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Por que Jack White é o cara mais rock’n’roll do mundo

Caso você não tenha percebido em meio ao fiasco da Espanha e a glória da Costa Rica na Copa tupiniquim – além de uma porrada de belos jogos e gols –, Jack White está com novo disco solo na praça.

Lançado no último dia 10, Lazaretto foi direto ao topo da Billboard, a tão cobiçada parada musical norte-americana. Fosse um álbum do Maroon 5 ou Miley Cyrus e estaria tudo certo.

Mas estamos falando de Jack White, um cara que vive em um mundo vermelho, branco e preto. Que transforma um caminhão de sorvete em uma loja de discos itinerante, que produz os próprios álbuns, escreve suas próprias músicas e tem a sua própria gravadora.

Um cara que prefere equipamentos analógicos a digitais, que se recusa a ter um telefone celular e que, quanto mais vê um Coldplay colaborando com a Rihanna ou os Rolling Stones cantando com Justin Timberlake, mais pisa fundo no pedal de distorção.

Mesmo assim, lá está ele liderando as paradas, conquistando Grammys (já foram 8 na carreira), estampando capas de revistas e encabeçando os principais festivais de norte a sul do globo.

Vivendo como quer e fazendo o que bem entende, Jack White está no topo do mundo. O que nos leva a seguinte conclusão: ele é o cara mais rock ‘n’ roll do planeta.

Por quê? Dê um scroll e você vai entender.

1# A origem

Jack White nasceu em Detroit, a cidade mais populosa do estado norte-americano do Michigan. E também uma cidade roqueira por natureza – foi lá que surgiram MC5 e Iggy Pop & the Stooges, ainda nos anos 60, bandas que deram origem ao garage rock e inspiraram a sonoridade punk que tomou Nova York e o mundo de assalto na década seguinte.

2# Os mitos

Como qualquer roqueiro que se preze, White vive em torno de mitos (boa parte deles criados por ele mesmo, diga-se). O mais notório é ligado a sua ex-banda, o White Stripes ­– Jack sempre jurou que Meg, sua parceria de grupo, era sua irmã, criando toda uma aura rocker em torno da dupla de irmãos que fazia um blues-rock garageiro. A verdade, porém, é uma só: Meg era sua esposa.

3 # O branco das listras

Um casal de irmãos vestindo branco, vermelho e preto. Tocando com instrumentos brancos, vermelhos e pretos. Em capas de discos brancas, vermelhas e pretas. E fazendo um garage rock com ares de blues como se não houvesse amanhã. Não há outra forma de descrever o White Stripes se não como um dos grupos mais emblemáticos da última década.

Some a isso os 3 Grammys conquistados, hits avalassadores como “Seven Nation Army”, a fidelidade ao modelo old school de gravação (eles só gravavam em sistemas analógicos, o famoso “rolo”) e o fato de eles não serem irmãos e não restarão dúvidas.

4# Os supergrupos

Não bastasse ter sido a cabeça pensante por trás de uma das bandas mais cultuadas dos anos 2000, Jack White ainda criou os seus supergrupos. Após o fim do White Stripes, formou o The Raconteurs com o (ótimo) compositor e amigo Brendan Benson e o The Dead Weather com o guitarrista do Queens of the Stone Age, Dean Fertita, e a musa indieAlisonMosshart, do The Kills.

5 # O Amigo “soldador” Bob Dylan

Jack White disse certa vez que tem três pais: seu pai biológico, Deus e Bob Dylan. O primeiro show que viu na vida, aliás, foi de Dylan – segundo Jack, ele tinha o assento de número 666. Pois Dylan virou amigo. Ou melhor, muito mais do que isso, ensinou Jack a soldar.

“Eu nunca tinha feito isso antes, e ele vem fazendo há anos, então me deu as direções”, diz White. “Certo dia, estávamos os dois sentados na varanda da minha casa, curtindo a vista, quando Dylan virou e disse: ‘Sabe, Jack, nós poderíamos fazer algo a respeito daquele portão’. Isso seria muito legal, respondi rindo.”

6# O documentário

Quantos artistas já gravaram um filme com Jimmy Page? Bem, Jack White pode dizer que é este cara. No documentário It Might Get Loud, Jack divide as telas com o lendário guitarrista do Led Zeppelin mostrando como diferentes gerações de músicos encaram o rock e suas guitarras. Ainda não assistiu? Esquece a Copa e bom filme. Ah, o guitarrista do U2, The Edge, também está no doc. Mas deixa isso pra lá…

7# A banda de homens x a banda de mulheres

Em 2012, quando lançou o seu primeiro álbum solo, Jack White veio com essa para a turnê de Blunderbuss: criou duas bandas, uma só de mulheres e outra só de homens. Os Los Buzzardose e as Peacocks.

As duas saíram juntas na tour que girou o mundo, mas apenas uma delas subia ao palco a cada noite. E o detalhe: Jack só avisava os músicos no dia do show. Por quê? Não queria troca entre elas, que uma banda ouvisse a outra ou que ensaiassem juntos. A ideia era que cada grupo evoluísse individualmente.

8# Um divórcio com estilo

A quantas festas de divórcio você já foi? Pois Jack White e a esposa top-model Karen Elson celebraram o seu sexto aniversário de casório de uma forma um tanto diferente: com uma enorme festa e o divórcio. No programa, dança, drinks e uma noita de diversão com os amigos.

