Entra ano, termina temporada e a discussão é a mesma: lá vamos nós, mais uma vez, argumentar, defender ou criticar a fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro. Pontos corridos ou mata-mata? Qual é mais interessante e por qual motivo?
Quantas vezes, desde 2003 (ano da implementação da fórmula atual), você, torcedor, não ouviu estas indagações?
Aqui estamos outra vez. Quem trouxe à tona desta vez o novo velho debate foi o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior. Ele tenta criar um grupo com outros clubes (o Santos se mostrou favorável) para fazer força na CBF com o intuito de mudar a fórmula de disputa.
Por enquanto trata-se apenas uma vontade, sem solidificação.
Vale lembrar que você, caro leitor, em recente pesquisa no site, deu a sua opinião sobre o assunto e como resultado 62% dos hombres disseram que são a favor da volta do mata-mata.
São muitos os argumentos de quem deseja ver de volta a fórmula passada, apelidada de “campeonato da emoção” por conta do número grande de jogos eliminatórios.
Antecipo-me: sou favorável à continuidade dos pontos corridos. E vou além: existe lugar para os dois. Explicar-me-ei.
Abro esta discussão com um número animador para os apaixonados pela fórmula passada. O campeonato mata-mata, na média, levava mais torcedores aos estádios em comparação ao torneio disputado por pontos corridos.
De 1971 até 2002 (32 edições) a média de torcedores do mata-mata foi de 16.759, enquanto desde 2003, na era dos pontos corridos, a média é de 14.210. (Veja no fim do texto uma tabela com os números ano após ano.)
Outro ponto levantado para enaltecer o mata-mata é a comparação com a estrutura da NBA e de outras modalidades esportivas americanas, como a MLB (beisebol) e a NFL (futebol americano). São todas empolgantes, lucrativas e fazem muito sucesso com o público. (Até mesmo o soccer, que na terra do Tio Sam atrai mais gente aos estádios do que no país do futebol – o nosso.)
Mas vale lembrar que esses torneios duram de sete a oito meses (e não o ano inteiro) e são as únicas competições disputadas pelas modalidades em uma temporada. Ou seja, os times de futebol americano, por exemplo, não disputam outro campeonato além da NFL.
Isso, a meu ver, é inviável culturalmente ao Brasil, sobretudo, para o principal torneio do país. Seria necessário alterar toda a estrutura política do futebol nacional (o que sabemos ser necessário) para tal mudança emplacar e tornar-se sólida.
Eu, por ora, confio na tese de que o atual formato é mais equilibrado tecnicamente e, sim, também empolgante. Mais que isso: dá a mesma igualdade de jogos a todos os participantes, criando, portanto, a mesma condição de arrecadação de bilheteria aos envolvidos e também o maior número de transmissões de partidas aos times menores em televisões locais, o que gera maior receita.
No passado, a fórmula de mata-mata era disputada em apenas um turno e depois iniciava-se os playoffs.
Então, pense comigo. Se um clube como Chapecoense ou Joinville (dois de Santa Catarina, estado com quatro participantes em 2015) não conseguir uma classificação para a fase do mata-mata, ele terá jogado apenas 19 partidas no Brasileirão, ficando o resto do ano esquecido pela grande mídia – sem possibilidade, por tal, de um patrocínio mais rentável.
Pior. Como o mando nesse tipo de campeonato é determinado por sorteio, corre o risco não enfrentar clubes como Flamengo ou Corinthians em seu estádio – jogos com maiores receitas de bilheteria.
Então, como presidente de algum destes clubes, você investiria pesado na contratação de um bom time? Ruim financeiramente para alguns e bom para outros, não? Seria fatiar economicamente o futebol brasileiro e dar ainda mais voz apenas aos grandes. Analise.
Quando falei que podemos viver com campeonato de pontos corridos e mata-mata juntos, refiro-me à Copa do Brasil.
O que entendo que é preciso fazer é valorizar ainda mais o torneio e dar ainda mais tempo a ele. Este sim é o campeonato ideal para a fórmula eliminatória. Mas, por vezes, foi deixado de lado pelos clubes em virtude do tratamento que a CBF dá a ele.
Não quero aqui levantar a bandeira do pontos corridos no Brasileirão. Apenas tenho minha opinião, como sei que você, hombre, tem a sua. O que sei também é que viveremos com o fantasma do mata-mata sempre em mente. Assim como acredito que, caso seja alterada a fórmula no futuro, viveremos o fantasma sempre do pontos corridos.
Afinal, o queremos é ver um futebol mais empolgante nos estádios e a ausência disso não é de responsabilidade da fórmula da disputa, mas, sim, da falta de técnica dos jogadores, do número excessivo de jogos e, sobretudo, do péssimo calendário da CBF.