Por que tantos craques do futsal brasileiro saem do país e jogam naturalizados por outras seleções? Na final da última Eurocopa de Futsal, por exemplo, tinham 13 jogadores brasileiros entre os 28 das duas seleções: Itália, com oito, e Rússia, com cinco.
Com mais apoio brasileiro, não podia dar outra: Itália campeã com vitória por 3 a 1. O curioso é que os quatro gols da partida foram marcados por jogadores nascidos em nossa terra.
O El Hombre conversou com o capitão da seleção da Itália, Gabriel Lima, que é brasileiro naturalizado italiano, para tentar entender por qual motivo isso acontece. “Tem muito problema de política no nosso futsal e tem muito material humano, por isso, muitos saem para conseguir sua vida fora.”
Melhor jogador da Eurocopa e um dos que pintam com a chance de se tornar o melhor do mundo em breve, Gabriel iniciou sua carreira no futsal na cidade de Barueri (GRB) depois passou pelos times do Corinthians, AABB, Aosta C5 (ITA), Marca Trevigiana (ITA), Arzignano (ITA) e Asti (ITA), e atualmente é o capitão da Seleção Italiana de Futsal. Na próxima temporada jogará pelo ElPozo Murcia-ESP.
Confira o bate-papo:
Gabriel, como e por qual motivo você decidiu deixar o Brasil para jogar futsal na Itália?
Quando eu estava com 16 anos o meu treinador de futsal Lino Gomes, que trabalhava comigo desde que eu tinha uns oito anos em Osasco, recebeu a proposta para vir jogar na Itália. Como meu avô é italiano e mora no Brasil, eu já tinha o passaporte se lá e assim o Lino me convidou para ir com ele.
Como foi a decisão de optar por defender as cores da Itália e não do Brasil?
Depois de um ano da minha chegada à Itália ganhamos o campeonato italiano sub 21 e fui convocado para a seleção italiana dessa mesma categoria. E, desde então, fui convocado para todas as partidas passando automaticamente em 2009 para a seleção principal, da qual virei capitão em Janeiro de 2013. Na Itália tive a chance de virar profissional e o país me deu muito em todos os sentidos. Por isso, não tive duvidas de aceitar a chamada da seleção.
A seleção italiana, no último Mundial, teve nada menos que sete jogadores nascidos no Brasil. Como é jogar por uma seleção italiana abrasileirada? O povo de lá sente-se representado por vocês?
Existe sim uma polêmica ao redor desse fato. A política da federação já mudou bastante, pois no penúltimo Mundial a Itália jogou com o time inteiro de brasileiros naturalizados. No último Mundial na Tailândia, que estive presente, já era uma situação diferente. Éramos em 7 e muitos haviam crescidos na Itália. Assim sendo, não vejo tantos problemas. O problema é quando um jogador é convocado após um ano de Itália sem saber a língua ou coisas assim. Desse modo, a situação é bem chata e realmente o povo italiano não se sente representado.
Por que você acredita que o futsal brasileiro perde muitos craques para outras seleções ao redor do mundo?
O Brasil é um país muito grande e oferece inúmeros talentos por geração. Alguns, como no meu caso, saem do país muito cedo por falta de oportunidade e a comissão técnica das seleções não tem uma rede de observação sobre esses jogadores, que no final reforçam as outras seleções.
Você é considerado um dos melhores jogadores do mundo (está entre os dez melhores). Sonha muito em ser o número 1?
Seria hipócrita se dissesse que não. Óbvio que não é fácil e tudo passa pelos resultados de equipe e seleção. As conquistas coletivos são, sem dúvida nenhuma, a coisa mais importante. Mas os prêmios individuais são motivações a mais que me fazem procurar melhorar como jogador a cada dia de treino.
Você acompanhou a aposentadoria de Falcão da Seleção Brasileira? Sem ele, a Itália tem mais chances de conquistar a Copa do Mundo de Futsal de 2016 na Colômbia?
Qualquer time no mundo não seria o mesmo sem o Falcão. Com certeza a ausência dele deixará um vazio. Mas não somente a dele, mas do Ari, do Vinicius, do Neto, entre outros. O Brasil tem muito material humano para repor a altura em nível técnico, mas pode passar por um momento complicado que faz parte de qualquer renovação. Até 2016 tem bastante tempo ainda e creio que o Brasil já esteja se preparando para chegar como favorito mais uma vez.
Nós seremos uma equipe com muitos jovens com bastante bagagem internacional. Desde 2012 já temos o núcleo do time que estará na Colômbia e essa poderá ser a nossa força.
Você foi o destaque da Itália na conquista da última Eurocopa. Qual a sensação de levantar a taça?
A Eurocopa foi minha primeira competição como capitão. Tive uma responsabilidade muito grande que foi além das quatro linhas e tive que ser muito forte pra levantar a moral minha e dos meus companheiros depois da derrota na estreia. Levantar a taça depois de tantas críticas e sacrifícios foi incrível e nunca terei palavras pra expressar a sensação.
Você tem o desejo de algum dia atuar pelo futsal brasileiro?
Tenho sim vontade de jogar a Liga Brasileira, mas mais pra frente. Tenho o sonho também de atuar na Liga Espanhola e espero poder jogar nesses dois campeonatos antes de encerrar minha carreira.
E ficou um gostinho de não atuar pela seleção canarinha?
Sinceramente não fiquei com esse gostinho de não atuar pela seleção brasileira. Como disse antes, aqui me deram a confiança de jogar aos 16 anos pela equipe profissional, coisa que no Brasil não estava muito perto de acontecer. Sou muito grato à Itália e estou totalmente realizado atuando pela Azzurra.