Só mesmo Jack para fazer de uma separação uma festa inesquecível…

9# O “não” a monogamia

Jack não acredita em monogamia. Ponto. “Eu sempre achei ridículo dizer, de qualquer mulher, ‘você é minha esposa, ou você é minha amiga ou colega de trabalho’. Essa é a sua caixa”, justifica o músico. “Monogamia? Eu larguei de mão há muito, muito tempo. Essas regras não se aplicam mais.”

10# A fidelidade ao rock

Como todo bom roqueiro White tem os seus princípios e por eles luta até o fim, nem que para isso seja preciso trombar uma vez ou outra. É, definitivamente, fiel a sua visão.

Um dos exemplos mais emblemáticos é de quando o White Stripes estava prestes a assinar o seu primeiro contrato com uma gravadora. Mas o acordo caiu por terra pois os executivos da Bobsled Records insistiram em ter o seu logo verde estampando o disco. “Vermelho, branco e preto era uma parte sagrada do que Meg e eu estávamos fazendo. Se uma gravadora não entende isso, significa que haveria uma série de outras coisas que eles não entenderiam no futuro”, argumentou o músico.

11 # O Império Third Man

Um caminhão de sorvetes transformado em loja itinerante de discos. Já pensou? Pois a Rolling Record Store é apenas uma faceta da Third Man Records, a gravadora fundada por Jack White.

Localizada em um imenso galpão na área industrial de Nashville, entre um abrigo para sem teto e trilhos de trem, a sede da Third Man tem o escritório, uma loja de vinis, um palco para shows, um estúdio de gravação e um lounge para festas. “O pacote completo”, brinca Jack.

É com a Third Man que ele lança seus álbuns solo, os discos do Raconteurs e Dead Weather, e produz artistas tão diversos quanto Loretta Lynn e Tom Jones. Ah, e o detalhe: tudo em vinil.

12# A paixão pelo vinil

United Record Pressing é a maior fábrica de vinis dos EUA. E Jack White (ou a sua Third Man Records) é seu terceiro maior cliente. Tamanha é a paixão pela coisa que Jack virou uma espécie de Willy Wonka da indústria da música.

O primeiro bolachão que White prensou na United foi do White Stripes, em 1998. Hoje, ele pode dizer que já criou vinis que brilham no escuro, outros que você quebra e “encontra” um pequeno disco escondido dentro do vinil principal e até aquele que combina versões acústicas e elétricas das mesmas músicas, criado para o seu novo álbum solo, Lazaretto.

Não por acaso, o slogan da Third Man é: “Your Turntable’s Not Dead” (A Sua Vitrola Não Está Morta).

“Vendo o vinil rodar, você tem um senso mecânico real da música sendo reproduzida. Eu acredito que há um romantismo ali”, define o cara.

13# O “não” a tecnologia

Jack White não tem celular. Conan O’Brien, famoso apresentador de TV norte-americano e amigo de Jack diz que ele ocasionalmente manda um email dizendo que gostou de uma ou outra piada. E não passa muito disso. “Essa geração é tão morta”, comenta o músico. “Você pergunta a um adolescente, ‘o que você vai fazer no sábado?’ e ele diz que vai estar jogando videogame ou assistindo a televisão, ao invés de estar montando aviões ou fazendo algo criativo.”

Quando o assunto é música, White leva a questão ainda mais a sério: ele só grava em sistemas analógicos, edita as fitas com navalha e diz que usar programas como Pro Tools é trapacear. “É como se eu só conseguisse ficar orgulhoso do trabalho se passar por algum tipo de luta”, define.

14# O disco no espaço

O cara já deixou transparecer em entrevistas que é aficionado pelo universo para além da Terra. Certa vez, chegou a se entusiasmar falando sobre o fato de o homem já ter pisado na Lua. A empolgação é tanta que White guarda o seguinte plano: quer ser o responsável pelo primeiro disco a ser tocado no espaço.

“Nós temos um projeto secreto na Third Man, que é o de ter o primeiro álbum de vinil a ser tocado no espaço. Queremos lançar um balão carregando uma vitrola e descobrir uma maneira de fazer a agulha tocar em meio a toda aquela turbulência.” Então tá, Jack.

15# O hino futebolístico

Já reparou qual a música mais entoada em clássicos de futebol ao redor do mundo? “Seven Nation Army” foi o hino não oficial da Itália na Copa de 2006, é tocada na Alemanha a cada gol do Bayern de Munique e chegou a ser o canto dos torcedores do Manchester United para o centroavante Van Persie.

“Seven Nation Army” deu a Jack White um Grammy, levou o cara ao topo das paradas no mundo inteiro em 2003 e foi eleita por revistas conceituadas como Rolling Stone, Q e NME a melhor música da década (2000-2010). Ela vem sendo cantada, inclusive, durante alguns jogos dessa Copa pelo Brasil.

Em outras palavras, Jack White fez o futebol virar roqueiro.

Tomás Bello
Tomás Bello
Jornalista de cultura pop, comanda o estúdio de branded content Oui Oui e escreve sobre música para o El Hombre. Foi editor da revista Noize e apresentador nas rádios Oi FM, Ipanema FM e 95bFM. Já entrevistou uma porrada de gente grande da música pop, entre eles The Black Keys, Justice, Queens of the Stone Age e The xx. Acredita que a música é a cura para todo mal.