Todo esporte é feito de ídolos. Quando dizem que o UFC matou o boxe, a razão não está no formato mais violento, que permite chutes e luta no chão. O motivo é simples: os maiores lutadores da atualidade estão hoje no octógono. E não apenas no quesito talento, mas também na audácia. Exemplos? Para ficar num caso bem conhecido por nós brasileiros, Chael Sonnen. Com a sua língua afiada, mesmo sendo um atleta mediano, ele conseguiu promover sua revanche contra Anderson Silva, o maior lutador de MMA da história, num evento de proporções épicas. Tomou uma surra merecida, mas isso não vem ao caso. O ponto é que ele despertou emoções no público, fossem elas positivas ou negativas. E é isso o que as pessoas querem ao ver esportes: emoção.
Por isso, o El Hombre apoia a ultrapassagem polêmica de Sebastian Vettel sobre o seu companheiro de equipe, Mark Webber, hoje no GP da Malásia. Se você não acompanhou o caso, eis o que aconteceu: próximo ao fim da corrida, já com a dobradinha da Red Bull praticamente garantida, Vettel encostou em Webber. A escuderia, por precaução, instruiu-o a administrar a situação. Mas não foi o que o alemão fez. Como um Anderson Silva voando no pescoço de Sonnen, ele apertou seu colega australiano até conseguir deixá-lo para trás, numa das ultrapassagens mais emocionantes da Fórmula 1 nos últimos anos.
Webber não ficou feliz. Mostrou o dedo do meio. Reclamou. Xingou. Não olhou no rosto de Vettel no pódio. “Depois da última parada, a equipe nos disse que era para diminuirmos o ritmo, que precisávamos cuidar dos pneus e dos carros para chegar ao fim da corrida inteiros”, disse o ressentido Webber. “Foi o que fiz. O Seb desrespeitou as ordens e tomou suas próprias decisões. Ele terá proteção como sempre. É assim que funciona.”
Supostamente arrependido, Vettel pediu desculpas: “Quero ser honesto e peço desculpas. Assumi um risco muito grande ao ultrapassá-lo e deveria ter me comportado melhor.”
Agora, faz sentido um piloto mais lento reclamar que foi ultrapassado — e um mais veloz pedir desculpas por fazê-lo? Em nome do jogo de equipe? Estupidez. A Fórmula 1 viveu um de seus períodos mais obscuros quando, na época de Schumacher, a então dominante Ferrari fazia de tudo para favorecê-lo. Chegou a pedir para Rubinho, então o seu companheiro de equipe, frear o carro para deixar o alemão vencer. De maneiro mais sutil, a Ferrari vem repetindo a estratégia com Massa e Alonso, nos últimos anos. Por outro lado, a categoria teve os seus dias mais gloriosos quando Senna e Prost digladiaram-se nas temporadas em que correram juntos pela McLaren.
É indiscutível que o melhor carro da Fórmula 1, atualmente e nos últimos 3 anos, é o da Red Bull. Como deixar, então, os dois pilotos mais bem servidos de motor “administrando” as corridas, como pediu a própria escuderia? Se a Fórmula 1 não quer ter o mesmo destino do boxe (aka irrelevância), precisa incentivar aqueles atletas que mais trazem emoção ao esporte — os audaciosos como Sebastian Vettel. Senão, os grids ficarão cheios de Klitschkos. E apostamos que você não conhece este sobrenome, apesar de ser o do atual campeão mundial dos peso-pesado.
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