E então o Barcelona, o querido Barça, o amado Barça, o idolatrado Barça, foi eliminado pelo Bayern de Munique. Luto e desespero para boa parte dos milhares de fãs que o time catalão conquistou no Brasil. Nos últimos dois anos, a messimania virou um fenômeno entre torcedores brasileiros e entre a crônica esportiva nacional.
Messi é um gênio. A quantidade de admiradores que ele conquistou por aqui, no entanto, tem raízes na nossa necessidade atávica de nos acharmos menores. Na Globo, Galvão Bueno não parava de torcer para o Barcelona e por seu pequeno craque, embora ele estivesse no banco. Findo o jogo, depois da sucessão clássica de bobagens (“O Bayern é horizontal, o Barcelona é vertical” e por aí vai), Galvão se pôs a falar da lição de “civilidade” dos catalães, que teriam aplaudido os vencedores — e não vaiado ou tentado quebrar a cara deles. Os alemães, aliás, cantaram sem parar, provavelmente cuspindo perdigotos de cerveja morna na cara dos anfitriões.
As imagens mostravam um bando de espanhóis apáticos — ninguém toma de 3 a 0 e fica feliz. Galvão então fez perguntas retóricas aos comentaristas (quem precisa de QUATRO comentaristas?), que imediatamente concordaram com ele (quem não concorda com GB, como Renato Maurício Prado, está fora). “Sim, foi uma lição, Galvão!” Enquanto o autoflagelo prosseguia, com a presença luminosa de um cantor de funk, mudei de canal.
Lição do quê? Por que seria exemplar uma torcida que aplaude uma derrota, além dos mais para alemães? E de onde vem essa fixação pelo Barcelona?
A adoração por Messi e por sua equipe, no Brasil, é um narcisismo às avessas. Não adiantam todas as nossas Copas do Mundo, não adiantam os times incríveis que tivemos, não adianta o Mundial do Corinthians, não adiantam o São Paulo de Telê, o Inter de 75-76, o Flamengo de Zico e Adílio, não adiantam Pelé, Garrincha, Rivelino, Sócrates, Didi etc etc – Messi, o Barcelona e sua torcida inventaram o futebol e nós precisamos aprender com eles.
Não estou falando que concordo com o ufanismo rasteiro ou com quem acha que Neymar é superior a Messi (não é). Só não há por que abraçar de uma maneira tão servil o Barcelona. Nelson Rodrigues falava no nosso complexo de vira-lata, no fato de “não encontrarmos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”. Monteiro Lobato dizia que somos um “tipo imprestável” e que precisamos do “concurso vivificador do sangue de alguma raça original”.
Em todos os canais esportivos, cronistas que adoravam repetir aqueles clichês de que o único jeito de “parar o Barça” era trancar os jogadores no vestiário e coisas do gênero – todos eles, em massa, estavam calados ou com o riso do Alzheimer, como se nunca tivessem dito nada.
E o que será dessa massa se o Barcelona não voltar a repetir, daqui para a frente, suas grandes partidas? E se a melhor fase tiver passado, como pode acontece com todo grande time?
Sei lá. Mas o pessoal precisa prestar atenção numa coisa: torcer para o mesmo time do Galvão sempre será uma roubada.
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