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Por que “Gravidade” é o filme do ano

Apesar dos efeitos espetaculares e da sensação de ter invadido o Google Earth, “Gravidade” é menos ficção científica e mais uma história sobre a luta para sobreviver em condições adversas. Está mais para “127 Horas” ou “Na Natureza Selvagem” do que para “Star Wars”, “2001” ou a porcaria de “Elysium”.

É o filme do ano. É Hollywood em sua melhor forma: entretenimento, uma dose de inteligência, espetáculo de massa, som, fúria e muito dinheiro. Faz bom uso do 3D, também, que desta vez não serve para acobertar lixo. É o filme do ano.

Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) são os únicos sobreviventes de um desastre numa estação espacial. Têm pouco tempo e oxigênio para chegar até outra nave que consiga levá-los de volta à Terra.

Kowalski, uma espécie de Buzz Lightyear, torna-se o anjo da guarda de Ryan, uma cientista que, ficamos sabendo, perdeu a filha de 4 anos num balanço. Ela terá forças para seguir adiante ou vai desistir para, digamos, encontrar a menina?

O diretor Alfonso Cuarón, sabiamente, se concentrou no drama e no suspense ao invés de se apegar a papo furado sobre foguetes ou alienígenas. Os mais chatos encontrarão imprecisões e inverosimilhanças, mas, ei, isso é cinema (aliás, fique ciente de que, se você estiver em órbita, pode usar o extintor de incêndio como jato propulsor. Não tem erro).

Os dois astronautas estão sozinhos no universo, como você. Assim que a comunicação com a Terra é interrompida, Kowalski manda Ryan marcar no cronômetro 90 minutos. É o tempo que os destroços que detonaram sua nave vão levar para fazer a órbita completa e voltar em sua direção. É também quanto dura “Gravidade”.

Uma hora e meia passam voando. Tenso. Além de não ter colocado monstros na tela, há poucas referências a outros filmes de espaço. Ed Harris faz a voz do comando na Terra (o inevitável Houston), o mesmo Harris que estava em “Apollo 13”. Ryan é uma heroína como a Ripley de “Aliens”. Mas nada muito além disso.

Cuarón admitiu ter se inspirado em “Acossado”, o primeiro filme de Spielberg, antes de ele virar o Papai Noel, uma maravilha sobre um homem perseguido por um caminhão, e no sensacional “Corrida Contra o Destino” (cujo protagonista se chamava Kowalski, como o personagem de Clooney).

Com toda a espuma tecnológica que o envolve, “Gravidade” se resume a uma crônica sobre alguém que precisa escolher entre seguir adiante ou jogar a toalha. É a performance da vida de Sandra Bullock. Talvez seja o filme da vida de muita gente, e não apenas durante aqueles 90 minutos.

Kiko Nogueira
Kiko Nogueira
Kiko Nogueira é editor do Diário do Centro do Mundo. Ele foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.