Sim, o título deste texto é polêmico, eu sei. E o que vem pela frente não melhora muito, devo avisar. Mas peço para que o leitor tente se afastar do que aconteceu ontem, no estádio do Mineirão, e veja um pouco além do resultado.
A realidade é que a derrota de ontem não foi uma surpresa – pelo menos não para aqueles que acompanham futebol no seu cotidiano. Sim, o resultado elástico talvez seja o que nos alarme mais. Mas é tudo o que o futebol brasileiro precisava.
A verdade é que não jogamos o melhor futebol do mundo – há muito tempo, aliás. Desde os anos 90, nossa seleção conseguiu jogar por vezes um futebol competitivo, mas longe de fazer jus àquele que nos trouxe fama.
E isso se deve à falta de cuidado que a direção do futebol brasileiro (feita pela CBF) tem com aquilo que deveria ser sua única preocupação. E para isso, basta ver o estado dos times brasileiros e do campeonato local – clubes mal administrados, estádios vazios, violência e jogos ruins.
O Brasil deve olhar mais para fora para mudar o que tem de errado dentro. A CBF é uma entidade extremamente rica, que poderia investir seus lucros no futebol nacional.
Usarei como exemplo a própria Alemanha.
Ano passado, vi no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, uma entrevista com Paul Breitner, ex-jogador e hoje diretor do Bayern de Munich. Nele, Breitner contou o trabalho feito pela confederação alemã para revigorar o futebol do país depois da derrota na final da Copa de 2002.
Disse que, a partir daquele momento, iniciou-se uma discussão sobre o futuro do futebol nacional. Apesar de sempre competitivo e de ser um dos mais vitoriosos, os dirigentes, analistas e o povo alemão sentiam que a seleção do país jogava um futebol ultrapassado.
Foi então que começou um trabalho desde as categorias de base para que o futebol alemão fosse mais condizente com o que analistas e dirigentes acreditavam que representava o futebol moderno.
E, desde então, a Alemanha lançou uma geração de talentos como Schweinsteiger, Marco Reus (que foi cortado por contusão), Toni Kroos, Mesut Öezil, Mario Götze e muitos outros. E essa foi a terceira semifinal de Copa do Mundo seguida que o time chegou. E agora venceu.
Enquanto isso, o futebol brasileiro não se renova, ficando numa arrogância de quem pensa que apenas o talento desta “terra abençoada” servirá para jogarmos o melhor futebol do planeta – num discurso, claro, com tons de pseudo-patriotismo.
A única preocupação da Confederação Brasileira é (e sempre foi) fazer dinheiro – e, para isso, ela acredita que a melhor forma de lucrar é vendendo os amistosos do Brasil mundo afora.
Mas agora, considerando o estado que chegamos, é possível que em breve os amistosos do time brasileiro não sejam mais tão valorizados. E aí, a entidade máxima terá que investir esse dinheirão todo que ganhou se quiser que ele volte a se valorizar.
Terá que investir na categoria de base, criando jogadores dentro do que acreditamos que seja o futebol moderno. Terá que investir na formação de treinadores, que estudem o futebol mundial, saibam se renovar e tenham repertório.
Para iniciar a carreira na Europa, por exemplo, é preciso um certificado da UEFA – o que mostra que existe um cuidado e reconhecimento da importância de um treinador com repertório, vide Louis Van Gaal, José Mourinho, Pepe Guardiola, Carlo Ancellotti e muitos outros.
Não é a toa que não temos um técnico de destaque no futebol europeu, e que recorramos a treinadores como Felipão, um profissional que mostrou um profundo desconhecimento do futebol mundial, falta de ideias (já que não conseguiu mudar a forma do time jogar desde o primeiro jogo, quando apresentou os mesmos problemas durante toda a segunda fase) e que, resumidamente, é ultrapassado.
E, já que o assunto é dinheiro, devo dizer que os dirigentes da CBF mostram ser tremendamente ignorantes. Se investissem na criação de uma liga de futebol atraente, que chamasse o público aos estádios, com times e jogadores mais competitivos, teria um produto que poderia render muito dinheiro aos seus cofres – como a Premier League, na Inglaterra, e a NBA, para ficar em dois exemplos.
A derrota de ontem serve para ligar o sinal de alerta. Para a CBF perceber que, se não começar a cuidar do futebol nacional – distribuindo seus lucros entre os clubes, fiscalizando suas administrações, trabalhando na formação de jogadores e treinadores e criando um campeonato local que seja atraente e traga receita para os times – ficaremos cada vez mais atrás de nossos rivais. Enquanto ignoramos nossos problemas e ficamos na soberba, eles só avançam.
Agora é a hora da mudança, do “ou vai, ou racha”. Ou mudamos de vez, ou nos afundamos cada vez mais.
A vitória do Brasil contra a Alemanha, em 2002, fez com que os alemães começassem uma revolução em seu futebol. Que a nossa derrota para eles sirva para darmos início à nossa.
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