a sua Era de Ouro do tênis. Nunca uma geração de tenistas foi tão dominante quanto essa. Mas surge a questão: seriam eles os melhores tenistas de todos os tempos? E qual dos três leva vantagem sobre os outros?
Para elaborar um ranking dos GOATs — como dizem os ingleses “Greatest Of All Time” — usamos como parâmetro principal os números de cada jogador. Mas também colocamos em perspectiva o contexto histórico de suas vitórias, pois os grandes campeões são medidos pelos seus rivais e pelas circunstâncias.
É quase unânime: para a maioria dos fãs do tênis, Roger Federer é o melhor tenista da história. E os números sustentam isso. Ele é o maior vencedor de Grand Slams, com 20 títulos, empatado com Rafael Nadal; e tem o recorde de semanas como 1º do mundo, com 310. Sua longevidade no esporte impressiona também. Aos 39 anos, Federer continua entre os Top 5 do ranking.
Não bastasse os números, a forma como Federer os conquistou também é um fator relevante. Ele é um jogador altamente agressivo (diferente de Nadal e Djokovic, que dependem muito da defesa), com golpes plasticamente belos, como os seus voleios e o seu backhand de uma mão.
Justiça seja feita, os números de Nadal e Djokovic estão bem próximos aos dele atualmente. Mas aí entramos num tira-teima subjetivo: Federer é um atleta que transcendeu o esporte, tornando-se um símbolo de elegância ao redor do mundo. Um exemplo disso? Hoje, mesmo estando atrás de Nadal e Djokovic no ranking da ATP, ele foi o atleta mais bem pago de 2020 entre todos os esportes, à frente de nomes como Messi, Cristiano Ronaldo e LeBron James.
Existe uma possibilidade real de Nadal e Djokovic superarem os números de Federer nos próximos anos. Mas o significado de Federer para o tênis é semelhante ao de Senna para a Fórmula 1, Muhammad Ali para o boxe e Michael Jordan para o basquete. Isso será difícil alguém tirar dele um dia.
Aqui temos um fato indiscutível: Rafael Nadal é o maior jogador da história do saibro. E por uma grande margem. Nunca um atleta foi tão dominante numa única superfície quanto ele: são 100 vitórias e 2 derrotas em 16 edições de Roland Garros, com aproveitamento de 98%. Surreal.
E mesmo sendo especialista em saibro, Nadal conseguiu ganhar dois títulos na grama da Wimbledon, quatro no cimento do US Open e um nas quadras sintéticas do Australian Open, atingindo 20 conquistas ao todo, um recorde que ele divide com Federer. Uma curiosidade? Seu retrospecto é positivo contra o suíço: 24 vitórias e 16 derrotas.
Numa comparação com Djokovic e Federer, o espanhol de 34 anos tem outra vantagem: só ele atingiu o chamado “Golden Slam”, que inclui vencer os quatro torneios de Grand Slam (Austrália, Roland Garros, Wimbledon e US Open) mais a medalha de ouro nas Olimpíadas em simples. Para Federer e Djokovic, falta o ouro olímpico.
Novak Djokovic, de 33 anos, dominou o circuito nas últimas temporadas — e continua hoje na liderança do ranking mundial. Sua coleção de Grand Slams já conta com 17 títulos, ficando atrás apenas de Federer e Nadal, com 20 cada. Mas no mano a mano, ele leva a melhor sobre ambos: 27×23 versus Federer e 29×27 versus Nadal.
Ele também é o recordista de títulos de ATP Masters 1000, que no circuito fica atrás apenas dos Grand Slams em termos de importância: são 36 troféus, um à frente de Nadal.
Por fim, vale notar que ele é o vice-líder em semanas como número 1 do mundo e que conseguiu ganhar os quatro Grand Slams (Austrália, Rolando Garros, Wimbledon e US Open) em sequência, algo que nem Federer, tampouco Nadal, conseguiram.
Antes da geração Federer-Nadal-Djokovic despontar, a grande discussão entre o maior tenista da história era entre Pete Sampras e Bjorn Borg. O americano tinha ao seu lado o recorde de Grand Slams, com 14 títulos, que acabou sendo tomado por Federer e Nadal.
Mas a chegada deles não diminuiu o tamanho de Sampras no tênis. Sampras ficou 286 semanas como número 1 do mundo, recorde batido apenas por Federer depois.
Tenista mais dominante dos anos 90, ele ganhou sete vezes Wimbledon, o torneio mais prestigioso do circuito. Ficou faltando em seu currículo um título em Roland Garros. Com seu jogo agressivo de saque e voleio, Sampras nunca conseguiu chegar mais longe do que na semifinal do lento saibro francês.
