Conhecer lugares está no topo da lista dos afazeres de lazer de praticamente qualquer pessoa. Sempre que há um período de férias e um dinheirinho sobrando, é natural reservarmos uma passagem e nos jogarmos em outras culturas. Difícil conhecer alguém que não goste de explorar novos destinos.
Agora, imagine se você puder fazer isso de bicicleta.
Juntar algo que sempre foi (e sempre será) um dos grandes prazeres do ser humano – o turismo – a uma das práticas esportivas mais valorizadas na atualidade – o ciclismo – é certeza de sucesso.
Pois foi o que fizeram os irmãos André e Daniel Moral há 1 ano e 9 meses ao iniciarem o projeto Bike Tour SP.
Tudo começou numa viagem que André fez a Espanha há 16 anos. Lá ele conheceu o sistema “audiotour”, que dava, por meio de um aparelho de áudio, informações sobre as peças dos museus. Então André, como um bom arquiteto, teve a ideia de usar o “auditour” para apresentar a arquitetura de sua cidade São Paulo a quem quisesse conhecer.
Mas havia um grande diferencial nesse projeto: a bicicleta.
Em vez de caminhar pela cidade ouvindo notícias históricas das construções, as pessoas iriam pedalar.
Fantástico e visionário, afinal, há 16 anos a bicicleta não tinha o status que tem hoje na capital paulista.
O PROJETO
Hoje o Bike Tour SP funciona com 4 rotas na cidade em que nasceu: Faria Lima, Parque Ibirapuera, Paulista e Centro Histórico. Em cada uma dessas rotas as pessoas vão passando por pontos históricos e importantes da cidade ouvindo uma narração em cada uma das paradas – em português ou em inglês, você escolhe.
“Mas eu não tenho bike”, pode ser sua preocupação. Fique tranquilo, o projeto oferece a bike. E não apenas isso, mas também aparelho de áudio, capacete, colete, álcool para esterilizar o fone de ouvido e toca para colocar na cabeça antes do capacete.
O projeto já evoluiu muito desde seu início. No começo cerca de 40 pessoas faziam os passeios por mês – agora são 800 “turistas” por mês, e ao todo o Bike Tour SP já mostrou a cidade para mais de 10.000 pessoas. Até por isso eles puderam crescer e oferecer o passeio a mais e mais interessados.
Hoje, na rota da Paulista, existe o “trenzinho”, uma bicicleta adaptada que atende exclusivamente deficientes físicos e idosos. Além disso, na rota do Centro Histórico eles acrescentaram a opção de comunicação em libras, ampliando ainda mais a possibilidade do Bike Tour aos deficientes auditivos.
Em breve o projeto ganhará outros ares. O primeiro objetivo dos irmãos é dar a graça em terras cariocas. “As conversas já estão avançadas e em 17 de maio o Bike Tour estará funcionando no Rio de Janeiro com as rotas da Lagoa e do Centro Histórico”, nos contou André. Além do Rio, mais duas rotas estrearão em SP: Centro Novo e Vila Madalena.
E é claro que nós quisemos saber se eles têm planos de ganhar o mundo. André nos revelou que sim e começarão por Buenos Aires e Nova York, mas ainda não sabem quando.
NOSSA EXPERIÊNCIA
Sabendo do projeto ficamos ávidos por conhecer o trabalho e logo nos inscrevemos. Optamos pela rota do Parque Ibirapuera.
Pedalamos por boa parte do parque, ouvindo informações históricas sobre construções como o Obelisco de São Paulo, o Monumento às Bandeiras, a Oca, o MAM e muitas outras instalações.
Realmente o trabalho todo é muito bem feito. As pedaladas são curtíssimas, o que faz com que a falta de condicionamento não seja um empecilho para participar do Bike Tour.
Na verdade, esse passeio é muito mais turístico do que esportivo. O ritmo é lento, os espaços são curtos e há diversas paradas. É mesmo para todo mundo poder participar.
Mesmo morando em São Paulo desde que nasci e frequentando o Ibirapuera durante toda a vida, o passeio turístico foi interessante para mim. Fiquei imaginando então como seria para um turista. Fantástico!
Ainda assim, André nos revela que o número de turistas é muito menor do que o de paulistanos: “Temos turistas, mas eles são minoria. Dependendo da época o número de turistas aumenta, como na Copa do Mundo. Hoje 95% das pessoas que procuram o Bike Tour SP são paulistanos”.
Isso não demonstra que os turistas não estão interessados no projeto – ao contrário, demonstra o sucesso do Bike Tour. A ideia é tão boa e inovadora que até mesmo os locais se animam a experimentar o passeio, mesmo que já estejam cansados da história daqueles lugares pelo qual passarão. É inovador, é curioso.
E É DE GRAÇA
A desconfiança já deveria estar brotando na sua mente, afinal, quando a esmola é demais o santo desconfia. Mas se há santos – ou ao menos homens bem intencionados – nessa história são os irmãos Moral.
Ao contrário do que muitos imaginam, não se paga nada para fazer o passeio. Zero. A única coisa que pede-se é para levar 2 kg de alimento não perecível que são doados ao NABEM (Núcleo Assistencial Bezerra de Menezes). “Se um dia a gente tiver que cobrar pelo passeio a gente encerra o Bike Tour”, nos disse André.
Ou seja, além de oferecer um baita programa cultural à cidade de São Paulo, eles ainda ajudam pessoas necessitadas sem ganhar nenhum tipo de remuneração financeira para isso. Pelo contrário, os irmãos tiveram que tirar dinheiro do próprio bolso para fazer o projeto funcionar. Eles investiram em materiais como iPods e bicicleta no começo do projeto e com muita raça foram tocando o Bike Tour SP.
Mas de onde surge tanta motivação para fazer as coisas sem remuneração? “Minha motivação é retribuir a São Paulo tudo o que recebo, além de ajudar as famílias carentes. E agora ver um cego, um deficiente físico, uma idosa de 90 anos e um surdo conhecer nossa cidade de bike é muito gratificante”, disse André ao El Hombre.
Ele nos revelou que recebe proposta com frequência para fazer passeios privativos pagos, mas recusa por não fazer parte do objetivo seu e de seu irmão.
Hoje as coisas funcionam com um pouco mais de naturalidade. Apesar de ainda lutarem por recursos que amparem o trabalho, eles já contam com alguns patrocínios, o que dá a possibilidade de ampliarem o projeto como têm feito.
VÁ CONHECER O BIKE TOUR
Se você mora em São Paulo ou está visitando a capital paulista e ainda não conhece o Bike Tour SP, recomendamos fortemente que o faça. Os passeios duram cerca de 1h15 e são muito agradáveis. Além de conhecer a cidade, você pode também conhecer outras pessoas, já que um passeios suporta até 10 ciclistas-turistas, sem contar 2 monitores.
E aqui vale uma ressalva: todos muito simpáticos e atenciosos. O mais impressionante é saber que o que os move é a paixão pelo projeto, já que são todos voluntários.
São ações como essa, onde você não consegue ver outra motivação naqueles que participam que não a de contribuírem com a comunidade, que nos dão esperança. O Bike Tour deveria ganhar o mundo.
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