— ESTE POST É PARTE DA SÉRIE ESPECIAL “PROFISSÃO POKER” QUE O EL HOMBRE ESTÁ FAZENDO. LEIA AQUI AS PARTES 1, 2, 3 e 4. —
Lembra tudo que você já viu sobre poker em Hollywood? Esqueça aquilo. A rotina dos jogadores profissionais é completamente diferente. Em primeiro lugar, como nota Akkari, é fundamental jogar online para ter uma renda boa. Assim você consegue disputar um volume alto de torneios, na faixa de 400 ou 500 por mês, para atingir um faturamento sólido.
Isso significa que o poker ao vivo deve ser deixado de lado? Absolutamente não. Como são torneios com inscrições mais caras, vale a pena disputar alguns em busca daquela “cravada” especial, que vai te possibilitar comprar um carro novo à vista ou — quem sabe? — até mesmo um apartamento.
Voltando à internet, os jogadores chegam a entrar em mais de 10 mesas simultâneas, em sessões que ultrapassam 10 horas diárias. Acha que é tudo? Não, senhor. Além disso eles dedicam um bom tempo ao estudo. Às vezes lendo, ou revendo suas mãos, ou fazendo aula, ou vendo vídeos, ou num grupo de discussão pelo Skype para analisar os erros e acertos que cada um cometeu em determinado torneio.
Além de jogar por conta própria, existe hoje a possibilidade de participar de um time como o Akkari Team. Mas o que significa, exatamente, fazer parte de um “time” de poker? Trata-se de uma espécie de patrocínio. O time fornece ensinamento, com aulas regulares, e dinheiro para o jogador disputar torneios online. Depois disso, há uma divisão do faturamento. Em geral fica 70% para o time e 30% para o jogador. Essa porcentagem pode ser renegociado caso o contrato seja renovado.
Que beleza jogar assim, né? Sem investir um real — e aprendendo com alguns dos melhores jogadores do Brasil. Só que para entrar no time, é preciso antes passar por um vestibular, como na faculdade. E ele é igualmente difícil. Um processo seletivo do Akkari Team, na época em que ainda era realizado pelo Skype, chegou a atrair 3,5 mil pessoas para 10 vagas.
Confira um papo que tive com Paulo Naka e Marcus Costa, ambos integrantes do Akkari Team, sobre a vida de um jogador de poker profissional no Brasil. Ao final da conversa, eles dão uma dica fundamental (sobre disciplina) para quem sonha em viver das cartas:
PAULO NAKA, 39 ANOS: O paulista Paulo Naka tem um currículo acadêmico de respeito, capaz de abrir portas em muitas empresas. Formado em Engenharia Mecânica e com doutorado em Engenharia Elétrica, ele trabalhou durante 5 anos na área do petróleo. “Financeiramente era bom”, diz. “Mas a rotina era estressante demais.”
O poker apareceu em sua vida quando tirou um ano sabático. “Comecei a jogar, ler livros e fiz o curso do Akkari em 2013”, conta. “Três meses depois ganhei um torneio que dava 1 mil dólares para o campeão.” O que começou como um hobbie acabou ficando cada vez mais sério — e, no final de 2014, Paulo entrou para o Akkari Team.
“Hoje estou bem mais feliz”, diz. Ele disputa cerca de 500 torneios online por mês, chegando a abrir 12 mesas simultaneamente. Os melhores dias da semana para tirar folga são sexta-feira e sábado, assim se concentrando para a “reta do domingo”, quando os torneios com a maior premiação rolam no PokerStars.
A renda ainda não chegou ao padrão que antigamente a engenharia proporcionava, mas Paulo está batalhando para isso. “Estou estudando bastante para subir de limite [valor da inscrição dos torneios] e aumentar o meu salário”, diz. “Mais do que um jogo de cartas, o poker é um jogo de pessoas. Por isso é preciso se manter atualizado sempre.”
MARCUS COSTA, 27 ANOS: É fácil imaginar um bancário, um executivo, um professor acordando cedinho para trabalhar. Um jogador de poker? Nem tanto. Pois saiba que a sessão de Marcus Costa no PokerStars começa ao raiar do sol, às 7:00. “Eu paro de me registrar nos torneios às 14:00 e normalmente eles terminam umas 18:00”, diz. “Jogo no mínimo 10 horas por dia.”
E falando em bancário, essa era a profissão de Marcus antes de migrar para o poker. Durante um ano inteiro ele levou as duas atividades paralelamente — até mesmo quando já fazia parte do Akkari Team, em 2015. Mas o banco estava limitando sua evolução. Alguns meses atrás, então, decidiu pedir as contas e se focar 100% nas cartas.
“O que paga as contas do dia-a-dia são os torneios com inscrição menor”, diz Marcus, que joga em até 12 mesas ao mesmo tempo. “Mas aqueles com buy-in maior possibilitam um big hit que traz uma tranquilidade para você durante o resto do ano.”
Para um futuro próximo, seu objetivo é jogar mais torneios live no Brasil, além de dar aulas e coach particular. Os planos para 2016 são ambiciosos: viajar a Las Vegas para disputar a World Series of Poker (WSOP), o principal evento do poker mundial, onde nascem as grandes lendas das cartas.
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Perguntei a Marcus e Naka qual era a principal dica que eles dariam a quem está iniciando nessa carreira. Os dois falaram a mesma coisa: controle de bankroll. “Precisa ter a disciplina de jogar nos valores que seu patrimônio permite”, diz Marcus. “E ter a humildade de descer de limite quando não está conseguindo ganhar.” Para Naka, “jogar poker é como abrir uma empresa. A maioria das pessoas quebra por falta de planejamento. Você não pode ter US$ 100 na conta e jogar dois torneios de US$ 50, por exemplo.” Aprendeu?