Existem registros a respeito do uso de cacau desde 1100 antes de Cristo. Utilizado nas Américas pelas civilizações Asteca e Maia, esta semente era amassada para formar uma bebida amarga, com uma pronúncia semelhante a chocolate, bastante diferente do que conhecemos atualmente, usada para oferendas aos deuses e cerimônias religiosas.
Foram os europeus os responsáveis por adocicar o cacau; com isso, ele foi ganhando novos tipos, novas formas, mais gordura, mais açúcar, e cada vez menos cacau. O “chocolate” branco, por exemplo, é feito basicamente de manteiga, sem cacau. Já os “chocolates” ao leite são feitos com uma proporção de 20 a 30% de cacau, enquanto os amargos vão de 50 a 90%.
Escrevo “chocolate” entre aspas, pois há atualmente uma briga a respeito da definição: diz-se que o doce que conhecemos deve ser chamado de “doce com sabor de chocolate”, e o termo chocolate deve ser reservado às versões amargas, com teor de cacau entre 70 e 90%.
As controvérsias do chocolate, contudo, não param por aí. Por muito anos, você com certeza ouviu que ele faz mal (assim como ovo); mas, e se você lesse por aí que ele não só emagrece, como diminui os riscos de derrame e infarto? Pois é. E mais: não somente o amargo, mas também o tal do “doce de chocolate”. Surpreso? Os cientistas também.
São muitos estudos a respeito. Em ciência, quando temos uma série de estudos, podemos compilá-los, juntar seus participantes, e criar estudos gigantescos – as meta-análises. Um estudo deste tipo, liderado pelo Dr. Oscar Franco e publicado no British Medical Journal, usando pouco mais de 114 mil pessoas, identificou que o consumo regular de chocolate diminui seu risco cardiovascular – ou seja, de infarto e derrame – em até 37%. E é dose-dependente – ou seja, quanto mais, melhor.
Os estudos, contudo, não compararam os tipos de chocolate entre si, de forma que a recomendação que fica é a parcimônia. Apesar do grande número de participantes, como todo “remédio”, é necessário definir uma dose e um tipo adequado. Muitos recomendam especificamente o chocolate amargo.
Um estudo sueco, entretanto, desmentiu isto. Um estudo de seguimento de mais de 37 mil homens suecos, por mais de dez anos, mostrou que o consumo de chocolate diminuiu em 17% o risco de derrame cerebral. A dose média era de 63g (aproximadamente 2/3 de uma barra) por semana. E, para cada 50g acima disso, o risco caía em mais 14%! E o melhor: 90% do chocolate consumido pelos suecos é ao leite.
Como é possível? A explicação dos cientistas repousa nos flavonoides, substâncias antioxidantes e anti-inflamatórias que também são encontradas no suco de uva e, em maior quantidade, no vinho (ah, quanta notícia boa!). Estas substâncias diminuem o colesterol ruim – o que diminui o processo de aterosclerose, diminuindo, assim, o risco de infarto e derrame.
Tá, tudo bem, mas, se eu comer tudo isso de chocolate, eu não vou engordar? Acho que você está se perguntando isso. Bem… Taí outra surpresa. Um artigo publicado no Archives of Internal Medicine, realizado na Universidade de California, em San Diego (CA), mostrou que pessoas que comiam mais chocolate eram mais magras. Os participantes tinham, em média, sobrepeso, 57 anos, exercitavam-se ao redor de 3 vezes por semana e não tinham problemas de colesterol ou cardiovasculares.
Neste caso, entretanto, o que importou tanto não foi a quantidade, mas a frequência: quanto mais frequentemente as pessoas comiam chocolate, sem importar a quantidade, menor o seu peso. A comparação foi feita entre os que consumiam ao redor de três vezes por semana, e os que consumiam apenas raramente.
E, se isso não foi o suficiente, um estudo publicado há pouco no Nutrition, pela Dra. Magdalena Cuenca-García, da Universidade de Granada, fez o mesmo com mais de 1400 adolescentes europeus entre 12 e 17 anos. Conclusão: quanto mais chocolate, mais magros.
Parece miraculoso demais para ser verdade, não? As explicações são muitas, mas nenhuma foi conclusiva: se ele acelera o metabolismo, se são os flavonoides, ou se é simplesmente uma maravilha divina que não devemos questionar. Mas os dados estão aí.
Contudo, hombres, antes de vocês irem a um supermercado de atacado e comprarem aquela barra de meio quilo de chocolate, eu devo avisar: o chocolate europeu é bem diferente do nosso – tanto em qualidade, como em composição. Como todos os estudos foram feitos na Europa, o que podemos dizer é que chocolate europeu faz todas estas maravilhas. Resta-nos estudar isto no Brasil e, mais especificamente, definir qual tipo de chocolate é melhor.
O que fica, então? Aquela boa e velha recomendação dos médicos: 25 gramas por dia de chocolate amargo. Mas é bom saber que estamos indo para o caminho certo. Acho que vou até pegar um bombom…
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