“Não foi bom pra você?”
Eis a pergunta que funciona como um soco, um banho de água com gelo, um desesperador aperto na parede.
Bem, foi bom. Mas não é bom que se queira saber se foi bom – especialmente quando a pergunta provém da insegurança.
Sim, foi bom. Eu só prefiro dormir sozinha. É que eu me espalho demais e não gosto de cheiros estranhos na minha cama. De alguma maneira eu a ocupo inteira. Seria muito cafajeste te pedir pra ir embora agora?
Uma porta fechada e um abismo de paranoias: como assim uma mulher que só quer sexo casual?
Pois é, camarada. Não deve ser fácil crescer em um mundo em que te fazem acreditar que toda mulher dedica sua existência a lhe colocar um bambolê no dedo esquerdo, adora flores e conchinha, e, no auge dos vinte e poucos, encontrar alguém que te peça licença em plena madrugada depois de orgasmos bem aproveitados e gemidos incontidos.
A impressão que eu tenho – enquanto uma dessas mulheres estranhas às projeções da maioria – é que o estranhamento de alguns homens diante de uma mulher que transa casualmente é tamanho que se torna uma questão de honra conquistá-la.
Não para tê-la – longe disso! – mas pela ânsia de provar a si mesmo que você não estava errado. Seu pai não estava errado quando disse que as mulheres são carentes, românticas e emocionalmente dependentes. Seus amigos não estavam errados quando disseram “cuidado, aquela ali é louca!” para todas as mulheres que quiseram qualquer envolvimento fora dos lençóis.
Não é desejo, camarada, é estranheza. É ego. É honra. Porque “como assim uma mulher não quer namorar? Tudo bem que não queira ir pro altar, mas nem um cinema? Nem um filme no domingo? Nem conhecer a minha mãe?”
É difícil admitir, mas, nos próximos anos, será a única escolha viável.
Uma mulher que lhe fecha a porta e só te liga quando tem vontade não é apaixonante – e nem desapaixonante. É só uma mulher que, como você, quer prazer.
Não quer se apaixonar, não quer receber chocolates, nem declarações, nem apelidos, nem jantar com a sogra. Só prazer, como você tantas vezes quis em sua vida.
E se foi isso que os homens talvez sempre esperaram de nós, não tem espanto: porque agora é isso que nós esperamos de nós.
Todos nós queremos prazer. Só falta (a alguns) aceitar.