Profissão Poker #4: professores das cartas

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— ESTE POST É PARTE DA SÉRIE ESPECIAL “PROFISSÃO POKER” QUE O EL HOMBRE ESTÁ FAZENDO. LEIA AQUI AS PARTES 1, 23 e 5. —

Se você, caro leitor, um dia pensou em jogar poker profissionalmente — e achou que a vida seria fácil — é ãelhor pensar de novo. Os jogadores destinam um volume altíssimo de tempo ao estudo. Faz parte da rotina deles consumir informação teórica, rever suas mãos e analisar seus torneios durante horas, numa busca insaciável por encontrar a melhor ação para cada situação que vivem na mesa. Por isso a procura por cursos, aulas online e coach particular tem sido cada vez maior nos últimos anos. Bati um papo com Leonardo Bueno e Hugo Marcelo, instrutores do Akkari Team, para entender como vivem os professores das cartas:

LEONARDO BUENO, 29 ANOS: Enquanto a maioria dos jogadores profissionais se especializa em torneios, Leonardo Bueno seguiu um caminho diferente: o cash game, modalidade em que se apostam valores reais na mesa. Enquanto num torneio você paga, por exemplo, R$ 100 para se inscrever, recebe 5 mil fichas e vai jogando até vencer ou ser eliminado, no cash game você vai apostando dinheiro a cada mão.

Bueno conheceu o esporte cedo, aos 6 anos, quando seu pai o ensinou a jogar poker fechado. Mas foi só na época da faculdade, aos 19 anos, que descobriu o Texas Hold’em. “Eu fazia faculdade de Direito na USP e achava o curso chato”, diz. “Aí conheci o Circuito Paulista de Hold’em.” No mês seguinte, Bueno sofreu uma grande perda pessoal: seu pai faleceu. Ele acabou imergindo no poker online para esquecer os problemas. Mas seus resultados foram tão bons que percebeu o potencial de viver das cartas.

“Um ano depois, tive que tomar uma decisão”, conta. “Me dedicar à faculdade ou ao poker.” Ele escolheu o segundo. Uma das motivações é que, assim, poderia ficar mais próximo da sua mãe. Bueno até acabou voltando à faculdade no futuro e se formou, mas não com intenções reais de advogar e, sim, como uma espécie de hobbie acadêmico.

Durante 7 anos ele jogou cash game profissionalmente, porém acabou pegando gosto por outra vertente do poker: ensinar. Ele montou um time, ministrou cursos e deu aulas particulares. “Vi que estava gostando mais de ensinar do que jogar”, diz. “Além disso, o cash é muito estressante, porque nos valores em que eu jogava a competição era alta demais.”

Bueno decidiu, então, se dedicar à didática das cartas. “O prazer em ver seus alunos ganhando é muito grande”, conta. Para ser instrutor, ele teve que se especializar também em torneios, porque a procura nessa área é maior. Isso abriu outra possibilidade para ele: ser comentarista televisivo na TV Poker Pro, ESPN e Band Sports.

Como diretor técnico do Akkari Team, onde é sócio, Bueno cuida da estruturação do curso mensal e do ensino dos jogadores do time — revendo os torneios deles, analisando suas mãos e passando material técnico. Uma vez por semana a equipe se reúne no Skype para estudar junto. Ele também toma conta do CT Super Poker, uma escola online. Se ainda joga? “Sim”, diz. “Mas não como fonte de renda e, sim, para me manter sempre atualizado.”

HUGO MARCELO, 25 ANOS: O poker é um esporte que envolve muita matemática. Para ser vencedor, é indispensável dominar alguns conceitos básicos de estatística, sabendo assim a chance da sua carta — ou do seu adversário — bater na mesa. Não dá para se surpreender, portanto, com o sucesso de Hugo Marcelo no Texas Hold’em. Quando foi introduzido ao esporte pela primeira vez, no final de 2011, ele estudava Estatística na faculdade e trabalhava no IBGE.

“Foi a porta de entrada para mim”, diz. “O própria pessoal da faculdade me incentivava a jogar.” O profissionalismo veio rápido. Depois de poucos meses de poker online, ele cravou um torneio freeroll (cuja inscrição é gratuita) contra 24 mil jogadores e faturou US$ 300. “Vi que dava para fazer uma carreira disso, então passei a estudar mais.”

Ele entrou num processo seletivo do Akkari Team com 3,5 mil pessoas para 10 vagas. Foi aprovado e — surpresa — na mesma semana também passou num concurso público. Aí pintou o dilema: escolher a estabilidade da carreira pública ou a emoção do poker? “Senti que o Akkari Team era uma oportunidade única”, conta. “Se eu não a pegasse, poderia me arrepender depois de 10 ou 15 anos, porque concurso público sempre existiriam outros.”

A decisão estava tomada. Ele foi morar com outros jogadores num sítio em Cabreúva onde funcionava, na época, o QG do Akkari Team. Hugo começou como aluno, mas se destacou tanto que virou instrutor com o tempo.

“Quando entrei no time, a gente acordava, trocava ideia sobre os torneios, estudava e depois começava a jogar”, diz. “Depois que a sessão terminava, voltávamos e discutíamos sobre as mãos. Era isso o dia inteiro. Mas quando você gosta muito de alguma coisa, ter uma rotina assim não é um problema. As horas voam.”

Hugo divide hoje seu tempo entre jogar e ensinar poker. Além do Akkari Team, ele também é professor da escola online CT Super Poker e dá coach particular pelo Skype. “A procura é grande, às vezes chega a ter lista de espera. Depois que fui campeão do SCOOP [uma das séries mais importantes do poker online no mundo] passei 1 mês inteiro só dando coach de tantos interessados que apareceram.”

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Não existe almoço grátis, como Akkari repetiu algumas vezes durante o curso. Se ganhar no poker fosse fácil, todo mundo viraria profissional. Assim como em qualquer outra profissão, as pessoas que se destacam nas cartas são as mais esforçadas. O caminho? Estudar, estudar e — quando você já estiver cansado — estudar mais um pouco ainda.

Pedro Nogueira

Fundador e editor-chefe do "El Hombre" e do "Moda Masculina". Adora jogar tênis, ler livros e passear com seus pets.

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