Pare! Não é preciso se matar de fazer abdominal no final do treino

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Ao considerar o treino abdominal, as pessoas geralmente pensam: “Quantas séries e repetições de abdominal reto terei que fazer?”. Mas esse pensamento está longe de oferecer um treino efetivo para a região.

Já comentei sobre a importância de considerar todas as 3 “funções” abdominais na hora de planejar o treino, a saber: flexão, rotação e estabilização do tronco.

Mas hoje não vamos pensar no trabalho abdominal sob a perspectiva dos exercícios focados para esse objetivo – mas a abordagem será a partir de outros movimentos que você realiza no treino. (Se quiser textos específicos sobre exercícios de abdominal, dê uma vasculhada aqui.)

Esse post é inspirado em um artigo realizado por um amigo meu, o professor Ms. Jarbas, no qual ele compara o abdominal rodinha com o pullover. Se o movimento é o mesmo, por que a ativação muscular seria tão diferente a ponto de um ser indicado para “peitoral/costas” e o outro para “abdômen”?

O nosso corpo foi feito para trabalhar em conjunto e da maneira mais econômica possível. Ou seja, por mais que a gente queira/tente focar o trabalho em alguma musculatura específica, as demais musculaturas daquela “cadeia” serão trabalhadas também. Se você fizer agachamento, por exemplo, o abdômen será acionado para realizar a estabilização do tronco e dar mais segurança e eficiência ao exercício.

Por isso é importante considerar todos os movimentos do treino e refletir sobre qual o tipo de estímulo que eles fornecem “indiretamente” à musculatura abdominal.

A ação muscular da região abdominal pode ser ativada tanto para fazer o movimento (flexão ou rotação), quanto para impedir que ele ocorra (estabilização). De forma geral, todos os exercícios exigem a função de estabilização do tronco, que se dá pela contração do core (quadrado lombar e abdômen oblíquo interno). Mas as outras funções também podem ocorrer.

Por exemplo, durante a barra fixa é preciso que as musculaturas que realizam a flexão de tronco (reto abdominal e oblíquos externos) estejam ativadas para que seu corpo não ceda a uma hiperextensão.

Uma coisa interessante é que é possível observar que existe um “padrão” de acordo com a seguinte ideia:

– Flexão abdominal é mais solicitada em treino de costas.

– Estabilização abdominal é mais solicitada em treino de pernas.

– Rotação abdominal é mais solicitada em treinos de peitoral/costas.

Portanto, na hora de planejar os exercícios específicos de abdominal que farão parte da sua rotina de treinamento, você deve levar em consideração todos os outros exercícios realizados naquele dia. Assim é possível pensar numa adequação. E então teremos duas situações:

1) Se você quer enfatizar o estímulo de determinada função abdominal, então é possível trabalhar um exercício específico para o abdômen que reforce a função trabalhada nos outros movimentos do treino.

2) Dependendo do seu nível de treinamento, essa escolha pode ser contra producente.

Vamos dar um exemplo de um treino de costas e como considerar o trabalho de abdômen que viria depois para dois níveis de treinamento diferente.

– Barra fixa
– Pullover
– Pulldown

Para uma pessoa iniciante, não é preciso movimentos específicos que estimulem a flexão abdominal após esse trabalho de costas, pois o estímulo indireto para a função de flexão do abdômen já foi realizado em intensidade interessante. Para o treino específico do abdômen, poderia se considerar exercícios que estimulem outra função abdominal ou então ficar apenas nesse treinamento indireto mesmo.

Agora, para uma pessoa em nível avançado é provável que seja necessário mais estímulos, pois seu corpo exige mais trabalho para uma mesma musculatura. Nesse caso, poderia ser interessante incluir um abdominal reto após o trabalho de costas.

Há algum tempo escrevi um texto que está muito relacionado ao que exponho nesse post: “Num treino ideal você não precisaria fazer abdominais”. Lá eu também dou algumas dicas de bons exercícios abdominais para adotar no treinamento. Talvez possa ser útil.

Lembrando que o mesmo raciocínio exposto até agora vale para o abdômen: todas as musculaturas dessa região são ativadas em cada uma das 3 funções. No entanto, cada função ativa uma musculatura principal, a saber:

Flexão: reto do abdômen.

Rotação: oblíquos externos.

Estabilização: oblíquos internos e quadrado lombar.

Agora vamos separar uma lista dos exercícios mais comuns que realizamos na academia e sua ativação e intensidade de ativação em relação à “função” abdominal. Assim você pode, considerando o seu nível de treinamento, calcular se é preciso ou não realizar trabalhos específicos para essa região no final do treino.

Nessa lista vamos distribuir cada exercício por musculatura e consideraremos a forma mais tradicional de execução – o que quer dizer que se você alterar a execução pode alterar a ativação. Caso tenha algum exercício que não foi listado e você queira saber, nos informe nos comentários.

COSTAS

Remada serrote > rotação > forte ativação

Remada curvada; remada no cabo > flexão e estabilização > forte ativação

Puxada aberta-supinada; barra fixa > flexão > forte ativação

Pulldown > flexão > forte ativação

PEITORAL

Crossover > flexão > forte ativação

Flexão de braço > estabilização > média ativação

Supino reto; supino inclinado; supino declinado; crucifixos > flexão > fraca ativação

OMBROS

Elevação frontal; elevação lateral; desenvolvimento; remada alta > estabilização > média ativação

TRÍCEPS

Tríceps testa; tríceps francês; tríceps na corda > flexão > média ativação

Paralelas > estabilização > fraca ativação

BÍCEPS

Rosca direta; rosca martelo; rosca no cabo > estabilização > fraca ativação

PERNAS

Terra > estabilização e flexão > forte ativação

Agachamento > estabilização > forte ativação

Afundo > rotação e estabilização > forte ativação
Legpress > estabilização > média ativação

Cadeira extensora; cadeira flexora > flexão > forte ativação

Ricardo Wesley

O educador físico Ricardo Wesley trabalha há 10 anos com treinamento físico. Ele é especialista em Fisiologia do Exercício; tem MBA em Gestão & Estratégia Empresarial; é mestre em Ciências da Reabilitação e doutorando em Imunologia.

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