Eu era um daqueles crentes num mundo do golfe glamoroso, com grandes empresas patrocinando atletas e com quantias generosas de prêmios no Brasil. Estava equivocado.
Encontrei no esporte, porém, uma história inspiradora e uma dura dificuldade para sobreviver com esta “luxuoso” modalidade no país.
“Viver de golfe no Brasil, para quem joga, é complicado”, disse Rogério Bernardo, o Tiger Woods brasileiro, um personagem simpático e dono da história empolgante, ao El Hombre.
“Sem patrocínio, você não consegue jogar o torneio e se manter. No meu caso, que eu não tenho CREF (Registro de Educador Físico) para dar a aula, tenho que viver só de jogo mesmo. Por isso, é mais difícil.”
O apelido do brasileiro, de 35 anos, faz alusão ao melhor golfista do mundo e um dos atletas mais bem remunerados do planeta, Tiger Woods, que recebe aproximadamente R$ 153 milhões por ano.
Mas não tem, evidentemente, nada a ver com sua condição financeira.
Pode ter uma lembrança técnica e de estilo do jogo, entretanto, a grande comparação é por ambos serem negros. “Mas ele é podre de rico e eu luto para sobreviver! (rs)”
“O Tiger e muitos outros ganham milhões. Mas aqui no Brasil, é muito difícil. Na média dá uns 2 ou 3 mil reais por mês. É difícil. Se você não passa o corte classificatório dos torneios, você não ganha nada. Aí é duro. E ainda nós temos muitos gastos com viagens e inscrições”, disse Rogério, que deu o nome do seu filho em homenagem ao astro americano. Ele chama-se Eldrick, a verdadeira alcunha de Tiger Woods.
O sorriso no rosto e a sua simpatia – expressadas do início até o fim da entrevista – são mostras de como o nosso Tiger Woods encarou e venceu as dificuldades que a vida lhe impôs.
Morador até hoje da região humilde de Parelheiros (extremo sul da cidade de São Paulo), num quarto, cozinha e banheiro, Rogério começou no esporte por necessidade. Iniciou, porém, não como praticante: foi caddie (carregador das pesadas bolsas de tacos dos golfistas) para conseguir R$ 20 por dia.
Este árduo trabalho teve início aos 14 anos no Guarapiranga Golf Country Club, perto de sua casa, local que utiliza até hoje para treinar. Foi lá que deu suas primeiras tacadas.
“Toda segunda o clube fecha e os caddies e funcionários podem jogar. Comecei a me destacar. Comecei a ganhar tacos e luvas dos golfistas com quem eu trabalhava.”
Sua boa desenvoltura e qualidade para o esporte lhe renderam inscrições em torneios amadores, bancadas por clientes para os quais carregava as bolsas. “Daí em diante deslanchei. Ganhei muitos torneios. Fui bem demais! (rs)”
Virou líder do ranking amador, o único negro a atingir tal feito. Fez o caminho necessário para se tornar profissional. Fato que aconteceu em 2007, ano em que ainda carregava bolsas, aos 27 anos.
Sua ascensão foi rápida. Terminou 2010 como nono golfista do país. Atualmente é o 13º no ranking brasileiro. Tem hoje o patrocínio do Aeroporto de Guarulhos para viajar para os torneios internacionais e nacionais. Recebe R$ 10 mil por mês, valor utilizado também para pagar suas despesas para disputa de competições, como inscrições e alimentação. “É por isso que sobra pouco, mas pra mim está ótimo.”
Está tão bom que o nosso Tiger Woods acabou de conquistar pela segunda vez em sua carreira uma vaga para disputa do PGA Latino-Americano, considerado a terceira divisão da principal torneio mundial de golfe profissional.
São 18 torneios oficiais e um não-oficial pela região, que lhe renderão pontos para o ranking geral nacional. Pontos também que, dependendo de sua colocação até o meio do ano que vem, pode lhe garantir uma vaga na Olimpíada de 2016.
Será o ápice da carreira do sonhador, batalhador, vencedor e dedicado esportista brasileiro. Será também nós, brasileiros, sendo representados por um profissional que é o símbolo do espírito aguerrido nacional.
“Para jogar golfe no Brasil tem que gostar muito do esporte. Só sei jogar golfe, é o que alimenta meu filho e me tirou de uma condição ruim. Com dedicação e perseverança passamos por cima da dificuldade do dinheiro. E tomara que seja desta forma que eu consiga uma vaga para a Olimpíada também.”
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