E sabe aquela história de que os grandes campeões são medidos pelos seus rivais? Ele bateu de frente 34 vezes na carreira — muitas vezes em finais — com seu compatriota Andre Agassi, outro gigante do tênis, detentor de oito Grand Slams.
O sueco Bjorn Borg é um fenômeno. Apesar de ter menos títulos de Grand Slam do que Federer, Nadal, Djokovic e Sampras, todas as suas 11 conquistas foram realizadas até os 25 anos, quando se aposentou precocemente ainda no auge. Para se ter ideia, na temporada de 1981, a sua última, ele foi campeão de um Grand Slam, fez final de dois e não disputou o quarto.
Aliás, Borg nunca disputava o Aberto da Austrália. Ele fez apenas uma aparição, aos 17 anos, e depois nunca mais voltou para lá. Então você pode imaginar até onde teria chegado sua lista de troféus caso ficasse na ativa até uns 30 anos e jogando todos os Grand Slam possíveis?
Sua porcentagem de vitórias em Grand Slams é a mais alta entre todos os jogadores desta lista: ele saiu vitorioso em 89% das partidas disputadas. E se você acha que isso foi feito em cima de adversários fracos, saiba que ele viveu a primeira Era de Ouro do tênis, com John McEnroe e Jimmy Connors, dois dos maiores jogadores da história, no circuito com ele.
No começo dos anos 1990, Borg até tentou voltar ao tênis, mas aí já estava em idade avançada e ainda usava uma raquete de madeira, enquanto os outros jogadores possuíam os avançados modelos de grafite. Não deu certo, mas nem isso conseguiu diminuir sua épica carreira dos anos 1970.
Seria injusto fazer uma lista dos maiores tenistas da história e não citar certos nomes. Começo pelos americanos John McEnroe (7 Grand Slams, foto acima) e Jimmy Connors (8), que fizeram com Borg dos anos 1970/80 a primeira Era de Ouro do tênis.
O tcheco Ivan Lendl (7) e o alemão Boris Becker (6) também merecem uma menção, por ajudaram a moldar o “power tennis” que conhecemos hoje, cheio de golpes fortes, velozes e precisos.
Andre Agassi (8) foi outro mito, que brilhou com Sampras nos anos 90, uma das rivalidades mais fascinantes na história do esporte.
O britânico Andy Murray (3) também merece elogios. Ele só não ganhou mais títulos porque teve a concorrência mais forte da história: Djokovic, Federer e Nadal. Mas ainda assim faturou três Grand Slams, o ouro olímpico e chegou à liderança do ranking da ATP.
Por fim, é impossível não lembrar de Gustavo Kuerten (3), que mesmo com tantas lesões, sagrou-se tricampeão de Rolando Garros e foi um dos maiores jogadores de saibro da história. Com seu talento e carisma, foi um verdadeiro herói para os brasileiros, os franceses e todos os fãs do tênis.
O tênis teve grandes jogadores anteriores a década de 1970 também. Por que não citei nenhum deles antes? Achei mais adequado separá-los numa categoria à parte, pois eles disputaram o circuito num momento anterior e bem diferente da Era Aberta.
Até 1967, os torneios de Grand Slam não permitiam a participação de tenistas profissionais, que ganhavam dinheiro para jogar. Em 1968 essa filosofia foi abandonada e, assim, teve início a chamada Era Aberta que conhecemos hoje.
Naquele tempo viveu o australiano Rod Laver (11 Grand Slams, foto acima), um mito das quadras. No começo dos anos 60 ele ganhou 6 títulos de Grand Slam, incluindo todos os 4 na temporada em 1962; então ficou 5 anos sem disputá-los porque se profissionalizou; e quando a Era Aberta nasceu, faturou mais 5 trofeus, sendo os 4 da temporada de 1969.
Talvez Laver tivesse atingido mais de 20 conquistas de Grand Slam, caso não tivesse passado os 5 anos de seu auge fora de Wimbledon, Rolando Garros, US Open e Australian Open. Se a lista fosse geral, ele brigaria com Federer pelo posto de número #1. Mas por serem épocas tão diferentes, achei mais adequado separar a fase pré-profissional do tênis da Era Aberta.
Aí temos também o americano Don Budge (6), que ganhou 6 de 11 Grand Slams disputados (mais de 50% de aproveitamento) e depois se profissionalizou. As vitórias foram consecutivas, por sinal. E o australiano Roy Emerson (12), único homem da história a ganhar os 4 Grand Slams em simples e dupla.
Há outros jogadores lendários como Bill Tilden (10), que dominou o tênis na década de 1920, e Fred Perry (8), o grande nome dos anos 30. Eles plantaram a semente do que o esporte virou hoje. E caso estivessem vivos, ficariam felizes em saber que o presente e o futuro do tênis estão em ótimas mãos.
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