O cara que sai pesquisando o tênis mais adequado para seus pés antes de começar a correr é o mesmo que lê o manual do celular antes de começar a usá-lo. São raros. Normalmente as pessoas pegam o primeiro tênis com uma cara mais esportiva que tem no fundo do armário e saem à rua. E então, depois de sofrer alguma lesão, começam a pesquisar sobre o assunto. “Ah, quer dizer que existe tênis certo para cada corredor?” Sim, é mais ou menos isso. E um fator decisivo para a escolha do tênis é a pisada.
Os nossos pés aterrissam e saem do chão com uma mecânica (a tal da pisada) que varia de pessoa para pessoa. Existem, basicamente, três classificações para as pisadas: supinada (sub-pronada), neutra e pronada.
O movimento natural dos membros inferiores ao caminharmos ou corrermos é o de pronação, caracterizado, basicamente, pela rotação para dentro das pernas e pés. O pé aterrissa com a parte externa do calcanhar e conforme a pisada acontece há uma movimentação das articulações no sentido interno. Sabendo disso, vamos às classificações das pisadas:
Pronada: quando o movimento de rotação interno é excessivo (superior a 15º).
Neutra: quando o movimento é natural.
Supinada (sub-pronada): quando o movimento é pequeno demais.
Ou seja, tecnicamente, todos os corredores são pronadores – alguns mais e outros menos.
Ok, e daí?
E daí que o fato do movimento dos membros inferiores acontecer com pouca ou muita rotação interna provavelmente será um problema para o corredor. No caso dos pronadores, o movimento traz instabilidade, força os joelhos e tornozelos e, se realizado com frequência e intensidade, pode causar lesões graves. Já os supinadores forçam a lateral externa dos pés, parte que não tem um bom sistema natural de amortecimento. Sendo assim, para os primeiros os tênis ideais são os que fornecem estabilidade e para os segundos os que oferecem amortecimento.
Uma característica que está muito associada ao tipo de pisada é o formato da planta do pé. Geralmente quem tem o pé chato é pronador e quem tem o pé cavo (com o arco alto) é supinador. Mas isso não é uma regra, já que o que caracteriza a pisada é o movimento do corpo. Por isso, os testes estáticos que revelam o formato da planta do pé não são suficientes para descobrir qual a sua pisada. Analisar o desgaste do tênis muito menos. O teste ideal é o que considera todos esses dados, mas também realiza um processo dinâmico, que observa sua mecânica de corrida e acontece, geralmente, em cima de uma esteira. Vale ressaltar que os corredores pesados (depende da constituição física da pessoa para essa classificação, mas, de modo geral, acima de 90 kg) tendem a pronar mesmo se o teste acusa outro resultado. Nesse caso, vale considerar um tênis mais estruturado e com bom amortecimento.
É importante ressaltar que os tênis não corrigem a pisada (já que ela continua com a mesma mecânica). O que os calçados fazem é dar um suporte para amenizar – ou mesmo neutralizar – o impacto que esses movimentos causam em seu corpo.
Como a pisada não é resultado apenas do formato dos pés – mas também do movimento deles, dos joelhos, da cintura e até da coluna -, os problemas dessa natureza têm origens diversas e precisam ser estudados com detalhes para um diagnóstico confiável. Sendo assim, é possível corrigir as desarmonias dependendo da causa. Musculação e exercícios educativos, por exemplo, podem ser úteis para alinhar nosso modo de correr. A mecânica da pisada é algo complexo e apresentamos aqui nada mais do que um raciocínio básico e pouco desenvolvido. Sugerimos que estenda a pesquisa caso queira saber mais sobre o assunto.
Por fim, é importante saber que a escolha do tênis ideal deve levar em consideração a informação da pisada assim como do objetivo do treinamento: objetivos diferentes pedem calçados diferentes. Se você está iniciando no esporte e quer desenvolver condicionamento, por exemplo, esqueça os tênis minimalistas. Mas isso apenas se você quiser manter sua integridade física.
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