Nestas últimas semanas, tivemos duas notícias terríveis de acidentes de trânsito: a primeira, sobre uma moça que foi atropelada por um motorista em um Fiat Stilo amarelo. Aparentemente, o motorista estava tirando um racha com outros carros, mas ainda aguardamos os laudos da perícia para definir. A segunda, uma bancária de 19 anos que bateu em uma viga de sustentação na Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, ao que tudo indica, a mais de 170 km/h. Morreu instantaneamente.
O que é este fascínio que o ser humano tem por velocidade?
No começo do século passado, atingir 100km/h era quase inconcebível. Talvez uma locomotiva conseguisse, com máquinas a todo vapor, em uma ladeira congelada, ou algo do gênero. Contudo, as transformações foram tantas ao longo deste século que já batemos a barreira do Mach 3 (ou seja, três vezes a velocidade do som, mais de 3 mil km/h). Carros de corrida encostam nos 400 km/h. E o seu próprio 1.0 pode chegar a duzentos.
Com isso, é muito fácil e muito confortável dirigir. O carro dá uma sensação de poder que quase nenhuma outra coisa dá no mundo: sentado, com uma mão no volante (ou não) e um pedal nos pés, podemos ir mais rápido do que qualquer outro ser vivo no planeta.
O ser humano, até poucos milhares de anos atrás, era um caçador-coletor; nômade ou não, vivia de caçar grandes animais para alimentar sua família. E nada pode dar mais adrenalina do que isso: dormir ao relento, no escuro, com animais perigosos ao redor, envolvido em uma caçada que pode durar dias e culminar na sua morte.
No século XXI, não temos isso. O máximo que precisamos para conseguir comida é pegar o telefone ou abrir a geladeira (ou berrar: “Manhê!”). Desta forma, o ser humano deslocou a sua ânsia por adrenalina para outras coisas: esportes radicais, negócios, sexo – ou, ao que está a mão de muitos brasileiros, o carro.
A “boa” adrenalina, aquela que dá prazer, compartilha os mesmos circuitos que a “má” adrenalina, aquela oriunda do medo: a parte mais basal e central do cérebro, que existe nos animais mais simples. O sucesso da empreitada, por sua vez, libera dopamina (que, não curiosamente, é o precursor da adrenalina), que inunda nosso sistema de prazer.
Como dependentes químicos, alguns são mais, e outros são menos sensíveis a ela; nem todos que fumam maconha vão gostar, e nem todos que andam na montanha russa vão querer voltar. Tudo depende de como o seu corpo reage à adrenalina e ao estresse.
O problema é que, quando isso acontecia no começo do século passado, o máximo que poderiam fazer era esporear mais os cavalos, ou sair em uma briga de bar. Hoje em dia, temos armas perigosíssimas, que podem causar danos não só a nós mesmos, mas a famílias inteiras, com apenas um erro.
A única forma de evitar mais mortes banais como essa é prevenir este circuito vicioso. E o exemplo começa, como sempre, de você.