Lembro que X-Men era um de meus desenhos favoritos quando criança. Pouco me recordo de cenas específicas, mas a música de abertura jamais saiu da minha cabeça. Talvez eu nem identificasse os heróis como mutantes ainda, mas aquilo me fascinava – e, 20 anos depois, continua me fascinando.
Como nunca fui de ler quadrinhos, aquele foi meu único contato real com a criação de Stan Lee e Jack Kirby durante a minha infância. Da mesma forma, foi para tantas outras crianças e adolescentes pelo mundo.
Por mais que alguns daqueles poderes soassem exagerados, totalmente absurdos, ou até infantis, eles serviam muito bem ao propósito de contar uma história de ação com um forte subtexto sobre discriminação e intolerância.
Eis que, em 2000, a saga dos mutantes chegou aos cinemas, com tudo o que tinha de melhor, com X-Men.
O primeiro filme da franquia foi decisivo para super-heróis em Hollywood. Bryan Singer, com o roteirista David Hayter, conseguiu levar aquele universo tão rico em personagens e metáforas aos cinemas de forma excepcional. Até decisões mais simples como ignorar os tão famosos uniformes coloridos e a escalação do desconhecido Hugh Jackman ajudaram muito.
Em quase 40 anos de histórias e personagens dos mais variados, era um desafio grande dar carne e osso àquele mundo. Mas a produção foi um sucesso e já estipulou todas as marcas que acompanhariam a franquia, como a ação bastante inteligente, a complexa relação entre personagens, o humor e, claro, a sátira social.
Depois de 14 anos, duas continuações, dois spin-offs, um prequel e mais de dois bilhões de dólares em bilheterias, chegamos a X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past).
A aventura é, grosso modo, um X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class) com viagem no tempo e com Wolverine. Curiosamente, Primeira Classe já era, ao lado de X-Men 2 (X2: X-Men United), o filme mais bem avaliado da saga, mesmo sem contar com a presença do mutante canadense, o queridinho do público. Logo, some sua presença e uma viagem no tempo (uma espécie de fetiche para tantos cinéfilos, e temos a melhor obra da franquia, quase unanimemente.
Porém, Dias de um Futuro Esquecido herdou também os problemas da produção anterior (na cronologia dos heróis) e ainda os acentuou.
Primeira Classe é o capítulo que mais se aprofunda na construção de personagens, principalmente com a tridimensional relação entre Xavier, Magneto e Mística. Seu único problema, talvez, é que ele não se decide se é um prequel (contando uma parte anterior à já contada em outros filmes) ou um reboot (esquecendo-se dos outros filmes e começando o universo do zero).
Poder-se-ia dizer que é claramente o passado dos personagens que já conhecemos, considerando-se os atores que fazem participações especiais. Mas tem informações que não batem entre ele e a trilogia original, como o forte passado entre o professor e a mutante azul, totalmente ignorado nos primeiros filmes.
E Dias de um Futuro Esquecido acaba com qualquer possibilidade de ter sido tudo um reboot ao juntar as duas histórias com seus respectivos atores. Ou seja, os furos eram realmente furos. E alguns podem dizer que o recurso dos universos paralelos daria margem para explicá-los, mas seria uma saída fácil demais e sem sentido.
De qualquer jeito, esse é apenas um pecadilho.
O fato é que esse último filme tem praticamente todas as qualidades do anterior e ainda mais. Como o Primeira Classe:
Mas o novo X-Men ainda vai além. Acrescenta um excelente humor natural, principalmente por meio das figuras de Wolverine e de Mercúrio – este último, por sinal, rouba todas as cenas em que aparece e protagoniza um dos momentos mais marcantes de toda a franquia. Inclui a viagem no tempo, um recurso quase sempre tão interessante quanto perigoso (e, no caso, não acho que se saiu tão bem assim no conceito, mas foi válido). Conta com a presença de diversos mutantes queridos, inclusive algumas participações especiais de arrancar sorriso de qualquer fã. Além de ter uma ameaça nunca antes vista na série cinematográfica: os sentinelas.
Resumindo, Dias de um Futuro Esquecido é como se fosse uma junção de tudo de bom que a franquia já produziu. E não estamos falando de uma franquia qualquer, mas talvez a mais profunda e mais complexa franquia de super-heróis já feita. E sabemos que tudo isso coloca ainda mais expectativa nos próximos filmes da série.
X-Men: Apocalypse chega em 2016, contando com Fera, Mística, Wolverine, Xavier e Magneto nos anos 80, além de Gambit. E, embora seja difícil acreditar que possa ser um filme ainda melhor, os X-Men já nos surpreenderam o suficiente para não mais duvidarmos deles. Parece que os mutantes estão sempre em constante evolução. A única coisa que não muda é a música na minha cabeça, ao pensar neles.
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